Friday, February 21, 2014

Promessas, apenas promessas


Pedro J. Bondaczuk


Existe uma enorme diferença entre fazer uma promessa e cumpri-la integralmente, ou mesmo em parte. A acreditar na sinceridade dos signatários da “Declaração sobre valores democráticos”, emitida, ontem, em Londres, pelos sete principais países industrializados do Ocidente, as relações entre sociedades nacionais deverão entrar nos devidos eixos daqui para diante.

Os EUA deixarão de fazer vistas grossas à ação da CIA na Nicarágua, não enviarão mais armas ao exército salvadorenho, deixarão de perpetrar invasões como a de Granada em outubro passado, e assim por diante.

Claro que tudo isso aconteceria se, no plano das ações, as palavras ganhassem vida. Mas, desgraçadamente, sempre existe um incômodo “se” para atrapalhar. No documento divulgado em Londres, os sete ricos comprometeram-se a “renunciar ao uso da força militar para solucionar disputas internacionais”. E há quem acredite nisso?

Prometeram, ainda, “apoio àqueles que sofrem ou estejam em necessidade...”. Mas não revelaram a partir de quando e como. Expressaram, mesmo, o compromisso da promoção de uma nova “Revolução Industrial”, só que se esqueceram de dizer que às custas da mão-de-obra vítima das incipientes indústrias do Terceiro Mundo, cujas cotações são ditadas por uma concorrência desleal, que induz os salários sempre para baixo, diante da menor oferta do que a procura de colocações profissionais.

Como um fogo de artifício, o documento até que tem palavras bonitas, capazes de encher de esperança os ingênuos e desavisados. Isto é, produz efeitos “pirotécnicos”. Não resta dúvida que se trata de uma importante peça de propaganda, que vai, certamente, contribuir para a reeleição de Ronald Reagan para um novo período de quatro anos na Casa Branca.

Mas tanto o teor desse documento, quanto tudo o que foi debatido nesse décimo encontro de compadres em Londres, ou é fruto de um desmedido cinismo (no que não acreditamos), ou os poderosos do Ocidente estão muito desinformados sobre o que ocorre no Planeta, do qual eles são virtuais donos de uma metade.

Quem sabe se houvesse, todos os anos, uma eleição presidencial nos Estados Unidos, esses “nobres” propósitos seriam postos em prática e essas mirabolantes promessas seriam, enfim, cumpridas. Que sabe? 

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 9 de junho de 1984)


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