Perigo
nuclear
Pedro J. Bondaczuk
O fim da chamada guerra fria, com a extinção da
União Soviética, ao contrário do que possa parecer, ao invés de ter afastado o
perigo nuclear, como se apregoou nos três últimos anos, na verdade o agravou. O
acidente ocorrido no dia 6 de abril de 1993 na cidade siberiana de Tomsk é uma
prova do agravamento desse risco.
A explosão de um reator na usina de processamento de
plutônio para armas atômicas, na Sibéria, está mal-explicada. Teme-se que haja
sido muito mais grave do que as autoridades russas querem dar a entender.
Provavelmente, nem elas conhecem as dimensões exatas do acidente.
Outros desastres, como este, ou até piores, podem
acontecer a qualquer momento, ou por descuido de operadores, ou por causa da
precariedade do equipamento, ou por outra razão qualquer. Após a assinatura dos
vários acordos para a eliminação de armas nucleares, tanto pelos presidentes
George Bush e Mikhail Gorbachev, quanto do primeiro deles com Boris Yeltsin,
ficou a impressão, para os desavisados e incautos, de que este tipo de
armamento estava eliminado do Planeta ou, pelo menos, reduzido à margem ínfima.
Não é bem assim.
A destruição de lançadores é lenta e deve estar
concluída, apenas, em q997, e os dois lados têm um arsenal suficiente para
destruir a Terra várias vezes, se isso fosse possível. Afinal, destruída uma
vez, tudo estará acabado!
Quando existia a União Soviética, embora as tensões
ideológicas fossem ameaças permanentes à sobrevivência humana, pelo menos era
possível de se saber em que mãos estavam as milhares de ogivas, de ambos os
lados. Com o fim do império comunista, não se tem mais certeza de nada.
Quem herdou o arsenal nuclear da antiga
superpotência euro-asiática? Foi a Rússia? As armas foram divididas em outras
Repúblicas, onde estavam baseadas? Em caso afirmativo, o responsável (ou
responsáveis) por sua guarda merece (ou merecem) confiança?
Outro aspecto a se destacar é o fato de que, embora
os tratados prevejam a destruição de grande parte desse arsenal, armas atômicas
continuam sendo fabricadas daquele lado do mundo. O complexo de Tomsk, a cerca
de 3 mil quilômetros de Moscou, é uma prova disso. Destina-se não à geração de
eletricidade, como era o caso de Chernobyl – cuja usina foi palco do maior
acidente nuclear da História, em 26 de abril de 1986 – mas à produção de
plutônio para ogivas.
Quantas fábricas mais desse tipo continuam operando,
até por falta de opções de trabalho, para os milhões de empregados da indústria
bélica da ex-URSS? A opinião pública mundial tem o direito de saber dessas
informações.
Embora exista a divisão territorial por países, o
Planeta, obviamente, é um só. Apesar disso ser dispensável de se ressaltar, há
os que se esquecem, ou fingem se esquecer, dessa realidade. Além desse perigo,
há o da cessão, por parte das repúblicas detentoras, de armas nucleares para
Estados nacionais considerados de “risco”, em termos de paz mundial, como o
Irã, o Iraque ou a Líbia.
A severa crise econômica que atinge a ex-União
Soviética pode provocar tentação nos líderes desses povos de aceitarem alguma
eventual oferta para vender (secretamente, é claro) uma, duas ou dez bombas. É
muito difícil, senão impossível, manter uma fiscalização perfeita que impeça
esse tipo de transação, a despeito dos recursos existentes nos serviços de
inteligência ocidentais. E um descuido pode ser fatal.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 13 de abril de 1993)
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