Virtual empate técnico
Pedro J. Bondaczuk
O
debate ocorrido anteontem, na Universidade Cidade de Los Angeles, na
Califórnia, entre os candidatos presidenciais norte-americanos George Bush,
pelo lado republicano e Michael Dukakis, pelo democrata, foi decepcionante para
aqueles que esperavam emoções fortes. Ambos os contendores pareciam mais dois
amigos trocando idéias sobre política, embora com divergências em algumas
questões, do que rivais aspirando a conseguir o cargo mais importante do mundo:
o de presidente da maior superpotência existente no Planeta. Portanto, a
decisão sobre quem será o sucessor de Ronald Reagan na Casa Branca, nos
próximos quatro anos, ficou adiada. Aliás, essa questão de se querer saber com
antecedência o pensamento do eleitor nem sempre dá certo.
Nos
Estados Unidos mesmo as pesquisas de opinião já deram "mancadas"
fenomenais. Por uma série de circunstâncias, entre as quais o carisma do atual
presidente, Bush está "com as melhores cartas". Mas se der Dukakis,
no dia 8 de novembro próximo, não será nenhum motivo de surpresa.
Repetimos
aquilo que afirmamos neste mesmo espaço, na quinta-feira: os dois candidatos
até parecem o verso e o reverso de uma mesma medalha, embora pertençam a
partidos diferentes e usem retóricas diversas. A essência de suas posições é
convergente e não antagônica.
Ademais,
as duas agremiações norte-americanas nunca foram diferenciadas por ideologias.
Elas diferem apenas no "discurso". Enquanto os democratas são tidos
como liberais que agem como conservadores, os republicanos são o inverso. Mas
esse liberalismo e esse conservadorismo estão tão próximos um do outro, que a
diferença entre os dois reside basicamente na "dosagem". Qualquer que
seja o ganhador, as linhas-mestras da política norte-americana não vão sofrer
mudanças drásticas, nem no plano interno e nem no externo.
Aliás,
nessa sociedade atípica no mundo moderno, que serve de paradigma para todas as
demais, o governo tem interferências mínimas na vida do cidadão. E quando
decide interferir, em geral, é mais para atrapalhar o andamento das coisas do
que para pôr ordem nelas.
O
sucesso de Reagan, no plano interno, por incrível que pareça, residiu,
exatamente, em sua "inação". Na ausência de atitudes para modificar o
sistema vigorante. E nunca os norte-americanos ganharam tanto dinheiro quanto
nos últimos oito anos, embora a quantidade de pessoas situadas abaixo da linha
de pobreza tenha aumentado, pela elevação do afluxo de imigrantes,
Como,
pois, travar debates emocionantes numa circunstância destas? O telespectador
deve ter ficado até com sono com a troca de gentilezas entre Bush e Dukakis. E
quem sabe, sequer assistiu à apresentação até o seu final...
(Artigo
publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 15 de outubro de
1988)
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