Friday, July 17, 2015

Virtual empate técnico


Pedro J. Bondaczuk


O debate ocorrido anteontem, na Universidade Cidade de Los Angeles, na Califórnia, entre os candidatos presidenciais norte-americanos George Bush, pelo lado republicano e Michael Dukakis, pelo democrata, foi decepcionante para aqueles que esperavam emoções fortes. Ambos os contendores pareciam mais dois amigos trocando idéias sobre política, embora com divergências em algumas questões, do que rivais aspirando a conseguir o cargo mais importante do mundo: o de presidente da maior superpotência existente no Planeta. Portanto, a decisão sobre quem será o sucessor de Ronald Reagan na Casa Branca, nos próximos quatro anos, ficou adiada. Aliás, essa questão de se querer saber com antecedência o pensamento do eleitor nem sempre dá certo.

Nos Estados Unidos mesmo as pesquisas de opinião já deram "mancadas" fenomenais. Por uma série de circunstâncias, entre as quais o carisma do atual presidente, Bush está "com as melhores cartas". Mas se der Dukakis, no dia 8 de novembro próximo, não será nenhum motivo de surpresa.

Repetimos aquilo que afirmamos neste mesmo espaço, na quinta-feira: os dois candidatos até parecem o verso e o reverso de uma mesma medalha, embora pertençam a partidos diferentes e usem retóricas diversas. A essência de suas posições é convergente e não antagônica.

Ademais, as duas agremiações norte-americanas nunca foram diferenciadas por ideologias. Elas diferem apenas no "discurso". Enquanto os democratas são tidos como liberais que agem como conservadores, os republicanos são o inverso. Mas esse liberalismo e esse conservadorismo estão tão próximos um do outro, que a diferença entre os dois reside basicamente na "dosagem". Qualquer que seja o ganhador, as linhas-mestras da política norte-americana não vão sofrer mudanças drásticas, nem no plano interno e nem no externo.

Aliás, nessa sociedade atípica no mundo moderno, que serve de paradigma para todas as demais, o governo tem interferências mínimas na vida do cidadão. E quando decide interferir, em geral, é mais para atrapalhar o andamento das coisas do que para pôr ordem nelas.

O sucesso de Reagan, no plano interno, por incrível que pareça, residiu, exatamente, em sua "inação". Na ausência de atitudes para modificar o sistema vigorante. E nunca os norte-americanos ganharam tanto dinheiro quanto nos últimos oito anos, embora a quantidade de pessoas situadas abaixo da linha de pobreza tenha aumentado, pela elevação do afluxo de imigrantes,

Como, pois, travar debates emocionantes numa circunstância destas? O telespectador deve ter ficado até com sono com a troca de gentilezas entre Bush e Dukakis. E quem sabe, sequer assistiu à apresentação até o seu final...

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 15 de outubro de 1988)


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