Saturday, January 25, 2014

Perigo nuclear


Pedro J. Bondaczuk


O fim da chamada guerra fria, com a extinção da União Soviética, ao contrário do que possa parecer, ao invés de ter afastado o perigo nuclear, como se apregoou nos três últimos anos, na verdade o agravou. O acidente ocorrido no dia 6 de abril de 1993 na cidade siberiana de Tomsk é uma prova do agravamento desse risco.

A explosão de um reator na usina de processamento de plutônio para armas atômicas, na Sibéria, está mal-explicada. Teme-se que haja sido muito mais grave do que as autoridades russas querem dar a entender. Provavelmente, nem elas conhecem as dimensões exatas do acidente.

Outros desastres, como este, ou até piores, podem acontecer a qualquer momento, ou por descuido de operadores, ou por causa da precariedade do equipamento, ou por outra razão qualquer. Após a assinatura dos vários acordos para a eliminação de armas nucleares, tanto pelos presidentes George Bush e Mikhail Gorbachev, quanto do primeiro deles com Boris Yeltsin, ficou a impressão, para os desavisados e incautos, de que este tipo de armamento estava eliminado do Planeta ou, pelo menos, reduzido à margem ínfima. Não é bem assim.

A destruição de lançadores é lenta e deve estar concluída, apenas, em q997, e os dois lados têm um arsenal suficiente para destruir a Terra várias vezes, se isso fosse possível. Afinal, destruída uma vez, tudo estará acabado!

Quando existia a União Soviética, embora as tensões ideológicas fossem ameaças permanentes à sobrevivência humana, pelo menos era possível de se saber em que mãos estavam as milhares de ogivas, de ambos os lados. Com o fim do império comunista, não se tem mais certeza de nada.

Quem herdou o arsenal nuclear da antiga superpotência euro-asiática? Foi a Rússia? As armas foram divididas em outras Repúblicas, onde estavam baseadas? Em caso afirmativo, o responsável (ou responsáveis) por sua guarda merece (ou merecem) confiança?

Outro aspecto a se destacar é o fato de que, embora os tratados prevejam a destruição de grande parte desse arsenal, armas atômicas continuam sendo fabricadas daquele lado do mundo. O complexo de Tomsk, a cerca de 3 mil quilômetros de Moscou, é uma prova disso. Destina-se não à geração de eletricidade, como era o caso de Chernobyl – cuja usina foi palco do maior acidente nuclear da História, em 26 de abril de 1986 – mas à produção de plutônio para ogivas.

Quantas fábricas mais desse tipo continuam operando, até por falta de opções de trabalho, para os milhões de empregados da indústria bélica da ex-URSS? A opinião pública mundial tem o direito de saber dessas informações.

Embora exista a divisão territorial por países, o Planeta, obviamente, é um só. Apesar disso ser dispensável de se ressaltar, há os que se esquecem, ou fingem se esquecer, dessa realidade. Além desse perigo, há o da cessão, por parte das repúblicas detentoras, de armas nucleares para Estados nacionais considerados de “risco”, em termos de paz mundial, como o Irã, o Iraque ou a Líbia.

A severa crise econômica que atinge a ex-União Soviética pode provocar tentação nos líderes desses povos de aceitarem alguma eventual oferta para vender (secretamente, é claro) uma, duas ou dez bombas. É muito difícil, senão impossível, manter uma fiscalização perfeita que impeça esse tipo de transação, a despeito dos recursos existentes nos serviços de inteligência ocidentais. E um descuido pode ser fatal. 

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 13 de abril de 1993)


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