Pedro J. Bondaczuk
O diretor de cinema francês, Jean-Luc Godard, pautou sua brilhante carreira por filmes não convencionais, fora dos padrões usuais da Sétima Arte, quer no aspecto técnico – “caracterizado pela mobilidade da câmera, pelos demorados planos sequenciais, pela montagem descontínua, pela improvisação e pela tentastiva de carregar cada imagem com valores e informações contraditórios”, como destaca a Wikipédia – quer pela ousadia dos temas que abordou. Provavelmente foi (e ainda é) o cineasta que mais tratou de política no cinema. É certo que a época em que rodou a maior parte de seus filmes “pedia” isso. O mundo “fervilhava” na ocasião, auge da chamada Guerra Fria.
Já que mencionei a enciclopédia eletrônica Wikipédia, aproveito a onda para reproduzir outra informação importante sobre o cineasta francês que colhi nessa preciosa fonte. “Após o movimento estudantil de maio de 1968, Godard criou o grupo de cinema Dziga Vertov — assim chamado em homenagem a um cineasta russo de vanguarda — e voltou-se para o cinema político. Pravda (1969) trata da invasão soviética da Tchecoslováquia; Le vent d'Est (1969; Vento do Oriente), com roteiro do líder estudantil Daniel Cohn-Bendit, desmistifica o western e Jusqu'à la victoire (1970; Até a vitória) enfatiza a guerrilha palestina. Mais uma vez, Godard procurou inovar a estética cinematográfica com Passion (1982), reflexão sobre a pintura. Os filmes seguintes, como Prénom: Carmen (1983) e Je vous salue Marie (1984), provocaram polêmica e o último deles, irreverente em relação aos valores cristãos, esteve proibido no Brasil e em outros países”.
Como se observa, Godard foi, sobretudo, um inovador do cinema nos seus mais diversos aspectos. Por isso, como seria de se esperar, como a maioria dos que fogem do convencional em suas obras, sofreu tanta oposição do “establishment” e gerou tantas polêmicas na imprensa e nos meios políticos. Todavia, nem todos os seus filmes podem ser caracterizados como “de arte”. Fez muitos, também, “comerciais”, que renderam excelentes bilheterias, mesmo que neles imprimisse sempre um toque diferente, uma personalização, uma espécie de assinatura. Ou seja, nunca deixou de ser fiel aos seus princípios;
Bem ou mal, a gosto ou a contragosto, o fato é que os “big boss” da poderosa e lucrativa indústria cinematográfica tiveram que engolir esse rebelde, que ousou virar de ponta cabeça os cânones convencionais de como fazer cinema. Tanto isso é verdade que Godard é um dos diretores mais premiados de sua geração (e das que a sucederam), nos vários festivais que participou. Faltava-lhe, porém, um Oscar, prêmio de maior prestígio na atividade que tem, para a Sétima Arte, importância equivalente, ou quase, que o Nobel para a Literatura. Faltava... não falta mais. Em 2010, a Academia de Cinema de Hollywood rendeu-se à evidência e outorgou-lhe a tão cobiçada estatueta. É verdade que se tratou de um Oscar honorário. Nem por isso, porém, deixa de ser um reconhecimento de sua importância para o cinema.
Entre os prêmios ganhos por Godard estão: o Urso de Ouro, no Festival de Berlim, por "Alphaville" (1965); o Urso de Prata especial, no Festival de Berlim, por "Charlotte et son Jules" (1960); o Urso de Prata de Melhor Diretor, no Festival de Berlim, por "À bout de souffle" (1959); o Leão de Ouro, no Festival de Veneza, por "Prenome Carmen" (1983); duas vezes o Prémio do Júri, no Festival de Veneza, por "Vivre sa vie" (1962) e "La chinoise, ou plutot a la chinoise" (1967), o Leão de Ouro Honorário, em homenagem à sua carreira (1982); o Leopardo de Honra, no Festival de Locarno, em 1995; duas nomeações ao César, na categoria de Melhor Filme, por "Sauve qui peut " (1979) e "Passion" (1982); duas nomeações ao César, na categoria de Melhor Realizador, por "Sauve qui peut " (1979) e "Passion" (1982); dois Césares Honorários, entregues em 1987 e 1998.
Fazendo uma retrospectiva da sua obra, agora que está afastado da atividade em decorrência da avançada idade, é fácil entender porque Godard despertou tanta polêmica e jamais deixou a crítica indiferente em relação aos seus filmes. Ainda hoje, uns não escondem o preconceito e, não raro, até rancor para com esse emérito anarquista, ou melhor, nihilista cultural. Outros tantos colocam-no como paradigma de genialidade.
Da minha parte, o melhor elogio que posso fazer a esse controvertido cineasta é classificando-o no que, de fato, é e sempre foi: um homem. Mas na melhor acepção do termo. Ou seja, racional e ativo. Afinal, trata-se (felizmente ainda está vivo) de um indivíduo às vezes incoerente, via de regra indócil e inconformado, mas que, sobretudo, ousa pensar e se responsabilizar pelo que pensa. E fez (provavelmente ainda faz) tudo isso em um mundo caracterizado, cada vez mais, pela massificação, pelo estúpido materialismo, pelo consumismo desbragado e perdulário, por idéias estandartizadas e sem conteúdo, por valores que pouco ou nada valem e pela crescente ausência de ideais que valham a pena conquistar. Honra ao mérito.
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