Corrupção atrapalha repressão
Pedro J. Bondaczuk
O aumento da produção, e
conseqüentemente do tráfico de drogas, em 1984, foi qualquer coisa de
espantoso, principalmente se for levada em conta a intensificação de uma
campanha internacional para diminuir esse nefasto comércio.
Há
duas semanas, o Departamento de Estado dos EUA divulgou o seu relatório anual
sobre o assunto. E os dados nele constantes revelam a impotência dos organismos
repressores no combate aos produtores, principalmente de maconha, ópio e
cocaína.
Os
norte-americanos mantêm relações diplomáticas com dez, dos treze maiores
plantadores da “cannabis”, da papoula e da Erythroxylum (coca), plantas de onde
se extraem as drogas mais consumidas no país. E em sete deles, as colheitas
aumentaram em níveis alarmantes, a despeito das promessas dos respectivos
governos de destruírem essas lavouras.
Belize,
Bolívia, Birmânia, Colômbia, Equador, Jamaica, México, Peru, Paquistão e
Tailândia produziram, apenas em 1984 (pasmem!), 18.880 toneladas de maconha,
130.880 toneladas de folhas de coca (não incluindo o epadu, que tem menor
rendimento) e 763 toneladas de ópio. Droga suficiente, como se vê, para
enlouquecer toda a população norte-americana e ainda sobrar resto para
corromper a juventude da Europa.
Todas
as campanhas movidas pelas autoridades esbarram, invariavelmente, num problema
gravíssimo, e hoje até generalizado, que é a corrupção. Para que o leitor tenha
uma idéia, o comércio de coca movimenta mais dinheiro do que todas as
exportações bolivianas reunidas.
Sessenta
mil hectares de terras da Bolívia são ocupados com a cultura, que propicia três
colheitas anuais. É impossível sequer de se estimar o volume real de divisas
movimentado por esse comércio, tão elevadas são as suas proporções e tal é o
sigilo que cerca essa atividade criminosa.
O
relatório do Departamento de Estado dos EUA, embora o melhor elaborado e mais
preciso estudo sobre o problema divulgado até o momento, não pode ser tomado
como um dado definitivo sobre a produção real das drogas que analisa.
Por
exemplo, o documento constata que a Bolívia produziu 49.200 toneladas de folhas
de coca em 1984, situando-se abaixo do Peru na safra, quando próprias fontes
bolivianas admitem que a produção foi cerca de 300% maior, superando as 120 mil
toneladas.
Com
as cotações atingindo importâncias altíssimas por grama e levando-se em conta
que as quantidades assinaladas no relatório norte-americano são de droga pura
(a comercializada tem uma mistura de um por três de outros aditivos), dá para
se Ter uma idéia de quanto são monumentais o volume vendido e o dinheiro
arrecadado.
Quanto
dessa quantia não deve estar sendo usada para subornar pessoas em posição chave
na repressão ao tráfico? Cifras mirabolantes, com certeza, capazes de virar a
cabeça de qualquer mortal, principalmente nestes tempos de “vacas magras”,
desmoralizando todas as tentativas bem intencionadas de reduzir (já que parece
impossível extinguir) esse nefasto comércio.
A
dolorosa conclusão a que se chega é que as pessoas, tão incompetentes para
encontrar soluções adequadas para os problemas econômicos pessoais e de suas
comunidades, por meios lícitos, mostram diabólica competência para gerir
empreendimentos criminosos, profundamente nocivos e sob todos os aspectos que
se olhe condenáveis, como o grande “negócio” do vício.
(Artigo
publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 27 de
fevereiro de 1985).
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