Várias formas de
analfabetismo
Pedro
J. Bondaczuk
O Brasil é o oitavo
país do mundo em número de analfabetos com mais de quinze anos de idade. É,
pelo menos, o que leio em matéria da “Folha de S. Paulo” on line, na edição de
29 de janeiro de 2014. Mais esta! Esse é um ranking que gostaria que não
figurássemos jamais. Ainda mais em uma posição tão desvantajosa e lamentável. É
certo que o Brasil está nessa colocação por ser um dos cinco países mais
populosos do mundo (é exatamente o quinto). Tanto que quem ocupa a liderança
mundial nesse quesito é a Índia, seguida da China. Nesse caso, inverteram-se,
apenas, as posições em relação ao número total de habitantes. Os indianos
constituem o segundo maior contingente populacional do mundo e os chineses são
os primeiros. O Paquistão, que é o terceiro em número de adultos analfabetos,
leva desvantagem, pois tem população total bem menor que o Brasil.
Para nós, todavia,
ganha relevância a situação brasileira. Ademais, não se trata, propriamente
dito, de questão numérica, ou da posição que cada país ocupa nesse lamentável
ranking. A existência de um único analfabeto já é preocupante. Imaginem 13,2
milhões (os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)!!!. Essas cifras, é verdade,
podem ser menores, mas podem, também, ter crescido, já que se referem a 2012.
Com todas as possíveis
atenuantes, todavia, essa quantidade de adultos analfabetos preocupa, e muito.
Sobretudo, particularmente, a nós, que garantimos nossa sobrevivência econômica
com a produção de textos. É óbvio que, quanto mais forem as pessoas que não
saibam ler, menor será a quantidade de nossos leitores potenciais. E no caso
brasileiro, estamos perdendo pelo menos 13,2 milhões deles. Claro que não somos
apenas nós que perdemos com isso. Todos, absolutamente todos perdem, mesmo que
muitos achem que não. Ninguém, rigorosamente ninguém sai ganhando. Em termos
proporcionais, para um país de 202 milhões de habitantes, a cifra não chega a
ser alarmante. Insisto, todavia, que não se trata de quantidade. Trata-se de um
contingente nada desprezível de brasileiros que nada mais têm a oferecer à
sociedade (sem contar às suas famílias) senão, e exclusivamente, a força
muscular de seus braços (isso se a tiverem).
O levantamento da
Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura (Unesco), não leva em conta o imenso contingente
de analfabetos funcionais, nem no Brasil e nem no mundo. Deveria levar. Quem está
nessas condições não sabe, de fato, ler e nem escrever. Analfabeto funcional,
recordo, é aquele sujeito que sabe “escrever” (na verdade “ desenhar”) o nome, consegue juntar
letras para formar palavras, mas não entende bulhufas do que lê. Pois então,
onde a dúvida? Por que a diferença de classificação? É analfabeto, sim senhor,
e ponto!!! Se formos considerar esse grupo, que em 2012 atingia 27,8 milhões de
brasileiros, teremos um total de 41 milhões de nossos leitores potenciais a
menos. É muita gente! É pouco menos do que o equivalente à população total da
França!!!
Imaginem, então, se
fôssemos adotar o critério de analfabetismo detectado por Mário Quintana! Para
quem não sabe a que me refiro, informo que o poeta escreveu certa feita: “O
pior analfabeto é aquele que sabe ler, mas não lê”. Por este parâmetro, as
cifras de brasileiros nessas condições iriam às nuvens, talvez às estrelas.
Chego a desconfiar que girariam ao redor dos 90%. Exagero meu? Nem tanto! É só
atentar para as estatísticas de leitura. E estas indicam que o brasileiro lê,
em média, dois livros por ano!!! Isso mesmo, apenas dois!!!. Essa quantidade é
a mesma que muitos leitores compulsivos (pena que não sejam tantos quantos
desejaríamos) lêem, e não muito raro, em somente um único dia. Já nem sonho com
uma cifra astronômica dessas. Já me contentaria se a média de leitura dos
brasileiros fosse de doze livros por ano, ou um por mês. É muito? Claro que
não!!!
Fico imaginando quantos
seriam os analfabetos, e não somente no Brasil (porém principalmente nele), mas
no mundo, se o critério de analfabetismo fosse o proposto pelo escritor e
futurólogo norte-americano, Alvin Toffler, que afirmou: “O analfabeto no século
XXI não será aquele que não consegue ler nem escrever, mas aquele que não
consegue aprender, desaprender e reaprender”. Quantos contam com essa
habilidade? Poucos, pouquíssimos, talvez meia dúzia de gatos pingados. Este sim
é monumental desafio para qualquer pessoa, incluindo intelectuais. Implica em
reconhecimento de erro no aprendizado e em saudável e inteligente volta atrás.
Só acho que Toffler foi otimista demais em sua previsão. Ela deixou implícito
que neste século, que vai caminhando para sua segunda década, não teria mais
ninguém que não soubesse ler e nem escrever. Enganou-se. Só de adultos,
conforme a Unesco, ou seja, só de pessoas com mais de quinze anos de idade, o
mundo tem 774 milhões de analfabetos (e isso sem contar os “funcionais”). Que
atividade mais maluca é esta que escolhemos para assegurar nossa
sobrevivência!!!
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