Wednesday, January 22, 2014

País virtualmente sitiado por marginais


Pedro J. Bondaczuk


A Colômbia é, no momento, um país sitiado pelos narcotraficantes. Diariamente, juizes, policiais, jornalistas, políticos e todos os que ousam entrar no caminho desses daninhos "comerciantes da morte" são assassinados, sem que tais crimes sejam punidos.

Em 4 de julho passado, o próprio governador do Departamento de Antioquia, do qual Medellin é a capital, Antonio Roldan Betancur, foi "executado" pelos bandidos, mediante a explosão de um carro-bomba. Ontem, foi a vez de um magistrado de ser atingido covardemente pelos pistoleiros.

Carlos Valência foi assassinado, em pleno centro de Bogotá, certamente a mando dos "capos" do narcotráfico. Uma sinistra ameaça, portanto, se abate sobre a Colômbia, transformando-a num dos países maios violentos do mundo.

Os dados disponíveis sobre a criminalidade ali são de apavorar qualquer um. Numa sociedade nacional de 29 milhões de habitantes, a ocorrência de 20 mil crimes de morte, como se registrou em 1988, é algo para realmente apavorar a sua população. Mais assustados, porém, devem estar os residentes de Medellin, a segunda maior cidade colombiana.

Ali, em tempos ditos de paz, as ruas acabam por ser tão perigosas quanto as de Beirute, assoladas por uma sangrenta guerra civil. A cada duas horas, em média, duas pessoas morrem assassinadas nessa metrópole de dois milhões de habitantes. Ou seja, 12 por dia; 360 por mês; quase 4.500 por ano.

Os grandes cartéis da droga têm ramificações por toda a parte. Atingem os seus desafetos nos mais longínquos lugares, como aconteceu, tempos atrás, com um ex-ministro do Interior, servindo na embaixada colombiana em Budapeste, na Hungria, que escapou por muito pouco de ser morto, após sofrer um atentado na capital magiar.

Os gangsters não respeitam também cargos. Basta que alguém se interponha em seu caminho para que apelem para o expediente do assassinato. Isto aconteceu, por exemplo, com o ex-ministro da Justiça, Rodrigo Lara Bonilla, morto em 1984. Repetiu-se com o Procurador Geral da República, Carlos Mauro Hoyos. E vem se sucedendo, num crescendo, principalmente com membros do Judiciário.

Pode-se dizer que na Colômbia os traficantes não temem nada e ninguém. A única coisa que ainda os assusta é uma extradição para os Estados Unidos, já que a justiça norte-americana usa da devida severidade com tais bandidos, sem medo de "cara feia". O difícil é se encontrar juizes dispostos a tomarem tal atitude. A maioria dos que fizeram isto ou está no Exterior, num forçado auto-exílio, ou repousa sob uma lápide, num cemitério qualquer.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 19 de agosto de 1989).


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