Genocídios
afetam a humanidade
Pedro J. Bondaczuk
Os judeus lembraram, contristados (mesmo tendo passado
tantos anos), o holocausto, ontem, quando prestaram homenagem a um grupo de
heróis desesperados que protagonizou o levante do Gueto de Varsóvia em abril de
1943. Este fato doloroso deveria ser recordado, também, por nós, que não
pertencemos à comunidade hebraica, pelo seu profundo significado. Não que este
tenha sido o único genocídio a ocorrer no mundo, ou neste século.
Tivemos outros, tão cruéis quanto ele. Como o
massacre de armênios, em 1917, por parte da Turquia. Ou os expurgos de Stalin,
na União Soviética, na década de 30. Ou então o morticínio a cargo do Khmer
Vermelho, comandado por Pol Pot, no Camboja, entre 1973 e 1975.
Este último, que redundou na morte de 5,5 milhões de
cambojanos (quase o mesmo tanto de vítimas judias dos nazistas), aconteceu bem
debaixo das nossas vistas. A imprensa internacional noticiou. Mas ninguém fez
nada para evitar. Ao contrário, o criminoso que comandou esse genocídio ainda
conte, hoje em dia, com o respaldo do Ocidente em sua tentativa de derrubar o
regime títere de Heng Samrin, apoiado por 200 mil soldados vietnamitas.
Em todos os casos mencionados, todavia, os autores
das chacinas foram da própria nacionalidade (à exceção do morticínio dos
armênios). As vítimas, bem ou mal, tiveram alguma chance (posto que
remotíssima) de defesa.
No caso judeu, não. Foi um extermínio planejado,
metódico, covarde, sistemático, como se fosse uma linha de produção. Um
determinado povo cismou que deveria eliminar da face da Terra até mesmo os
vestígios de um outro. E tudo por uma questão de preconceito, esse câncer que
ainda corrói a alma de tanta gente, que às vezes nem mesmo se apercebe disso.
E por que essa questão diz respeito a todos nós, e
não somente aos judeus? Porque, como observou o escritor Ellie Wiesel, ele
próprio vítima desse massacre, por perder toda a sua família num campo de
extermínio, “quando um grupo é perseguido, a humanidade inteira é atingida”.
Quem extermina é da mesma espécie do exterminado. É
mortal e transitório, como ele. Tem as mesmas virtudes e defeitos. Possui
idênticas necessidades. Ora, quando se inventa um pretexto para crimes
monstruosos como esse e a maioria aprova (posto que por omissão), quem deu o
seu “sim” mudo hoje, pode ser o eliminado de amanhã.
Alguém pode cismar, sem essa ou mais aquela, por
exemplo, que quem tem olhos azuis deve ser morto. Ou quem possui pele um pouco
mais escura. Ou quem é pobre. Dessa maneira, todos ficamos expostos aos caprichos
de meia dúzia de celerados, que cometem seus crimes impunemente, porque ninguém
tem coragem de lhes fazer oposição. Por isso, casos como estes são da conta de
todos nós. Afinal, podemos ser as vítimas de amanhã!
(Artigo publicado na
página 12, Internacional, do Correio Popular, em 15 de abril de 1988).
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