Friday, January 03, 2014

Empreendimentos do futuro


Pedro J. Bondaczuk


O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em recente relatório divulgado em Genebra, aponta como soluções para o problema do desemprego nos países da América Latina o apoio aos pequenos e médios empresários, ou seja, às pessoas de talento e com capacidade de iniciativa, e a reforma agrária.

Ressalta a carência de capitais na região e no restante do mundo, o que inviabiliza empreendimentos de grande porte, que ocupem farta mão de obra. Até porque, vivemos num período de racionalização de métodos e sistemas de produção, com prioridade para a eficiência e a produtividade.

Muito tempo antes da divulgação desse estudo do PNUD, Peter Drucker já havia chegado a essa conclusão. Havia afirmado que “o futuro tem encontro marcado com as empresas de tamanho médio”. Nós acrescentaríamos: “E também com as microempresas”.

Esse tipo de empreendimento precisa ser cada vez mais incentivado, cabendo ao governo acabar com as barreiras burocráticas, que atrapalham a sua criação e, principalmente, a sua sobrevivência. Se em países do Primeiro Mundo, como a Itália, por exemplo, esta foi a solução encontrada para criar, movimentar e distribuir riquezas, imagine o leitor a importância que isso tem para o Brasil.

Mesmo sem grande estímulo (virtualmente nenhum), as pequenas e médias empresas são responsáveis por quase a metade dos empregos existentes no País. Por tal razão, não é nenhum exagero afirmar que, se por uma dessas catástrofes econômicas, ditadas por atitudes desastradas dos burocratas, todos esses pequenos e médios negócios viessem a falir, simultaneamente, o Estado brasileiro estaria irremediavelmente falido.

A Segunda parte da recomendação do PNUD para a América Latina, a reforma agrária, deveria merecer uma atenção mais cuidadosa da sociedade. O tema entre nós jamais foi tratado com a seriedade e a lucidez que merece. Há uma monstruosa desinformação em torno do assunto.

Durante muito tempo, essa medida importante foi vinculada às ideologias de esquerda. Muitos investiram contra ela, sob a argumentação de que fere o direito de propriedade. Balela. Ninguém jamais defendeu o confisco puro e simples de terra, para distribuir aos que não têm seu pedaço de chão.

A reforma agrária jamais poderia ser vinculada ao comunismo. Nos países comunistas tudo pertence ao Estado. O que existem são fazendas coletivas, que não possuem um dono. O que causa pasmo é o fato de, muitos que seriam os maiores beneficiados com a distribuição racional dos solos produtivos do País, por absoluta desinformação, serem os primeiros a se opor a ela. Claro que a medida, para ser eficaz, deveria ser acompanhada de uma série de providências complementares.

Doar glebas para o indivíduo plantar, sem garantir recursos para o escoamento das safras, para o armazenamento da produção e para a comercialização dos produtos, seria uma estupidez. É indispensável toda uma infra-estrutrura nesses assentamentos, como escolas, assistência médica e orientação técnica, entre outras.

Como fez a Holanda, por exemplo. Ou a Bélgica no pós-guerra. A propósito, a ex-União Soviética, a China e mesmo Cuba jamais procederam a reformas agrárias. Simplesmente, criaram fazendas coletivas, de propriedade do Estado, entregues ao comando de burocratas que, na maioria das vezes, não entendiam coisa alguma de agricultura, embora tivessem a cabeça cheia de dogmas ideológicos.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 3 de agosto de 1993).


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