Pedro J. Bondaczuk
A Organização de Países Exportadores de Petróleo, a outrora todo-poderosa Opep, está, desde dezembro passado, num autêntico "beco sem saída". Tentou jogar um decisivo braço-de-ferro com os produtores independentes, especialmente com os que extraem o seu óleo das águas do Mar do Norte, como a Grã-Bretanha e a Noruega, e se deu mal.
Na ocasião em que a crise apenas se desenhava no ar e diversos ministros de países integrantes do cartel faziam ameaças sobre ameaças contra seus competidores, nós dizíamos que venceria essa parada aquele que tivesse maior fôlego. E que o ganhador, certamente, não seria a organização exportadora.
Das simples ameaças, a Opep passou de imediato para providências concretas. Seus membros literalmente inundaram o mundo de petróleo, mesmo sabendo que o inverno no Hemisfério Norte, neste ano, foi um dos mais suaves e que por essa razão os reservatórios dos grandes consumidores puderam permanecer superlotados. E a lei do mercado, que é inflexível, sempre funcionando mesmo quando se busca interferir artificiosamente nos seus mecanismos, puniu aqueles insensatos que não a levaram em conta. Houve um excesso de oferta contra uma procura decrescente. Os preços, como era lícito e lógico de se esperar, despencaram vertiginosamente.
Houve, até, um determinado instante, no final do primeiro trimestre do corrente ano, em que uma autêntica catástrofe se configurou para os produtores, com as cotações de um barril do produto dando todas as indicações de que chegaria a ridículos US$ 5. A perspectiva chegou a provocar, não somente sobressaltos, mas uma autêntica operação de socorro nos principais centros financeiros, que têm plena consciência da importância dos petrodólares para movimentar seus negócios.
Mesmo o governo norte-americano beneficiado num ponto e prejudicado em outro com as baixas verificadas, ensaiou uma tímida reação diante das conseqüências dessa guerra entre a Opep e os independentes. O vice-presidente George Bush afirmou, em abril passado, pouco antes de seu embarque para a Arábia Saudita, que os Estados Unidos iriam adotar medidas para segurar os preços, o que foi, logo depois, solenemente desmentido pelo presidente Ronald Reagan.
O cartel bem que está tentando consertar o seu erro, com os meios que dispõe. Seus membros reuniram-se já por quatro vezes, apenas neste ano, para decidir proceder a uma diminuição na produção. Entretanto, embora todos saibam que devem ceder, ninguém quer ser o primeiro a ir para o sacrifício. O que se verificou nos últimos três meses foi exatamente o procedimento inverso daquele prometido.
As extrações dos membros da Opep subiram vertiginosamente, estando agora num incômodo patamar de 19,1 milhões de barris diários, inundando ainda mais o mundo de petróleo. O cartel abriu a "caixa de Pandora" do desequilíbrio e agora não sabe como recolher os males que dela escaparam para o interior do recipiente. Eles deveriam saber que com os negócios não se brinca e que mercado algum pode ser considerado cativo. Principalmente quando existe uma fila enorme de competidores querendo crescentes fatias desse bolo, que não é tão grande.
(Artigo publicado na página 17, Internacional, do Correio Popular, em 29 de junho de 1986)
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