A poesia sobre poesia
Pedro
J. Bondaczuk
O livro “IbirAMARes e
outros poemas”, do escritor catarinense Harry Wiese´(Editora Nova Letra) é
dividido, para facilitar a leitura e permitir que o leitor usufrua plenamente
de seu conteúdo (afinal, ordem, em qualquer atividade, nunca é demais, sempre é
de menos), conforme destaquei em comentários anteriores, em cinco vertentes
temáticas. Comentei três delas: “Existência”, “Ecologia” e “Amor”. A quarta é a
“Metapoesia”. O autor dedica sete poemas a esse tema. Poucas, pouquíssimas
pessoas sabem o que isso significa. Responda com sinceridade, paciente leitor:
você já ouviu falar de “metapoesia”? Sabe o que ela significa? Se não souber (e
desculpe minha presunção), não se acanhe e não se aflija. São raros, raríssimos
os poetas que já ouviram falar dela, embora componham, e com assiduidade,
metapoemas e mais metapoemas.
Fiz esse teste com
amigos que têm vários livros de poesia publicados. Perguntei-lhes exatamente
isso, que acabo de perguntar a vocês, e nenhum deles, nenhum mesmo, jamais
havia ouvido sequer falar a respeito. Alguns, até, acharam que eu estava
brincando, que não existia essa tal de metapoesia, que não passava de pegadinha
da minha parte. Peguei, então, a esmo, um livro de um deles e localizei com enorme
facilidade metapoemas que esse autor compôs, sem saber que se tratava disso.
Afinal, sequer ouvira falar dessa expressão. Presumo que não haja nenhum poeta
que não tenha composto, em algum tempo, pelo menos um punhadinho de poemas com
estas características. Eu mesmo compus algumas dezenas.
Bem, não serei chato a
ponto de manter por mais tempo o suspense. Metapoema é, tão somente, poema em
que o autor fala sobre o próprio poema, ou sobre a poesia e/ou sobre seu
processo de criação. Simples assim! Ah, caro poeta que me dá a honra da
leitura, acendeu, agora, uma brilhante luz no seu cérebro? Pois é, como
afirmei, você já praticou vezes sem conta a metapoesia e não sabia. É bom que
saiba!!! E não apenas isso, mas, ademais, tudo o que se refira a essa nobre arte
que você pratica, mesmo que isso não lhe acrescente nada. Afinal, como diz
surrado clichê, “o saber não ocupa lugar”.
Harry Wiese compôs sete
magníficos metapoemas e teve a generosidade de destinar-lhes toda uma seção do
seu livro, até para que o leitor mais curioso e atento se dispusesse a
pesquisar o significado de metapoesia e assim valorizá-la. Ou seja, trouxe à
baila sete composições em que o tema dessas poesias é a própria poesia. Afinal,
o que leva o poeta a compor? O que motiva a escolha dos assuntos que aborda?
Qual o valor que empresta à nobre arte de poetar? Tudo isso e muito mais é
tratado em metapoemas. Dos sete que Harry Wiese nos apresenta, optei por este,
que partilho com vocês, por mera questão de gosto. Poderia, no entanto,
partilhar qualquer outro, que estaria de bom tamanho:
A poesia
“A
poesia existe para propagar o sentimento
E
externar o meu amor.
A
poesia vivifica a grandiosidade das almas
Perdida
na vastidão do tempo.
Por
que hei de vasculhar baús
E
ressuscitar lembranças perdidas
Se
a poesia é o bálsamo benevolente,
Milagroso
e fantástico
A
serenar impasses fatais?
Não
depredarei a arte,
Nem
cantarei mistérios.
A
grandeza emanada
Das
tuas entranhas,
Encarregar-se-á
de justificar
O
meu apelo,
Apelo-menina,
Apelo-poesia,
Apelo-apelo.
A
poesia existe para existir plena,
Amada,
Misteriosa,
Nada
mais!”
Querem um exemplo de
metapoesia na obra de outro poeta, de algum, digamos, medalhão, consagrado,
badalado, ultraconhecido e citado? Trago-lhes, pois, este expressivo metapoema
de Fernando Pessoa (poderia trazer centenas deles, dele e de tantos outros
poetas, mas deixo para vocês identificá-los, até a título de exercício):
Autopsicografia
“O
poeta é um fingidor.
Finge
tão completamente
Que
chega a fingir que é dor.
A
dor que deveras sente.
E
os que lêem o que escreve,
Na
dor lida sentem bem,
Não
as duas que ele teve,
Mas
só a que eles não têm.
E
assim nas calhas de roda
Gira,
a entreter a razão,
Esse
comboio de corda
Que se chama coração”.
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