Tuesday, January 01, 2013

A menininha dos olhos verdes

Pedro J. Bondaczuk

O ano acabou! Simples assim! Fim, the end, c’est fini, es finito. Ou, como Rubem Braga intitulou memorável crônica (o que, no caso dele, é redundância, já que tudo o que esse mestre escreveu é digno de leitura, reflexão e, se possível, imitação) alusiva a época como esta, na passagem de 1952 para 1953 (período já tão distante, mas que parece ter sido ontem!): “Passou”. Passou e levou para o passado sem retorno sonhos, ilusões, projetos e até vitórias que mal puderam ser saboreadas, quanto mais digeridas.

Levou, também, diga-se de passagem, tristezas, desilusões, perdas de entes queridos e um montão de problemas. Alguns deles, admito, foram devidamente solucionados. Menos mau. Outros, tiveram solução parcial, o que também não é tão ruim, posto que não seja ideal. Outros tantos, todavia, acabaram postergados, somente adiados, empurrados com a barriga para um incerto e vago amanhã, o que, provavelmente, os irá agravar ou... talvez, não. Sabe-se lá!

Hoje pela manhã, ao despertar, mais especificamente durante meu banho matinal, fiquei matutando, debaixo do chuveiro, sobre o que escrever nesta data, mas que ninguém ainda tenha escrito. Que pretensioso que sou! Por que essa obsessão pela originalidade?! Será que ainda existe algo referente a final de ano que alguém já não tenha escrito, em alguma época e lugar? Duvido! O que se faz, cada vez com maior freqüência, é o exercício da variação em torno do mesmo tema. Ou, conforme o meu gosto e mania por superlativos: do mesmíssimo assunto. Varia a forma de dizer as coisas, dependendo de quem as diz, de sua cultura, experiência, visão de vida etc.etc.etc. O conteúdo, porém, é sempre o mesmo. Não tem como.

Mas seria tão importante assim ser original? Qual o problema de repetir, com minhas palavras e minha emoção, o que milhares, milhões, quiçá bilhões já disseram e escreveram em tantas épocas e lugares? O sol nasce todos os dias, ou seja, é um processo que se repete há pelo menos 4,5 bilhões de anos, e nem por isso determinados amanheceres deixam de ser belos. Ou certos ocasos não são maravilhosos. Ou as flores perdem o encanto de uma primavera para outra.

Um tema recorrente, nessas ocasiões, explícito ou apenas implícito, é o da esperança. Boa parte das pessoas espera que os próximos 365 dias sejam melhores, em todos os sentidos, do que os precedentes. Para muitos, serão. Para tantos outros (temo que para a maioria) se mostrarão dramáticos, frustrantes, possivelmente terríveis, e por uma série de motivos e circunstâncias. Muitos sequer verão o ano seguinte, encerrando seu ciclo na Terra. Em contrapartida, milhões de outros verão o novo ano pela primeira vez, de visita a este Planeta ora belo, ora sucursal do inferno, por um tempo que ninguém é capaz de determinar.

Escrevi, se não me engano ontem, esta mensagem no Facebook, que é o que penso neste momento: “O ano que está às portas vai nascer, como tantos outros, sob o signo da esperança. É mais uma oportunidade que a vida nos confere para corrermos atrás dos nossos sonhos, para concretizarmos nossos ideais e para conquistarmos o que está bem ao alcance das nossas mãos, mas que teimamos em não alcançar, por causa do medo, da descrença e da desesperança: a felicidade. Para obtermos êxito nessa empreitada é necessário que cumpramos determinadas (e indispensáveis) condições. É fundamental, por exemplo, que estejamos predispostos à alegria, à esperança e ao bom humor. É imprescindível que saibamos amar e que não tenhamos receio de nos expor, por medo de nos ferir. E que conquistemos (e conservemos) dezenas, centenas, milhares, quiçá milhões de amigos”.

