Wednesday, February 12, 2014

Caos caracteriza Leste Europeu


Pedro J. Bondaczuk


O Leste europeu pós-comunista voltou ao estado em que estava antes da Primeira Guerra Mundial, com as mesmas crises, contradições, movimentos nacionalistas e conflitos étnicos. Os vários países da região promovem um reordenamento territorial que pode ser explosivo ou não, dependendo da intensidade das tensões em cada área.

Todos, entretanto, apresentam uma característica comum: a total desorganização econômica. Alguns ensaiam os primeiros e penosos passos para a introdução de um sistema de mercado livre, mas o apoio político que os respectivos governos têm encontrado é virtualmente nulo.

Os casos mais graves são os da Iugoslávia, que enfrenta uma guerra civil que, a despeito do otimismo gerado pelo último cessar-fogo entre sérvios e croatas, ainda está muito longe de acabar, e da Romênia.

Os iugoslavos ainda não se livraram por completo do comunismo, já que ele subsiste na sua maior e mais poderosa República, a da Sérvia, que quer impor esse sistema para toda a federação em colapso. Os romenos, por seu turno, parecem temer a liberdade política.

Tanto é que o país foi o único de Leste europeu onde o comunismo desmoronou na boca dos fuzis e dos canhões, com a sangrenta revolução de dezembro de 1989 que acabou com a ditadura de Nicolae Ceausescu.

Aquela luta foi do povo que, desesperado com o clima de terror, de abandono e de corrupção que assolava sua pátria, pegou em armas disposto a morrer para se livrar do pesadelo. A rigor, a revolta não teve líderes. Todavia, uma "Frente de Salvação Nacional" reivindicou os méritos do sucesso e acabou tomando o poder.

Tratam-se de dissidentes comunistas, com grande talento de persuasão, que acabaram por convencer a sociedade romena e conseguiram vencer as primeiras eleições livres realizadas no país, no ano passado. O novo grupo concedeu, é verdade, uma relativa liberdade política à população, mas não a econômica. Daí a caótica revolta dos mineiros de carvão, em andamento em Bucareste.

O historiador britânico Paul Johnson afirmou, no início da década de 1980: "Já não acredito, como outrora, que seja possível preservar a liberdade política nos países em que a liberdade econômica foi eliminada". Os fatos que se sucederam desde então lhe deram inteira razão.

Nenhum país que se livrou da ditadura, seja ela de que tendência for, está a salvo de novos "fechamentos", de novas tiranias, de novos tiranos, se não der ao seu respectivo povo uma perspectiva de futuro melhor. Se não permitir que cada cidadão exerça seu livre arbítrio, escolhendo onde e no que quer trabalhar, o que consumir, como se informar e assim por diante.

O perigo de golpe persiste até mesmo na União Soviética, mesmo que não mais dos comunistas, totalmente desacreditados por lá. Recorde-se, porém, que Adolf Hitler e o nazismo surgiram numa Alemanha que, guardadas as devidas proporções, passava por uma crise semelhante à dos soviéticos.

E ditadura é ditadura, não importa se de direita ou de esquerda. A tendência histórica, aliás, é a dos povos oprimidos, desacostumados à liberdade, passarem de um extremo ao outro. Do comunismo ao fascismo, por exemplo. O grande temor no Ocidente é pelo vazio de lideranças que se observa no Leste europeu.

É verdade que há um Lech Walesa, na Polônia; um Vaclav Havel, na Checoslováquia; um Mikhail Gorbachev e um Bóris Yeltsin, na União Soviética. Mas esse elenco é extremamente reduzido. Nenhuma sociedade que se preze e que aspire a um grande futuro pode ficar na dependência de apenas um, dez, cem ou mil líderes.

O ser humano é frágil demais e sobretudo mortal. Se esse comandante carismático único eventualmente morrer ou ficar gravemente doente, quem conduzirá o povo? Yeltsin, recentemente, teve um problema de saúde e imediatamente seu mal estar orgânico se refletiu nas bolsas de valores do Ocidente. A principal tarefa do Leste europeu, portanto, depois de equacionar sua crise política, é estimular o surgimento de novas lideranças, num espectro ideológico o mais amplo e diversificado possível.

(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 27 de setembro de 1991).


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