Caos caracteriza Leste Europeu
Pedro J. Bondaczuk
O
Leste europeu pós-comunista voltou ao estado em que estava antes da Primeira
Guerra Mundial, com as mesmas crises, contradições, movimentos nacionalistas e
conflitos étnicos. Os vários países da região promovem um reordenamento
territorial que pode ser explosivo ou não, dependendo da intensidade das
tensões em cada área.
Todos,
entretanto, apresentam uma característica comum: a total desorganização
econômica. Alguns ensaiam os primeiros e penosos passos para a introdução de um
sistema de mercado livre, mas o apoio político que os respectivos governos têm
encontrado é virtualmente nulo.
Os
casos mais graves são os da Iugoslávia, que enfrenta uma guerra civil que, a
despeito do otimismo gerado pelo último cessar-fogo entre sérvios e croatas,
ainda está muito longe de acabar, e da Romênia.
Os
iugoslavos ainda não se livraram por completo do comunismo, já que ele subsiste
na sua maior e mais poderosa República, a da Sérvia, que quer impor esse
sistema para toda a federação em colapso. Os romenos, por seu turno, parecem
temer a liberdade política.
Tanto
é que o país foi o único de Leste europeu onde o comunismo desmoronou na boca
dos fuzis e dos canhões, com a sangrenta revolução de dezembro de 1989 que acabou
com a ditadura de Nicolae Ceausescu.
Aquela
luta foi do povo que, desesperado com o clima de terror, de abandono e de
corrupção que assolava sua pátria, pegou em armas disposto a morrer para se
livrar do pesadelo. A rigor, a revolta não teve líderes. Todavia, uma
"Frente de Salvação Nacional" reivindicou os méritos do sucesso e
acabou tomando o poder.
Tratam-se
de dissidentes comunistas, com grande talento de persuasão, que acabaram por
convencer a sociedade romena e conseguiram vencer as primeiras eleições livres
realizadas no país, no ano passado. O novo grupo concedeu, é verdade, uma
relativa liberdade política à população, mas não a econômica. Daí a caótica
revolta dos mineiros de carvão, em andamento em Bucareste.
O
historiador britânico Paul Johnson afirmou, no início da década de 1980:
"Já não acredito, como outrora, que seja possível preservar a liberdade
política nos países em que a liberdade econômica foi eliminada". Os fatos
que se sucederam desde então lhe deram inteira razão.
Nenhum
país que se livrou da ditadura, seja ela de que tendência for, está a salvo de
novos "fechamentos", de novas tiranias, de novos tiranos, se não der
ao seu respectivo povo uma perspectiva de futuro melhor. Se não permitir que
cada cidadão exerça seu livre arbítrio, escolhendo onde e no que quer
trabalhar, o que consumir, como se informar e assim por diante.
O
perigo de golpe persiste até mesmo na União Soviética, mesmo que não mais dos
comunistas, totalmente desacreditados por lá. Recorde-se, porém, que Adolf Hitler
e o nazismo surgiram numa Alemanha que, guardadas as devidas proporções,
passava por uma crise semelhante à dos soviéticos.
E
ditadura é ditadura, não importa se de direita ou de esquerda. A tendência
histórica, aliás, é a dos povos oprimidos, desacostumados à liberdade, passarem
de um extremo ao outro. Do comunismo ao fascismo, por exemplo. O grande temor
no Ocidente é pelo vazio de lideranças que se observa no Leste europeu.
É
verdade que há um Lech Walesa, na Polônia; um Vaclav Havel, na Checoslováquia;
um Mikhail Gorbachev e um Bóris Yeltsin, na União Soviética. Mas esse elenco é
extremamente reduzido. Nenhuma sociedade que se preze e que aspire a um grande
futuro pode ficar na dependência de apenas um, dez, cem ou mil líderes.
O
ser humano é frágil demais e sobretudo mortal. Se esse comandante carismático
único eventualmente morrer ou ficar gravemente doente, quem conduzirá o povo?
Yeltsin, recentemente, teve um problema de saúde e imediatamente seu mal estar
orgânico se refletiu nas bolsas de valores do Ocidente. A principal tarefa do
Leste europeu, portanto, depois de equacionar sua crise política, é estimular o
surgimento de novas lideranças, num espectro ideológico o mais amplo e
diversificado possível.
(Artigo
publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 27 de setembro de
1991).
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