Apenas pequei por excesso de otimismo (certamente influenciado pelo ambiente da época) no trecho final da mensagem, quando afirmo: “Cumprindo essas condições, não há o que temer”. Não haveria de fato? Há, sempre há o que temer! Infelizmente! Os fatos são imprevisíveis, para o bem ou para o mal. É um exercício de suprema tolice fazer previsões, e acreditar nelas, sobre algo que não aconteceu e que possivelmente jamais acontecerá. Pode ocorrer, é verdade, e até de forma muito melhor do que a prevista. Mas... deixo estas reticências no ar, para que vocês as preencham.

Sobre a esperança, vem-me à memória um comercial que vi estes dias na televisão (se não me falha a memória, do Bradesco), que achei sensível e inteligente. E poético. Tão poético que Mário Quintana, ou Carlos Drummond de Andrade, ou Cecília Meirelles certamente o assinariam – se não o texto veiculado, sintético como se exige de um, anúncio de televisão (que é caríssimo, cobrado por segundo), pelo menos seu conteúdo – e que interpreto à minha maneira.

Minha interpretação é a seguinte:

O comercial alude a uma belíssima senhora que tem o dom de se renovar a cada período e nunca morre, é eterna. Reside no prédio do tempo, de doze andares. Começa cada ano como inquilina do primeiro andar. A cada mês, todavia, muda-se para o pavimento superior seguinte, enquanto se transforma fisicamente: desenvolve-se, passa de menininha para a condição de adolescente, depois amadurece, começa a envelhecer, mas nunca perde a beleza. Ao chegar ao décimo segundo andar, já é uma velhinha, posto que ainda bela, de uma beleza sutil e incomparável. Só que, em vez de seguir o ciclo natural da vida, e morrer, por peculiar e inimitável sortilégio, no momento certo... se transforma. Vira, de novo, belíssima e saudável menina, como no ano anterior, e anterior e anterior. E como certamente voltará a acontecer no próximo, e no próximo, e no próximo, enquanto o edifício e os seres humanos que o habitam existirem.

Caso eu perguntasse a essa linda menininha, de inesquecíveis e brilhantes olhos verdes, como ela se chama, estou seguro que me responderia, com luminoso e maravilhoso sorriso nos seus perfeitos lábios: ESPERANÇA!!!

Cito outra mensagem que partilhei no Facebook, inspirada nessa alegoria sugerida pelo comercial do Bradesco: “Há pessoas tão desencantadas face aos seus sofrimentos, aos tropeços que experimentam, aos fracassos que vivenciam e às decepções que colecionam, que asseguram não ter mais nenhuma esperança na vida. Estão erradas. No fundo, bem no âmago de seus corações, escondidinhas, estas ainda se fazem presentes. Não há quem não as acalente, mesmo que secretamente, ou de maneira inconsciente. Até mesmo os moribundos, que vislumbram o espectro da morte ao seu redor, esperam uma miraculosa reação do seu organismo e a recuperação. Sempre que uma esperança morre, face à dureza da realidade (e isso é bastante corriqueiro), outra nasce de imediato, silenciosa e até despercebida, porém mais forte e vigorosa. O poeta salvadorenho, Carlos Henrique Ungo”, escreve estes versos sobre a esperança:

“Ela sempre esteve aí
encolhida entre nós
escondida e em silêncio como menina travessa
tão somente à espreita
e ansiosa para ser descoberta”.

Esta é, pois, a mensagem que lhes deixo, para sua reflexão, nesta passagem de ano. É original? Claro que não!!! E precisa ser?! Asseguro-lhes, todavia, que é honesta, é sincera e vem do fundo do coração. E, para complementá-la, deixo-lhes uma recomendação: “Não se separem, jamais, da linda menininha de olhos verdes. Acompanhem-na o tempo todo, em cada um dos andares em que ela estiver e, quando retornar ao primeiro, permaneçam juntos, repetindo sempre, e sempre, e sempre o mesmo ritual, enquanto o tempo lhes permitir”. E tenham felicíssimo Ano Novo!!!

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

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