Escândalo apimenta a campanha
Pedro J.
Bondaczuk
A campanha presidencial nos Estados Unidos tem muitos dos
ingredientes que existem nos demais países considerados muitos furos mais
atrasados em relação à superpotência ocidental. Um deles, que raramente falta,
é o escândalo, em geral versando sobre adultério.
O cidadão norte-americano costuma
ser muito rigoroso nesse aspecto, em relação aos seus homens públicos. Ele
pode, eventualmente, dar as suas escapadinhas extraconjugais (e como dá!), mas
não admite esse mesmo tipo de comportamento, por exemplo, num presidente da
República.
Para que esta campanha tenha um
pouco de emoção, e até para equilibrar com a questão da venda secreta de armas
para o Irã e da transferência ilegal de fundos daí oriundos para os rebeldes da
Nicarágua, o principal postulante à candidatura democrata à sucessão do
presidente Ronald Reagan, o ex-senador pelo Colorado, Gary Hart, foi envolvido,
mediante uma matéria publicada anteontem no jornal “The Miami Herald”, numa
questão no mínimo apimentada, que promete ainda muitos lances interessantes, do
dramático ao cômico. Arranjaram um Chapadiquitt para o jovem político, a
exemplo do que já havia sido feito em relação a Edward Kennedy, em 1976.
Naquela oportunidade, o caso
ganhou contornos mais sérios, por envolver morte da secretária do senador pelo
Estado de Massachusetts, Mary Jô Kopechne, depois que o carro em que ambos
estariam viajando se desgovernou e caiu no rio (que acabou servindo como
identificador do escândalo e onde as esperanças de muita gente de ver um
terceiro membro desse clã, marcado pela tragédia, lutar pela presidência dos
EUA, também findarem por se afogar).
Ted, a partir de então, foi tão
assediado pela imprensa, sua vida foi vasculhada de tal forma, que não teve
outro remédio senão desistir da postulação à Casa Branca, deixando o caminho
livre para Jimmy Carter, que acabou vencendo, não somente as primárias, mas as
próprias eleições presidenciais naquele ano.
Agora, posto que com contornos
mais suaves, a história se repete com o favorito dos democratas. Aliás, antes
mesmo do ex-senador Gary Hart anunciar que estava na corrida presidencial,
corria a fama, pelos Estados Unidos, de que ele, no vigor dos seus 50 anos, era
um mulherengo inveterado. E foi por aí que o escândalo desembocou.
Ele foi acusado, pelo jornal da
Flórida, de ter aproveitado a ausência de sua mulher (que se encontrava no
Colorado) para passar a noite de sexta-feira passada e parte do dia de sábado
com a jovem e bonita modelo e atriz Donna Rice, de 29 anos, em sua própria
casa, em Washington.
Ambos, evidentemente, vieram a
público para o clássico desmentido. E o próprio órgão de imprensa que levantou
a questão admitiu que o autor da matéria pode ter tirado conclusões infundadas
daquilo que os dois protagonistas alegam ter sido um mero encontro de caráter
social, e não sexual como foi apregoado.
De qualquer forma, o estigma da
suspeita vai marcar, doravante, esse político democrata, mesmo que ele não deva
nada. Como marcou o senador Kennedy. Como atingiu a tantos outros postulantes à
Casa Branca, que tiveram que abrir mão desse sonho, ao longo de dois séculos,
muitas vezes por causa de um simples boato.
Dizem que a reputação é como uma
virgem: uma vez deflorada, é impossível de ser restaurada a seu estado original
de virgindade. O leitor mais acostumado às idas e vindas da política
internacional deve estar lembrado que essa componente de escândalo não faltou,
também, nas eleições presidenciais passadas.
Naquela oportunidade, a atingida
foi a candidata democrata à vice-presidência, a primeira mulher a galgar essa
posição na história norte-americana, Geraldine Ferraro. Só que a mancha que a
acompanhou até o dia da votação foi um eventual erro (para menos) na declaração
de imposto de renda do seu marido.
É contestável, no entanto, que
isso tenha causado a derrota do seu companheiro de chapa, Walter Mondale. Como
também o é se essa questão que envolve Gary Hart vai barrar esse jovem e
promissor político na sua caminhada. O eleitor dos Estados Unidos, certamente,
saberá escolher qual será o melhor programa de governo. O resto...Bem, o resto,
entrará, certamente, para o folclore eleitoral e nada mais do que isso.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 6
de maio de 1987).
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