Ao sabor das
coincidências
Pedro
J. Bondaczuk
“A literatura é uma
arte que tem fortes representantes em Santa Catarina”. A afirmação é do
escritor Luiz Carlos Amorim, coordenador do grupo literário “A ilha” e membro
da Academia Catarinense de Letras. É, portanto, pessoa amplamente habilitada a
falar a respeito, por viver o cotidiano dessa realidade e, por isso, ter pleno
conhecimento de causa. Está no seu habitat. No meu caso, não vou ao extremo de
afirmar que eu seja especialista na matéria. Não sou. Acompanho, sim, o
panorama literário catarinense (como ademais, os de outros Estados e países),
contudo, à distância. Embora busque me
atualizar a propósito, e por gosto pessoal, não por qualquer imposição ou
obrigação profissional, sou incapaz de apreender o conjunto.
Aproveito o ensejo e
abro um longo parêntese para tratar de algo que já tratei “n” vezes, mas que
julgo oportuno reiterar, porquanto muitos continuam fazendo observações sobre
meu procedimento. Há já bom tempo, alguns indivíduos que se dizem meus leitores
vêm me criticando pelo fato de escrever na primeira pessoa e de, volta e meia,
ao referir-me a determinados livros e seus autores trazer á baila experiências
pessoais,dando-lhes importância que, no entender desses críticos, de fato não
têm. Interpretam (e afoitamente) esse meu modo de escrever como manifestação de
arrogância e até de pedantismo. Respeito essas observações, contudo, discordo.
Aliás, tais opiniões são emitidas por quem não me conhece – e já nem digo
pessoalmente, mas até literariamente. Não são minhas leitoras, embora afirmem
que sim.
O fato de expressar-me
na primeira pessoa é, isto sim, manifestação de humildade. Faço-o quando
expresso opinião estritamente pessoal a propósito de algum assunto. E esta
pode, claro, ser equivocada (como algumas vezes é). Não é justo, pois, dar a
entender, mesmo que implicitamente, que seja de outrem, para posar de erudito,
de infalível, de sabe tudo, o que não sou. Quanto ao relato de minhas
experiências, é uma forma de emprestar originalidade a temas hiper-batidos,
expostos e repetidos ad náusea por “n” comentaristas, sem nada de novo a
acrescentar. Contudo, o que vivi, nenhuma outra pessoa viveu. Não, pelo menos,
com os mesmos personagens, datas, locais, circunstâncias etc.etc.etc.
Confesso que tempos
atrás resolvi mudar esse meu estilo de me expressar, para atender a esses
críticos gratuitos (por coincidência, todos anônimos ou, ostensivamente,
“fakes”, como se diz no jargão de internet). Ocorre que meus verdadeiros
leitores, aqueles que estão em permanente contato comigo por e-mail e por
tantos outros meios de comunicação, a princípio estranharam a mudança e, na
sequência, praticamente “exigiram” que eu voltasse a escrever como sempre
escrevi. Como meu compromisso é com essa maioria que me prestigia, incentiva,
corrige, aplaude, enfim, participa de alguma forma da minha atividade de
redator, a vontade dessas pessoas generosas e fieis, óbvio, prevaleceu e sempre
prevalecerá.
Voltando ao tema das
minhas reflexões de hoje, destaco que meu primeiro contato com escritores
catarinenses se deu há sessenta anos (puxa, já??!!!). Eu tinha doze anos de
idade e fui presenteado por um saudoso tio com o livro “Broquéis”, do poeta
João Cruz e Sousa. “Devorei-o”, literalmente. Fiquei encantado com seus versos castiços,
redondos, sonoros e de profundo conteúdo espiritual. Eu, que então já
“namorava” com a poesia, perpetrando canhestros versos, “pavimentei” meu
caminho nesse nobre gênero sob a influência do imortal “cisne negro”. Adquiri,
já no fim da adolescência, todos os livros de Cruz e Sousa, que “revisito” com
rigorosa constância a todo o momento.
Por volta dos 18 anos,
conheci outro grande escritor catarinense, no caso, Alfredo d’Escragnolle
Taunay. A princípio, li seu relato histórico de um episódio da guerra do
Paraguai, o livro “A retirada da Laguna”. A seguir, por indicação de um amigo,
adquiri o romance “Inocência”, com o qual deliciei-me. Vieram, na sequência,
Luís Delfino, Guido Wilmar Sassi, Cristóvão Tezza, Deonísio Silva, Silvio Back
e Werner Zotz. Todos, a rigor, nomes de projeção nacional. Quando meu interesse
literário voltava-se para autores de outros Estados e países, algumas
coincidências faziam com que meu foco se voltasse, outra vez, para autores
catarinenses. Em 1985, por exemplo, quando eu era editor do Correio Popular de
Campinas, um amigo presenteou-me com livro do poeta Lindolfo Bell. Depois, por
indicação, vieram obras de Edla Van Steen, de Péricles Prade e de Virgílio
Várzea. A essa altura, já estava “enfronhado” na rica e variada literatura
catarinense.
Mas a coisa não parou
por aí. Em 1992, por indicação do meu saudoso e talentosíssimo amigo Mauro
Sampaio (com o aval do não menos amigo e não menos saudoso Maurício de Moraes,
o poeta de Ouro Fino), fui eleito para a Academia Campinense de Letras, onde
sou titular da cadeira de número 14. E eis que o acaso (bendito acaso!!!) me
tornou companheiro de outra ilustre catarinense, a poetisa (e professora) Arita
Damasceno Pettená. E a eles foram se juntando, por circunstâncias várias,
outros escritores de Santa Catarina, como Salim Miguel (o libanês mais
catarinense, na verdade, mais biguacense do mundo, por ter se fixado no Estado
desde os dois anos de idade e lá permanecido até hoje), como o teólogo Leonardo
Boff, como Emanuel Medeiros Vieira, como essa escritora de que sou admirador
incondicional que é Urda Alice Klueger e... como o poeta, professor,
romancista, historiador e cronista de escol Harry Wiese. É sobre ele que
tratarei na sequência.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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