Louca
corrida para o abismo
Pedro J. Bondaczuk
A apregoada contenção da corrida armamentista entre
as superpotências soa, cada vez mais, a mera utopia, simples sonho de uma noite
de verão. A agência oficial de notícias soviética, a Tass, em um despacho de
ontem, de Moscou, dá conta que a URSS instalou novos mísseis de teatro na
Alemanha Oriental (além de uma quantidade indeterminada que já tinha instalados
naquele país), argumentando que a medida era para contrabalançar os 108
Pershing II dos EUA, em território germânico ocidental.
E as providências do Cremlin, empenhado em conseguir
a superioridade nuclear sobre os EUA, a qualquer custo, mesmo que esse esforço
signifique queda no seu padrão de vida interno, não devem parar por aí. Os
russos anunciam que, à medida que os mísseis de teatro Cruise (os Pershings
destinam-se apenas à Alemanha Ocidental) forem sendo instalados na
Grã-Bretanha, Holanda, Bélgica e Itália, outros países do Pacto de Varsóvia (o
correspondente oriental da Otan) receberão essas diabólicas engenhocas,
chamadas de teatro, próprias para simbolizar a tragédia da humanidade diante
dessa terrível corrida da morte.
O anúncio do Cremlin não poderia ter sido feito num
momento mais inoportuno. É que nesta semana o Congresso dos EUA começa a debater
o controvertido projeto do presidente Ronald Reagan, de construção dos mísseis
MX, uma poderosa arma capaz de acertar, com incrível precisão, dez ogivas
nucleares, em pontos diferentes da União Soviética.
Os congressistas norte-americanos não se mostram
muito entusiasmados com esses novos gastos em defesa. Mas a medida russa,
somada ao visível aumento de tensão entre as superpotências, diante do
esperado, mas condenável boicote soviético às Olimpíadas de Los Angeles, pode e
deve alterar esse panorama.
Muitos parlamentares, propensos a votar contra o
pedido de Reagan, devem, a esta altura, estar reconsiderando sua posição. Quem
perde, mais uma vez, é a humanidade, que dá mais um passo rumo à destruição.
Afirmar que maior quantidade de armas nucleares, contraditoriamente, estimula,
pelo medo, a manutenção da paz (como disse o secretário de Estado dos EUA,
George Shultz) não passa, obviamente, de sofisma.
E de sofisma em sofisma, o ideal de uma sociedade
mais justa, em que todos tenham assegurados seus direitos fundamentais, vai
ficando a milhões de anos-luz de distância, sepultado por causa da cegueira de
quem tem olhos, mas que, no entanto, se recusa a enxergar.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do
Correio Popular, em 15 de maio de 1984)
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