Pedro J. Bondaczuk
A violência, em todas as suas formas e matizes, constitui-se numa das realidades mais duras, e no entanto mais presentes, com as quais as pessoas se confrontam no dia-a-dia. Registra-se nos lares, nas ruas das cidades, nas casas de espetáculo, nos campos de futebol, é inspiradora das artes e está presente em todos os atos humanos.
Ela acompanha o pretenso “Homo Sapiens” desde que este tomou consciência da sua existência e do mundo ao seu redor e cresce, na mesma proporção do crescimento populacional. Há momentos em que a violência se torna endêmica e atinge tamanha intensidade, fica tão generalizada, assume tamanhas dimensões, que deixa de sensibilizar até os mais sensíveis.
Cada qual passa a pensar apenas em si, buscando a segurança pessoal a qualquer custo (aliás, lícita), mas propondo, para isso, “soluções” violentas. A medida de civilização, no entanto, quer do indivíduo, quer da sociedade, é o grau de controle desse instinto básico, o tânico (em referência a Tanathos, a mitológica divindade da destruição), que todos possuímos.
Antes de sairmos à conquista do mundo, todos nós nos vemos confrontados com um desafio muito maior. Este é o autoconhecimento, com o conseqüente autodomínio. A cada crime mais chocante que freqüenta as manchetes dos meios de comunicação, ressurge, por exemplo, a pressão generalizada da sociedade para a implantação da pena de morte, como se esta resolvesse alguma coisa.
Contudo, não resolve. Não resolveu o problema da criminalidade em país algum em que existe. E jamais resolverá. Antes de ser solução, é nova complicação. O antídoto da violência não é mais violência, mas passa pela educação, em seu sentido lato.
Estas considerações vêm a propósito de recente conversa em roda de amigos, em que o tema foi levantado. Comentou-se, sobretudo, da necessidade ou não da construção de mais e mais presídios, em detrimento do investimento em novas escolas. Sabe-se que um preso custa à sociedade, em média, três vezes mais do que um aluno.
O que esperar, por exemplo, de indivíduos marginalizados pela sociedade, ferozes, revoltados contra tudo e contra todos, sem sensibilidade, ética ou moral, que perderam a noção do certo e do errado, confinados em jaulas, carregados de revolta, contrariando, inclusive, a natureza doutrinária das penas, que não é a da punição a quem delinqüe, de vingança do Estado contra o infrator, mas de reeducação? Mas hoje a cadeia educa? Só se for para a criminalidade.
Muitas pessoas que cometem pequenas infrações e são encarceradas, como bestas humanas absolutamente irrecuperáveis, saem do cárcere iguais aos que já estavam no cárcere. Ou seja, transformam-se em insensíveis e implacáveis predadores, revoltados com o mundo e com a humanidade, condicionados à perigosa idéia de que a força e a “esperteza” são seus únicos recursos de sobrevivência.
Ficam sem referenciais positivos e confundem violência com coragem, com destemor, com “macheza”. Invariavelmente, cumpridas suas penas, retornam para trás das grades, quando não terminam mortos em confrontos com a polícia ou com outros marginais.
O homem tem a tendência de realizar em sua vida as expectativas que as pessoas que o cercam têm dele. Se esperarem que seja um assaltante contumaz, um estuprador covarde ou um frio e insensível assassino, sem consideração pela integridade física, o patrimônio e a vida alheios, assim será.
Além disso, sofre inegável influência do meio em que convive. Se a sua realidade desde a infância for a violência, crescerá condicionado para ela. Será produto genuíno desse ambiente hostil, distorcido e aberrante. Achará normal, por exemplo, agredir o mais fraco, pois cresceu num lar onde muitas vezes o pai agia dessa maneira em relação a ele, aos irmãos e à mãe.
Apropriar-se de coisas que não lhe pertençam se constituirá em sinônimo de esperteza e não de delito, pois aprendeu, desde pequeno, a “se virar”. Verá no próximo um adversário, um inimigo, uma presa a abater, e não alguém que deva respeitar, amar e ajudar, já que nunca se sentiu respeitado ou amado e não se respeita e nem se gosta.
Isto independe de cultura ou da classe social de que provenha. Claro que as coisas não são tão simples e há muitos e muitos outros fatores em jogo. Vários deles, inclusive, são físicos, como desarranjos hormonais, problemas mentais etc. Mas o meio, a educação e as condições de vida vão determinar seu futuro.
Portanto, a solução verdadeira para a violência não passa pela construção de presídios, de maior ou menor segurança. E nem mesmo pelo endurecimento das leis. Seu caminho é o abandono do egoísmo, o que nos parece absolutamente utópico, principalmente nesta época em que as pessoas se mostram sem referenciais e cuja única ambição é consumir, consumir e consumir.
Valores penosamente construídos através de séculos são levados de roldão, numa permissividade bronca e suicida. A família nunca esteve tão frágil e em perigo quanto agora. E, caso não ocorra uma urgente revolução da racionalidade, os seres humanos tendem, mais cedo ou mais tarde, a se trucidarem, com armas nucleares, ou com as convencionais, ou com facas, ou com paus, ou com unhas e dentes...Lobo vai passar a comer lobo...
