Arma não vale nada sem bom
lutador
Pedro J. Bondaczuk
O
anúncio solene, feito pelo presidente norte-americano, George Bush, em rede de
televisão nacional, anteontem à noite, na Casa Branca, de um cessar-fogo na
guerra do Golfo Pérsico, põe fim ao conflito, rápido, fulminante, duro e
destrutivo.
O
Iraque, mesmo que quisesse continuar lutando, não poderia, pois já está sem
exército, sem armas e virtualmente sem país. Foi reduzido a um montão de ruínas
e os seus cidadãos que podem, estão emigrando, para tentar a sorte em outras
partes.
Termina,
portanto, de forma melancólica, o sonho de grandeza de Saddam Hussein, cujo
futuro político é previsível. Assim que passar o impacto da humilhante derrota,
não há dúvida de que será escorraçado do poder. Nem mesmo o gosto de se tornar
mártir os aliados lhe deram. Poderiam ter avançado rumo a Bagdá e prendido e
humilhado o presidente, mas não quiseram. Perceberam o erro político que isso
representaria, por algo que nem é necessário.
Mesmo
que o general iraquiano queira montar nova máquina de guerra --- o que é muito
contestável --- não terá recursos para isso. O dinheiro necessário para a
reconstrução nacional, para o pagamento de reparações de guerra ao Kuwait e
para saldar a dívida externa, atinge uma cifra astronômica, que gira ao redor
do meio trilhão de dólares.
Saddam
passou 12 anos investindo o dinheiro do seu povo em armamentos. Mesmo contando
com a terceira maior reserva mundial de petróleo, a renda per capita iraquiana
era menor do que a brasileira --- que já não é das mais expressivas ---
chegando a apenas US$ 1.800 anuais.
O
pouco rendimento nacional, se comparado à população, ao invés de ser aplicado
no desenvolvimento, foi investido na composição de um arsenal caro,
diversificado e com alto grau de sofisticação.
Saddam
Hussein, equivocadamente, pensou que somente armamentos de boa qualidade bastam
para montar uma invencível máquina de guerra. Não se deu conta daquilo que é
elementar entre os militares: a formação de soldados.
O
diretor do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres, major
Robert Elliot, disse, em entrevista que concedeu em 7 de julho de 1982:
"Eu sei que as armas impressionam muito os militares, mas será que elas
são necessárias igualmente para todos os países? Bons soldados podem usar armas
ruins, mas a recíproca não é verdadeira".
E
os combatentes iraquianos mostraram, não somente nesta guerra, como também na
travada contra o Irã, que lhes falta muito para serem sequer razoáveis. Resta a
tentativa da Rádio Bagdá para salvar pelo menos um pouquinho do orgulho
derrubado.
Em
sua transmissão de ontem, depois do anúncio da trégua, a emissora deu a
seguinte mensagem "poética", de patética beleza, que dispensa
comentários: "Aqui é Bagdá. A voz da glória e da dignidade. A voz da
verdade e da resistência... Aqui é Bagdá, a casa da paz e da guerra, se a
guerra lhe é imposta. Em paz, Bagdá é um paraíso. Na guerra, Bagdá é fogo que
queima os agressores. Bagdá cujas fronteiras são tão afiadas quanto
baionetas... Aqui é Bagdá, a capital do mundo... A voz das massas". Pena,
para Saddam Hussein, que as guerras não sejam vencidas somente com palavras...
(Artigo
publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 1º de março de
1991).
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