Thursday, December 31, 2015

Injustiças sociais são maior ameaça


Pedro J. Bondaczuk


O primeiro resultado positivo obtido na 7ª reunião de cúpula que o presidente soviético, Mikhail Gorbachev, realizou com dirigentes norte-americanos – cinco foram com Ronald Reagan e duas com George Bush – foi o fato de tais encontros terem se tornado mais freqüentes.ç Transformaram-se quase que numa rotina.

Isto demonstra que as superpotências, finalmente, após mais de quatro décadas de guerra fria, adquiriram o hábito de dialogar, em substituição ao antigo costume de trocar ameaças e acusações. Existem, ainda, muitos pontos de atrito entre os Estados Unidos e a URSS e tais divergências, certamente, deverão existir sempre, em decorrência da própria condição de liderança que os dois países exercem no mundo.

Mas hoje, ao contrário de há somente cinco anos, seus presidentes “conversam” sobre os principais assuntos, com veemência e franqueza, mas igualmente com cordialidade. Não ameaçam se destruir.

A comunidade internacional já se acostumou, todas as vezes em que eles se reúnem, com a assinatura de alguns acordos desarmamentistas, tornando mais distante o espectro da guerra nuclear e, em conseqüência, o Planeta se sente cada vez mais seguro, com a aproximação progressiva, da humanidade, de uma sonhada era de paz irreversível.

Duas pessoas, por maior afinidade que tenham, sempre terão um elenco considerável de divergências, acerca das coisas, dos fatos e dos indivíduos que as cercam. Por que não esperar o mesmo de países, principalmente em se tratando das duas superpotênciais mundiais?

O bom, neste tipo de contato tête-a-tête, inaugurado com a cúpula Reagan-Gorbachev levada a efeito em 20 de novembro de 1985, em Genebra, é que os interlocutores sempre acabam por encontrar um ponto de aproximação. Isto impede que suas diferenças se ampliem por ausência de comunicação.

No presente encontro de Washington houve mais divergências do que concordâncias. Uma delas referiu-se ao processo de reunificação da Alemanha e à presença ou não do Estado germânico reunificado na Organização do Tratado do Atlântico Norte.

A outra versou sobre a política do Cremlin em relação aos anseios autonomistas das Repúblicas bálticas. No entanto, já ficaram muito para trás obstáculos antes considerados intransponíveis, como a presença soviética no Afeganistão, as tropas de Cuba em Angola, o Muro de Berlim e as ditaduras comunistas do Leste europeu.

Os entraves que sobraram são ridiculamente pequenos se comparados com os já superados. Por isso, é lícito que a humanidade renove as esperanças de um mundo melhor, de prosperidade e paz, nos anos vindouros. Mas tem que trabalhar para isso.   

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 2 de junho de 1990).


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