Monday, April 16, 2007

Agentes e testemunhas


Pedro J. Bondaczuk


O tempo é o maior capital de que dispomos, embora poucos se dêem conta dessa verdade e o desperdicem de maneira tola e insensata, como se tivessem diante de si a eternidade. Desconhecemos sua quantidade e ainda assim gastamos perdulariamente, indevidamente, estupidamente esse precioso e irrecuperável recurso.
Tanto podemos ter à nossa frente um dia, algumas horas, alguns escassos minutos ou segundos, quanto uma centena de anos, ou mais, antes que deixemos a vida e mergulhemos no desconhecido e no mistério. Somos, sobretudo, testemunhas de uma era, aquela em que nos foi dada a chance de viver, sobre a qual (pelo menos teoricamente), reunimos condições de influir e com a qual tudo o que nos diga respeito ser associado.
Cada gesto de amor ou de ódio, cada atitude de solidariedade ou de egoísmo, cada ato de construção ou de destruição, contam muito. Compõem a nossa biografia e justificam (ou não) a nossa trajetória vital. Ninguém veio a este mundo por acaso. Mas nossa finalidade não nos é revelada por ninguém. Compete-nos descobri-la e realizá-la.
Podemos ser lembrados num futuro distante como santos ou como demônios; como sábios ou como tolos ou então ser esquecidos para sempre, como se jamais tivéssemos existido. Isto vai depender, em grande medida, de nós e das circunstâncias que tivermos (que alguns chamam de destino e outros de acaso).
Um texto descomprometido que façamos e divulguemos pode ser decisivo na forma com que passaremos para a história (senão da humanidade, pelo menos da comunidade a que servimos ou somente da nossa família).
Alguns conseguem realizar em vida aquilo a que se propuseram, porque se empenharam, buscaram as oportunidades e as aproveitaram. Outros, limitam-se a sonhar e sequer tentam fazer o mínimo esforço para que seus sonhos se façam concretos e se transformem em atos. Jamais se tornam concretos.
Tudo o que fazem é procurar a mera satisfação dos sentidos, e mesmo assim de forma desregrada e imprudente. Há um outro grupo ainda, que é o daqueles que obtêm a cumplicidade alheia para suas idéias e projetos. E realizam seus propósitos através de terceiros. São os gênios da espécie, os grandes semeadores.
O escritor Paul Valéry observa que "o valor das obras de um homem não está nas obras, mas em seu desenvolvimento pelas mãos dos outros, em outras circunstâncias". São estes que garantem a eternidade da memória. São estes que administram com eficácia e sabedoria seu grande capital, o tempo. São estes que têm participação ativa na vida mesmo após a morte.

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