Paralelismos nem tão
paralelos
Pedro
J. Bondaczuk
O escritor João Ubaldo
Ribeiro, um dos personagens desta série de estudos baseada na antologia
“Histórias da Bahia” (Edições GDR, Rio de Janeiro, 1963) sobre alguns dos
principais ficcionistas baianos, está naquela minha extensa lista de
preferidos, como destaquei em texto anterior. Afirmei, na oportunidade, que
essa preferência se devia a duas circunstâncias básicas. A primeira, e óbvia, é
a qualidade de sua obra. Como me julgo leitor de bom gosto, seria a coisa mais lógica e natural do
mundo gostar dos seus livros, de todos os gêneros pelos quais transitou e
transita. Isso é para lá de óbvio.
Confidenciei na ocasião
que há outro motivo para apreciar tudo o que se refira a essa maiúscula figura
das nossas letras e que esse era de ordem estritamente pessoal. Bem, vou logo
adiantando que não o conheço pessoalmente e ele muito menos a mim. É provável,
ou mais, é certo que ele jamais ouviu falar de mim e duvido que venha a ouvir
algum dia. Sequer desconfia da minha existência. Não alcancei (ainda) nível de
importância que me habilite a ser conhecido além dos limites do Estado em que
habito, ou, para ser mais exato, de Campinas, cidade que tanto amo e que tem me
dado muito mais do que mereço.
“Então que raios de
motivos pessoais você tem para gostar tanto de João Ubaldo?!”, perguntará, com
toda certeza, em tom prévio de censura, aquele leitor chato e intrometido, que
menciono a todo instante em meus textos (menção essa que os críticos de
plantão, os tais que “sabem tudo” e que na verdade não sabem nada, condenam e
consideram como de “mau tom”, o que discordo e, por isso, continuarei
escrevendo assim sempre que me der na veneta). Bem, essas razões são tão
particulares, que gostaria de omiti-las. Mas não omitirei, sob o risco de
passar uma imagem infantil e até piegas. É um paralelismo que nem é tão
paralelo assim. Não frustrarei os leitores que me solicitaram que o fizesse,
porém, através de e-mails. Afinal, não vivo apregoando que o escritor não pode
ter escrúpulos em relação à sua imagem e que não deve vacilar em se “desnudar”
publicamente quando julgar necessário? Pois então! Farei isso, ora bolas, mesmo
que minhas confidências venham a ser interpretadas como piegas, ou como tolas,
o que talvez até sejam.
O primeiro motivo
pessoal (e, reitero, não me refiro ao óbvio, que é a qualidade de sua obra),
pelo qual sinto inegável familiaridade quando ouço ou leio a respeito de João
Ubaldo, é o fato dele ser de minha geração. O escritor baiano é exatos um ano e
trezentos e sessenta e dois dias mais velho do que eu. Ele nasceu em 23 de
janeiro de 1941 e eu em 20 de janeiro de 1943. Mas não é só isso. Ambos
cursamos Direito, posto que em faculdades diferentes. Ele em Salvador e eu na
Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Ambos, todavia, jamais advogamos,
optando pelo jornalismo e pela Literatura.
Bem, as semelhanças
param por aí. João Ubaldo, graças ao seu imenso talento, é nome não somente
nacional, mas internacional no mundo das letras, premiadíssimo e super requisitado.
Já eu... batalho para sair da areia movediça da minha insignificância e luto
por um lugarzinho ao sol, mesmo que restrito ao meu mundinho particular. Minto.
Há outra coisa que ambos fizemos, posto que com uma diferença abissal, tão
gritante como a que existe entre a água e o fogo, em termos de importância:
ambos somos acadêmicos. Calma, pessoal, ainda não cheguei lá! Não, não sou
membro da Casa de Machado de Assis, que está distante de mim como a Terra está
de algum eventual planeta da estrela Orion.
Sou, desde 1992, com
muita honra, integrante da Academia Campinense de Letras. Ocupo, pois, há 21
anos, a cadeira de número 14. “E onde a coincidência?!”, certamente voltará à
carga o tal do leitor chato e sempre azedo que citei acima. Bem, João Ubaldo é,
desde 1993, também acadêmico. Da Campinense? Sem demérito algum à casa de
cultura que me abriga (e da qual me orgulho), não, não é! É da Academia
Brasileira de Letras, Mas a cadeira que ocupa, por coincidência (e ei-la aí!),
também é a de número 14.
Sei que são fatores
minúsculos, ínfimos, pífios até, descambando para o ridículo, mas me apego a
eles como algo precioso para mim. Ademais, já avisei, previamente, que esse
apego sentimental poderia ser interpretado – talvez seja, talvez não e talvez
passe até mesmo incólume, sendo simplesmente ignorado, tão sem sentido que é –
como piegas e, sobretudo, como tolo. Apenas trouxe-os à baila por haver, em
texto anterior, deixado escapar (imprudentemente) que eles existiam, sem
revelar na ocasião quais eram.
E por ser tão instado
(praticamente intimado), na sequência, por vários leitores, através de e-mails
que recebi (foram dezenas deles), decidi revelar quais eram essas razões
pessoais para considerar João Ubaldo “familiar” e um dos meus tantos escritores
preferidos. Certamente, quem fez essa solicitação tinha a (vã) expectativa de
que fossem coisas relevantes o que eu “teria” a dizer a respeito. Óbvio, não
são. Pelo menos não para os outros. Para mim, contudo, têm relevância, e muita,
ora bolas! Pensem de mim o que quiserem. Mas foi a contragosto, repito, e
correndo todos os riscos para a minha imagem, que decidi escrever este punhado
de tolices, sem pé e nem cabeça, no que espero ser perdoado. Porquanto, jamais
nego qualquer coisa para os que me honram com sua generosa leitura, sejam quais
forem as conseqüências da minha disponibilidade.
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