Pedro J. Bondaczuk
Os dias do predomínio do general Manuel Antonio Noriega sobre os negócios militares e de Estado do Panamá podem estar contados. A pressão que ele vem recebendo dos Estados Unidos, para abandonar o comando das Forças de Defesa do país, é irresistível e o torniquete das sanções da Casa Branca está se fechando, inexoravelmente, sobre o seu regime.
Ontem, o mito de união da sua corporação, em torno da sua liderança, também começou a ruir, com a tentativa de sublevação de um grupo de soldados, liderados pelo chefe de polícia da capital, coronel Leônidas Macias, que foi, no entanto, dominada. Falta dinheiro para tudo nesse país, que se destaca, exatamente, pelo seu movimentadíssimo sistema bancário, além, é claro, do canal que liga os oceanos Atlântico e Pacífico.
Mas a parte ruim da estratégia da Casa Branca, para forçar a renúncia de Noriega, é o sofrimento imposto à população panamenha. Quem está sem pagamento são os funcionários públicos locais, que têm compromissos, família e necessidades inadiáveis. Quem está apanhando nas ruas, correndo riscos de vida, aspirando gás lacrimogêneo e amargando prisão, são os oposicionistas do Panamá.
Enfim, toda a carga de sofrimento está recaindo sobre os cidadãos comuns, que trabalham e pagam impostos, e que acabam sendo vítimas duplamente: tanto da tirania do homem-forte panamenho, quanto das sanções aplicadas visando a sua deposição.
O presidente norte-americano, Ronald Reagan, ao decretar o congelamento de US$ 50 milhões de fundos desse país em bancos dos Estados Unidos, há alguns dias, ressalvou que seu intento não era punir a população local. No entanto, é ela, e apenas ela que está pagando um duro preço por algo que não provocou.
Aliás, essa ação retaliatória é uma faca de dois gumes. Caso Noriega não consiga socorro com nenhum país simpatizante da sua causa – e desses, sempre existe algum, bastando, apenas, procurar – seu regime deve ruir fragorosamente. Mas com ele, ruirá, também, a economia panamenha.
Se o general, porém, obtiver empréstimos, saldar os compromissos com salários dos servidores e mantiver os bancos funcionando, fatalmente irá obter adesões em massa. Vai posar, até, como um nacionalista, “agredido pelo imperialismo norte-americano”.
Os próximos dias, portanto, serão decisivos, tanto para esse truculento e tirânico militar, quanto para a democracia do Panamá. O ideal, todos admitem, seria que ele seguisse o conselho de Reagan, dado, mais uma vez, ontem, durante uma sessão de fotografias com congressistas: “Abandone o seu país para ajudar o retorno do governo democrático civil”. Mas, infelizmente, na origem dos fatos, raramente está a vontade da maioria.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 17 de março de 1988)
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