Pedro J. Bondaczuk
A Organização das Nações Unidas, contrariando todos os cépticos, está completando, hoje, 42 anos de existência, 16 a mais do que a sua antecessora, a Liga das Nações, fundada em 10 de janeiro de 1919, com sede em Genebra, mas que nunca chegou a se impor como entidade respeitada. É verdade que a ONU não conseguiu cumprir ainda o seu principal objetivo, que é o de manutenção da paz no mundo. Isto, a rigor, ninguém jamais conseguirá lograr obter neste século de violência e injustiças, recordista de guerras e revoluções em toda a acidentada história da civilização (ou pelo menos daquela que se tem registro). E talvez jamais venha a ser conseguida.
Somados, os conflitos destes últimos e tormentosos 87 anos beiram o meio milhar, redundando em cerca de 200 milhões de mortes. E tudo por causa de nada. Mas seria uma enorme injustiça afirmar que a ONU é desnecessária. Se no plano político ela se transformou num mero local de debates dos principais problemas vividos pela humanidade, impotente para solucioná-los, tamanhas são as suas dimensões e tão agigantadas se tornaram a estupidez e a maldade do único ser supostamente inteligente da natureza, o mesmo não se pode dizer da sua parte social.
Órgãos como a FAO, o Unicef, a Acnur, a Organização Mundial de Saúde, a OIT e alguns outros, cuja lembrança nos foge, são fundamentais para as pequenas nações terceiromundistas, afundadas na miséria, na ignorância e na corrupção de seus dirigentes.
Não foi para fazer média, ou por mera questão política, que a maioria dessas entidades recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Sua atuação evitou milhões de mortes por uma "epidemia" facilmente sanável (se houvesse vontade política dos países privilegiados): a miséria. Não faz muito, a FAO socorreu, dentro de suas restritas possibilidades, a 33 milhões de africanos, que corriam o risco de morrer de inanição, num planeta que bate recordes atrás de recordes de produção alimentar. Num mundo onde os silos de determinadas nações estão tão superlotados, a ponto de seus governos estarem pagando aos agricultores para que deixem de produzir.
Falta solidariedade. Inexiste a compreensão. O mundo está carente de altruísmo. E pensar que todos estamos apenas de passagem por este lugar... O que se espera é que a exortação, feita pelo secretário-geral da ONU, Javier Perez de Cuellar, para que todos somem esforços no equacionamento dos monumentais problemas existentes em nosso século, não caia no vazio.
Que o homem descomplique essa maravilhosa e única aventura que se chama "viver". Que se conscientize que a Terra é, na verdade, uma nave natural, que singra o espaço infinito e que nela não há passageiros: todos somos tripulantes. Só assim ainda restará uma esperança de que alguém termine essa "viagem", seja qual for o seu destino.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 24 de outubro de 1987).
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