Pedro J. Bondaczuk
Há pessoas que fazem sucesso em suas atividades, ganham muito dinheiro, conquistam a fama, mas... passado algum tempo, e nem precisa ser muito longo, poucos (ou ninguém) se lembram mais delas. Quando eventualmente mencionadas, quase sempre o interlocutor nos olha com espanto e pergunta: “De quem se trata”? Há outras que ficam em evidência um pouco mais, todavia, também acabam esquecidas. E as reações à sua menção é igual. Não são lembradas.
A memória humana é assim mesmo, mais frágil do que ousamos admitir. Há, no entanto, pessoas que, por uma razão ou outra (e não necessariamente pelo valor da obra, pois muitos que deixaram produções dignas de muitos reparos e de qualidade duvidosa se perpetuam) marcam, para sempre, as atividades que escolheram. Não são esquecidas por gerações e mais gerações. Mesmo os que não conhecem o que fizeram, mas ouviram falar delas, as citam com admiração e respeito.
Não se pode falar de Cinema, principalmente a partir dos anos 50 do século XX, e ainda mais do europeu e, principalmente do francês, sem lembrar de Jean-Luc Godard, que tem fortes vínculos com a Suíça, país em que passou boa parte da juventude. Seu nome se impõe tanto pelas polêmicas que sua obra gerou (e continua gerando), por remar via de regra contra a maré convencional, quanto por sua quantidade e, principalmente, qualidade. Até quem não aprecia seu estilo, para muitos elitista e cifrado (há quem o considere, sobretudo, “confuso”), admite sua importância. Vou mais longe. Até quem nunca assistiu nenhum dos seus filmes fala dele com respeito, posto que, óbvio, sem o menor conhecimento de causa.
Muita gente me perguntou, por estes dias, “qual o melhor filme de Godard”, como se eu fosse árbitro do bom gosto, cuja opinião não comportasse reparos e nem contestações. Não sou! Ademais, esse tipo de avaliação é sumamente subjetivo. Tenho, óbvio, minhas preferências, que dificilmente serão as mesmas de Fulano, Sicrano e Beltrano. Podem coincidir, é verdade, mas apenas por acaso. E o mesmo vale para estes “avaliadores”. Cada qual terá um motivo, todavia abstrato, para optar por determinadas produções, em detrimento de outras. Eu também tenho os meus. Isso também ocorre (e como!) com livros.
Por exemplo, navegando pela internet, fui parar em um desses espaços especializados em Cinema, editados por “experts” no assunto. Nele, entre outras tantas informações, localizei um “ranking” dos melhores filmes de Jean-Luc Godard. Entre as catorze películas relacionadas, há seis com as quais concordo plenamente, posto que não na mesma ordem citada à exceção do filme “Acossado”, que ambos relacionamos em primeiro lugar).
Quem estaria errado, o tal crítico, que organizou a citada classificação, ou eu? Nenhum dos dois. Para o gosto dele, o “ranking” está correto e de bom tamanho. Já para o meu, eu relacionaria pelo menos oito filmes, não relacionados por ele, e suprimiria, por conseqüência, outros oito que ele relacionou. Existe algum critério infalível e consensual para determinar quem está certo e quem está errado? Neste caso não, além do subjetivíssimo parâmetro do gosto pessoal.
O citado “ranking” relaciona estes filmes de Godard como os “melhores” de sua extensa filmografia: 1º) Acossado; 2º) O Desprezo; 3º) O Demônio das Onze Horas”; 4º) Viver a Vida; 5º) Uma Mulher é Uma Mulher; 6º) Duas ou três Coisas que eu Sei Dela; 7º) Masculino-Feminino; 8º) Band à Part; 9º) Weekend à Francesa; 10º) Alphaville; 11º) Salve-se quem puder - A Vida; 12º) O Pequeno Soldado; 13º) Charlotte et Véronique e 14º) A Chinesa.
Já na minha relação eu colocaria, por exemplo, “Made in USA” e mais: “Os Sete Pecados Capitais”; “A Preguiça”; “Vladimir e Rosa”; “Tudo vai Bem”; “O Amor através dos Séculos” e “Longe do Vietnã” Manteria, do “ranking” do crítico, as produções “Acossado”, “Viver a Vida”, “Weekend à Francesa”, “Duas ou três coisas que eu Sei Dela”; “Alphaville” e “A Chinesa”. Se me perguntarem por que fiz essas mudanças, responderei com outra pergunta: “Por que não?!”. Questão de gosto, ora bolas. E este não se discute, embora todos os filmes citados nas duas relações tenham inegáveis méritos, quer temáticos, quer técnicos (caso contrário nem o crítico e nem eu nos lembraríamos deles).
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