Saturday, April 28, 2007

Impregnação


Pedro J. Bondaczuk


Na tarde sonolenta e fria
de inverno, meu pensamento,
agudo, insolente e vagabundo,
vagava na profunda amplidão azul.

Devassava os mistérios do tempo,
apossava-se de interditas lembranças,
revivia os momentos sepultos
sob o peso de toneladas de dias.

Uma canção dissonante, nostálgica,
soava, surdia e vibrava no ar,
exótica, selvagem, incontrolável
como ondas de irresistível tsunami.

Sutilima aura dançava, graciosa,
a lúbrica dança dos sete véus,
no palco dos meus cabelos revoltos:
mágica sensação de vigorosa euforia.

Um perfume adocicado de saudade
fazia-me zombar da atroz solidão.
Acompanhava-me um coro de fantasmas:
cantava hosanas a um imperecível amor.

Você é vida, você é desejo, você é eterna,
na pífia eternidade dos homens,
porquanto sua pele, seu perfume e sua voz
estão, pra sempre, impregnados em meu ser.

(Poema composto em São Caetano do Sul, em 23 de junho de 1964).

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