Empreendimentos do futuro
Pedro J. Bondaczuk
O Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em recente relatório divulgado em
Genebra, aponta como soluções para o problema do desemprego nos países da
América Latina o apoio aos pequenos e médios empresários, ou seja, às pessoas
de talento e com capacidade de iniciativa, e a reforma agrária.
Ressalta
a carência de capitais na região e no restante do mundo, o que inviabiliza
empreendimentos de grande porte, que ocupem farta mão de obra. Até porque,
vivemos num período de racionalização de métodos e sistemas de produção, com
prioridade para a eficiência e a produtividade.
Muito
tempo antes da divulgação desse estudo do PNUD, Peter Drucker já havia chegado
a essa conclusão. Havia afirmado que “o futuro tem encontro marcado com as
empresas de tamanho médio”. Nós acrescentaríamos: “E também com as
microempresas”.
Esse
tipo de empreendimento precisa ser cada vez mais incentivado, cabendo ao
governo acabar com as barreiras burocráticas, que atrapalham a sua criação e,
principalmente, a sua sobrevivência. Se em países do Primeiro Mundo, como a
Itália, por exemplo, esta foi a solução encontrada para criar, movimentar e
distribuir riquezas, imagine o leitor a importância que isso tem para o Brasil.
Mesmo
sem grande estímulo (virtualmente nenhum), as pequenas e médias empresas são
responsáveis por quase a metade dos empregos existentes no País. Por tal razão,
não é nenhum exagero afirmar que, se por uma dessas catástrofes econômicas,
ditadas por atitudes desastradas dos burocratas, todos esses pequenos e médios
negócios viessem a falir, simultaneamente, o Estado brasileiro estaria
irremediavelmente falido.
A
Segunda parte da recomendação do PNUD para a América Latina, a reforma agrária,
deveria merecer uma atenção mais cuidadosa da sociedade. O tema entre nós
jamais foi tratado com a seriedade e a lucidez que merece. Há uma monstruosa
desinformação em torno do assunto.
Durante
muito tempo, essa medida importante foi vinculada às ideologias de esquerda. Muitos
investiram contra ela, sob a argumentação de que fere o direito de propriedade.
Balela. Ninguém jamais defendeu o confisco puro e simples de terra, para
distribuir aos que não têm seu pedaço de chão.
A
reforma agrária jamais poderia ser vinculada ao comunismo. Nos países
comunistas tudo pertence ao Estado. O que existem são fazendas coletivas, que
não possuem um dono. O que causa pasmo é o fato de, muitos que seriam os
maiores beneficiados com a distribuição racional dos solos produtivos do País, por
absoluta desinformação, serem os primeiros a se opor a ela. Claro que a medida,
para ser eficaz, deveria ser acompanhada de uma série de providências
complementares.
Doar
glebas para o indivíduo plantar, sem garantir recursos para o escoamento das
safras, para o armazenamento da produção e para a comercialização dos produtos,
seria uma estupidez. É indispensável toda uma infra-estrutrura nesses
assentamentos, como escolas, assistência médica e orientação técnica, entre
outras.
Como
fez a Holanda, por exemplo. Ou a Bélgica no pós-guerra. A propósito, a ex-União
Soviética, a China e mesmo Cuba jamais procederam a reformas agrárias.
Simplesmente, criaram fazendas coletivas, de propriedade do Estado, entregues
ao comando de burocratas que, na maioria das vezes, não entendiam coisa alguma
de agricultura, embora tivessem a cabeça cheia de dogmas ideológicos.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 3 de agosto de 1993).
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