A violência, em todas as suas formas e matizes, constitui-se numa das realidades mais duras, e no entanto mais presentes, com as quais as pessoas se confrontam no dia-a-dia. Registra-se nos lares, nas ruas das cidades, nas casas de espetáculo, nos campos de futebol, é inspiradora das artes e está presente em todos os atos humanos.
Ela acompanha o pretenso “Homo Sapiens” desde que este tomou consciência da sua existência e do mundo ao seu redor e cresce, na mesma proporção do crescimento populacional. Há momentos em que a violência se torna endêmica e atinge tamanha intensidade, fica tão generalizada, assume tamanhas dimensões, que deixa de sensibilizar até os mais sensíveis.
Cada qual passa a pensar apenas em si, buscando a segurança pessoal a qualquer custo (aliás, lícita), mas propondo, para isso, “soluções” violentas. A medida de civilização, no entanto, quer do indivíduo, quer da sociedade, é o grau de controle desse instinto básico, o tânico (em referência a Tanathos, a mitológica divindade da destruição), que todos possuímos.
Antes de sairmos à conquista do mundo, todos nós nos vemos confrontados com um desafio muito maior. Este é o autoconhecimento, com o conseqüente autodomínio. A cada crime mais chocante que freqüenta as manchetes dos meios de comunicação, ressurge, por exemplo, a pressão generalizada da sociedade para a implantação da pena de morte, como se esta resolvesse alguma coisa.
Contudo, não resolve. Não resolveu o problema da criminalidade em país algum em que existe. E jamais resolverá. Antes de ser solução, é nova complicação. O antídoto da violência não é mais violência, mas passa pela educação, em seu sentido lato.
Estas considerações vêm a propósito de recente conversa em roda de amigos, em que o tema foi levantado. Comentou-se, sobretudo, da necessidade ou não da construção de mais e mais presídios, em detrimento do investimento em novas escolas. Sabe-se que um preso custa à sociedade, em média, três vezes mais do que um aluno.
O que esperar, por exemplo, de indivíduos marginalizados pela sociedade, ferozes, revoltados contra tudo e contra todos, sem sensibilidade, ética ou moral, que perderam a noção do certo e do errado, confinados em jaulas, carregados de revolta, contrariando, inclusive, a natureza doutrinária das penas, que não é a da punição a quem delinqüe, de vingança do Estado contra o infrator, mas de reeducação? Mas hoje a cadeia educa? Só se for para a criminalidade.
Muitas pessoas que cometem pequenas infrações e são encarceradas, como bestas humanas absolutamente irrecuperáveis, saem do cárcere iguais aos que já estavam no cárcere. Ou seja, transformam-se em insensíveis e implacáveis predadores, revoltados com o mundo e com a humanidade, condicionados à perigosa idéia de que a força e a “esperteza” são seus únicos recursos de sobrevivência.
Ficam sem referenciais positivos e confundem violência com coragem, com destemor, com “macheza”. Invariavelmente, cumpridas suas penas, retornam para trás das grades, quando não terminam mortos em confrontos com a polícia ou com outros marginais.
O homem tem a tendência de realizar em sua vida as expectativas que as pessoas que o cercam têm dele. Se esperarem que seja um assaltante contumaz, um estuprador covarde ou um frio e insensível assassino, sem consideração pela integridade física, o patrimônio e a vida alheios, assim será.
Além disso, sofre inegável influência do meio em que convive. Se a sua realidade desde a infância for a violência, crescerá condicionado para ela. Será produto genuíno desse ambiente hostil, distorcido e aberrante. Achará normal, por exemplo, agredir o mais fraco, pois cresceu num lar onde muitas vezes o pai agia dessa maneira em relação a ele, aos irmãos e à mãe.
Apropriar-se de coisas que não lhe pertençam se constituirá em sinônimo de esperteza e não de delito, pois aprendeu, desde pequeno, a “se virar”. Verá no próximo um adversário, um inimigo, uma presa a abater, e não alguém que deva respeitar, amar e ajudar, já que nunca se sentiu respeitado ou amado e não se respeita e nem se gosta.
Isto independe de cultura ou da classe social de que provenha. Claro que as coisas não são tão simples e há muitos e muitos outros fatores em jogo. Vários deles, inclusive, são físicos, como desarranjos hormonais, problemas mentais etc. Mas o meio, a educação e as condições de vida vão determinar seu futuro.
Portanto, a solução verdadeira para a violência não passa pela construção de presídios, de maior ou menor segurança. E nem mesmo pelo endurecimento das leis. Seu caminho é o abandono do egoísmo, o que nos parece absolutamente utópico, principalmente nesta época em que as pessoas se mostram sem referenciais e cuja única ambição é consumir, consumir e consumir.
Valores penosamente construídos através de séculos são levados de roldão, numa permissividade bronca e suicida. A família nunca esteve tão frágil e em perigo quanto agora. E, caso não ocorra uma urgente revolução da racionalidade, os seres humanos tendem, mais cedo ou mais tarde, a se trucidarem, com armas nucleares, ou com as convencionais, ou com facas, ou com paus, ou com unhas e dentes...Lobo vai passar a comer lobo...
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