Nosso
destino em nossas mãos
Pedro J.
Bondaczuk
O 44º aniversário da destruição da cidade japonesa
de Nagasaki, que a exemplo de sua co-irmã Hiroshima (três dias antes), conheceu
de perto, em 9 de agosto de 1945, até onde pode chegar a capacidade humana de
destruição, com o desenvolvimento de armas cada vez mais mortíferas, no caso as
atômicas é uma boa oportunidade para que nos conscientizemos que o perigo para
o Planeta ainda não passou. Muito pelo contrário, hoje o risco é infinitamente
maior do que naquele tempo.
A despeito das superpotências terem concordado em
eliminar todo um "naipe" de armamentos nucleares de seus arsenais,
tal eliminação representa somente cerca de 3% do total. Portanto, Estados
Unidos e União Soviética ainda possuem condições para destruir uma centena de
planetas do porte da Terra.
Por que razão, pois, deveríamos ficar de braços cruzados,
enquanto as nossas vidas, as de todos os seres humanos existentes no mundo; as
de todos animais e plantas; as obras construídas por gerações e toda a
estrutura planetária ficam ameaçadas por pessoas como nós? Por seres mortais,
portanto, e sujeitos a paixões, a desarranjos mentais e a arroubos suicidas?
Seríamos como gado, prontos a seguirmos, sem
protesto, inconscientemente, para o matadouro? Hiroshima e Nagasaki não foram
amostras suficientes do que pode acontecer a outras cidades, a todas elas, caso
os responsáveis pela administração política e militar das superpotências se
deixem levar pelas emoções mais primitivas que costumam obliterar a razão?
Precisaria o homem do "freio" do medo para
não se trucidar estupidamente, em guerras dantescas? A sua capacidade de pensar
seria insuficiente para estabelecer sistemas que permitissem uma convivência
pacífica entre desiguais? O que vem a ser a tão apregoada (e pouquíssimo
exercitada) democracia, senão a administração de conflitos, utilizando a
energia gerada por eles para algo construtivo?
Por isso, conforta os intelectuais, quando heróicos
membros da organização pacifista "Greenpeace" (chamados de
"loucos" e de "arruaceiros" pelos alienados que eles lutam
para defender) desafiando a mais poderosa Marinha do Planeta e levando ao
adiamento do teste do terribilíssimo míssil nuclear "Trident 2", como
ocorreu recentemente na costa da Flórida. Ou quando esses mesmos idealistas
"perseguiram" um submarino atômico soviético, em pleno Mar Báltico,
somente para fincar nele a bandeira antinuclear, em época recente.
Há, portanto, gente que ainda se importa, mas
infelizmente os que agem ainda são poucos. Se um desastre, como o de Chernobyl,
em 1986, que matou 31 pessoas, causou tanto horror e protestos no mundo, por
que não manifestar repúdio multiplicado por um milhão diante dos mais de 300
mil mortos de Hiroshima e Nagasaki? E do risco de todos os nossos sonhos e
realizações voarem pelos ares?
(Artigo publicado na página 19, Internacional, do
Correio Popular, em 10 de agosto de 1989).
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