Pedro J. Bondaczuk
A felicidade e o sucesso são, ambos, objetivos supremos de todas as pessoas que existem e já existiram e certamente das que virão a existir, mesmo que muitas não admitam ou nunca pensem nisso. Todavia ninguém, absolutamente ninguém jamais conseguiu (e duvido que venha a conseguir) sequer definir, com objetividade, sem margem para a mínima dúvida ou remota contestação, e de forma consensual, no que cada um consiste. São conceitos subjetivos, ambíguos e vagos, posto que sejam, provavelmente, o que mais se deseja e persegue ao longo da vida.
É possível ser, simultaneamente, bem-sucedido e feliz? Potencialmente, sim. Só que depende do que se entende por felicidade e qual é o sucesso que se pretende alcançar. Objetivamente, porém, eu diria que não. Sucesso, para a maioria, está diretamente ligado à obtenção de bens materiais (riqueza) e imateriais, fama, poder ou, para os mais modestos, o simples reconhecimento. Para os que almejam bens, a probabilidade de, em algum momento, sofrerem frustrações, beira à certeza. Nada de material dura para sempre (e nós, óbvio, também não duramos). Tudo se degrada, se transforma, se corrompe, se perde, não importa o tempo que dure. Frustradas, certamente as pessoas se sentirão infelizes.
O poder é mais ambíguo e transitório ainda. Pouquíssimos o conseguem e, quando têm sucesso, perdem-no num piscar de olhos, perda esta, não raro, acompanhada, com a supressão de suas vidas. A História está cheia de exemplos, tantos que se torna desnecessário mencionar algum. Conhecemo-los de sobejo.
Quanto à fama, além de efêmera e logo se acabar, vem acompanhada de uma série de inconvenientes enquanto dura, entre os quais está a perda da privacidade. Além disso, desperta inveja que não tarda em se transformar em férrea e quase sempre desleal oposição. Pouca coisa é mais patética do que o sentimento de perda e de abandono de quem foi um dia famoso e, de repente, caiu no esquecimento. Isso vale, em certa medida, também para o reconhecimento. Ele vale enquanto as pessoas que reconhecem nossos méritos e virtudes estejam vivas (isso quando valem). Ninguém sabe como seremos avaliados pelas gerações vindouras. Podemos, sem dúvida, ser superestimados. Contudo, o que fomos e fizemos pode ser (e geralmente é) mal interpretado, passados escassos anos da nossa morte. Pior quando isso ocorre enquanto estivermos vivos.
Fortuna, fama, poder e reconhecimento, portanto, são voláteis e inconsistentes. Podem nos fazer felizes por algum tempo, é certo. Mas essa felicidade tende a ser sumamente passageira e sucedida por frustrações, decepções e amarguras, além, pior, da solidão. Caso nosso conceito de sucesso seja baseado nisso, certamente, em algum momento da vida, iremos entender que, de fato, não fomos bem-sucedidos. Na verdade, fracassamos.
Albert Einstein, em seu livro “Como vejo o mundo”, apresenta essa alternativa, entre sucesso e felicidade, de uma forma que, aparentemente, não tem nada a ver com o tema, mas se a analisarmos com o devido cuidado, veremos que é rigorosamente exata e racional, além de apontar o melhor caminho que podemos escolher para valorizar e justificar nossas vidas. Escreveu: “Se um dia você tiver que escolher entre o amor e o mundo, lembre-se: se escolher o mundo, ficará sem o amor, mas se escolher o amor, com ele você conquistará o mundo”. Exagero? Claro que não! Isso não quer dizer que o simples fato de amar nos fará liminarmente (e perpetuamente) felizes e bem-sucedidos.
O amor, não raro, é cruel e esconde inúmeras armadilhas. Envolve sacrifícios e riscos. Se ou quando não correspondido, provoca sofrimento insuportável. E se perdido, sofremos muito mais. “Então ele é perverso e mau e devemos evitá-lo?”. Não, não e não! Porquanto, sem ele, estarão fechadas, para nós, todas as portas da felicidade. Temos que correr riscos. Afinal, se (ou quando) as coisas derem certo, as compensações serão inigualáveis. O amor é a mola propulsora de todas as realizações e de todo o progresso. É a ausência dele que propicia a maldade, a violência, a cobiça e tudo o que há de ruim e destrutivo no coração humano.
Vincent van Gogh, certamente privado desse sentimento, de vida sumamente infeliz (vendeu, enquanto vivo, apenas dois dos seus quadros, e ambos adquiridos pelo irmão Theo), embora detentor de sucesso, só que póstumo, já que morreu solitário e incompreendido em um hospício, afirmou: “A diferença que há numa pessoa antes e depois de se apaixonar é a mesma que há entre uma lâmpada apagada e uma lâmpada acesa. A lâmpada estava no mesmo lugar e era uma boa lâmpada, mas agora está também esparzindo luz, e é essa sua verdadeira função”. Faltou-lhe, em vida, essa fonte de iluminação. Deu no que deu.
O amor, entre tantas virtudes, tem caráter transformador. Mesmo quando não as faz felizes, por falta da devida correspondência, muda as pessoas. É mestra por excelência. Educa-nos como nenhum professor, por mais eficiente que seja, consegue fazer. O célebre dramaturgo francês Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido como Moliére, colocou as seguintes palavras, repletas de verdade e de bom-senso, na boca de um dos seus personagens: “O amor é um mestre admirável que nos ensina a ser o que nunca fomos; e, muitas vezes, com as suas lições, muda completamente, num instante, os nossos costumes”. Exagero? Claro que não!
É preciso observar, porém, que esse é o sentimento provavelmente menos compreendido pelas pessoas. Muitos confundem-no, apenas, com o que lhe é meramente subsidiário, como paixão, atração sexual, simpatia, admiração etc.etc.etc. O amor é, “também”, tudo isso, mas não “apenas” isso. Não é (e não pode ser) estático. É sumamente dinâmico. O psicanalista, filósofo e psicólogo alemão, Erich Fromm, adverte a respeito: “O amor é uma atividade, não um afeto passivo; é um ato de firmeza, não de fraqueza; é propriamente dar, e não receber”.
Reflitamos, pois, a respeito e definamos, se possível, qual o tipo de sucesso que queremos: se o associado à fama, fortuna e reconhecimento ou se o sugerido por Einstein, baseado no amor. O que nos traz felicidade, já nem digo perene, mas a constituída de momentos, de “flashes”, de lampejos?
Essas reflexões poder ser (acredito que sejam), não apenas importantes, mas essenciais à nossa vida. Com que aparência chegaremos à velhice (isso se chegarmos)? Carrancuda, decepcionada, com a face coberta de rugas decorrentes de sofrimentos, angústias e decepções? Ou serena e tranqüila, como a de um inocente e saudável bebê?
O médico, filósofo e humanista alemão Albert Schweitzer, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1952, legou-nos, entre tantas e tantas coisas boas, decorrentes de uma vida exemplar e toda voltada ao próximo, esta mensagem, digna de profunda meditação: “Com 20 anos, todos têm o rosto que Deus lhes deu; com 40, o rosto que lhes deu a vida, e com 60, o rosto que merecem”. Qual será o nosso, aquele que mereceremos?
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