Promessas,
apenas promessas
Pedro J. Bondaczuk
Existe uma enorme diferença entre fazer uma promessa
e cumpri-la integralmente, ou mesmo em parte. A acreditar na sinceridade dos
signatários da “Declaração sobre valores democráticos”, emitida, ontem, em Londres,
pelos sete principais países industrializados do Ocidente, as relações entre
sociedades nacionais deverão entrar nos devidos eixos daqui para diante.
Os EUA deixarão de fazer vistas grossas à ação da
CIA na Nicarágua, não enviarão mais armas ao exército salvadorenho, deixarão de
perpetrar invasões como a de Granada em outubro passado, e assim por diante.
Claro que tudo isso aconteceria se, no plano das
ações, as palavras ganhassem vida. Mas, desgraçadamente, sempre existe um
incômodo “se” para atrapalhar. No documento divulgado em Londres, os sete ricos
comprometeram-se a “renunciar ao uso da força militar para solucionar disputas
internacionais”. E há quem acredite nisso?
Prometeram, ainda, “apoio àqueles que sofrem ou
estejam em necessidade...”. Mas não revelaram a partir de quando e como.
Expressaram, mesmo, o compromisso da promoção de uma nova “Revolução
Industrial”, só que se esqueceram de dizer que às custas da mão-de-obra vítima
das incipientes indústrias do Terceiro Mundo, cujas cotações são ditadas por
uma concorrência desleal, que induz os salários sempre para baixo, diante da
menor oferta do que a procura de colocações profissionais.
Como um fogo de artifício, o documento até que tem
palavras bonitas, capazes de encher de esperança os ingênuos e desavisados.
Isto é, produz efeitos “pirotécnicos”. Não resta dúvida que se trata de uma
importante peça de propaganda, que vai, certamente, contribuir para a reeleição
de Ronald Reagan para um novo período de quatro anos na Casa Branca.
Mas tanto o teor desse documento, quanto tudo o que
foi debatido nesse décimo encontro de compadres em Londres, ou é fruto de um
desmedido cinismo (no que não acreditamos), ou os poderosos do Ocidente estão
muito desinformados sobre o que ocorre no Planeta, do qual eles são virtuais
donos de uma metade.
Quem sabe se houvesse, todos os anos, uma eleição
presidencial nos Estados Unidos, esses “nobres” propósitos seriam postos em
prática e essas mirabolantes promessas seriam, enfim, cumpridas. Que sabe?
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do
Correio Popular, em 9 de junho de 1984)
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