Tuesday, February 18, 2014

Astro das letras à prova de contestações

Pedro J. Bondaczuk

O décimo segundo escritor (por ordem de publicação) a ter conto incluído na antologia “Histórias da Bahia” (Edições GDR, Rio de Janeiro, 1963), que tomei como referência para esta série de estudos sobre alguns dos principais ficcionistas baianos, é João Ubaldo Ribeiro. Após estudar alguns aspectos sobre sua vida e, sobretudo, sobre sua vasta, eclética e incontestável produção literária, fico me questionando sobre o que mais poderia escrever a seu respeito que alguém já não tenha escrito, e com muito mais propriedade do que eu. Concluo: nada! Isso não quer dizer que me omitirei de “palpitar” a propósito, até porque tenho um carinho muito particular por esse homem de letras. Por que? Por todos os motivos imagináveis: quer por razões literárias, quer pelas estritamente pessoais.

Quanto ás primeiras, João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro, nascido em Itaparica, ilha que fica bem em frente a Salvador, em 23 de janeiro de 1941, conquistou tudo o que um escritor possa aspirar. Ou melhor, quase tudo. Falta-lhe, somente, o Nobel de Literatura, que não duvido nada que venha conseguir nos próximos anos, quem sabe, até, já em 2014, caso sua postulação, claro, seja apresentada junto à Academia Sueca. Currículo para tal ele tem e de sobra. Mas se não conquistou, ainda, a honraria mais badalada do mundo das letras, obteve uma de peso quase equivalente, pelo menos em língua portuguesa: ganhou o Prêmio Camões de 2008.

João Ubaldo Ribeiro conta com o reconhecimento – não digo “unânime”, mas quase – pois como Nelson Rodrigues enfatizou um dia, “toda a unanimidade é burra” -   dos seus pares. Prova disso é que foi eleito, em 1993, para a Academia Brasileira de Letras, onde ocupa a cadeira de número catorze, sucedendo o ilustre jornalista e escritor Carlos Castelo Branco. Vários dos seus livros foram adaptados para o cinema e para a televisão e foram inquestionáveis sucessos. É até redundante mencionar quais, por serem de conhecimento público. Afinal, qual cinéfilo renitente não conhece, por exemplo, “Sargento Getúlio”, dirigido por Hermano Penna, estrelado por Lima Duarte? Ademais, essa obra cinematográfica recebeu vários prêmios, nacionais e internacionais, em 1983, puxado pelo admirável enredo. Não citarei outros filmes para não ser redundante em demasia. Mas mencionarei adaptações de duas de suas histórias para a televisão.

Por exemplo, seu romance “O sorriso do lagarto” foi adaptado, em 1991, para uma minissérie memorável da Rede Globo. Quem assiste TV com freqüência (e raros são os brasileiros que não assistem) certamente se lembra dessa história, que teve, como principais protagonistas Tony Ramos, Maitê Proença e José Lewgoy. É pouco? Então o que dizer do Caso Especial, da mesma emissora, baseado no livro “O santo que não acreditava em Deus”, levado ao ar em 1993 e estrelado por Lima Duarte? Poderia citar outras obras de João Ubaldo adaptadas para a telinha ou para a telona, mas não o farei. Seria redundância em excesso da minha parte.

Há, pois, como contestar uma carreira literária tão bem-sucedida? E olhem que sequer mencionei que seu romance “Viva o povo brasileiro” virou samba-enredo da escola de samba Império da Tijuca e abrilhantou o desfile do Rio de Janeiro, no Carnaval de 1987. Conhecido, como o leitor vê, João Ubaldo é e, sobretudo, é popular. Ele consegue a rara façanha de ser familiar até para quem nunca leu um reles livro em toda sua vida e, mais: até pelo mais convicto dos analfabetos.

Como encontrar, pois, coisas novas, a propósito de sua trajetória na Literatura, que alguém já não tenha dito ou escrito? Será que existem? Não sei! Ainda assim, tentarei comentar aspectos de sua vida e carreira, os não muito enfatizados por pessoas muito mais competentes do que eu. Tentarei, mas não garanto que terei sucesso. Ainda não citei, é verdade, os tais motivos pessoais que me levam a estudar com carinho especial a trajetória e a obra de João Ubaldo. Eles são tantos, e tão inusitados, que terei que fazer isso em outro dia, que não hoje e com mais vagar.

O curioso é que, quando a antologia “Histórias da Bahia” foi publicada, em 1963, essa figura consagrada da Literatura estava recém dando os primeiros passos como escritor. Não tinha nenhum livro ainda, não pelo menos “solo”, publicado. E sua produção literária restringia-se a colaborações esparsas nos jornais de Salvador. Aliás, havia publicado, sim, alguns contos, mas numa obra coletiva, junto com David Salles, Sônia Coutinho e Noênio Spinola. Essa mini-antologia foi intitulada de “Reunião”. Quando “Histórias da Bahia” foi lançado, em 1963, João Ubaldo tinha apenas 22 anos de idade. Foi, de acordo com o organizador dessa antologia (que a editora sequer identifica) uma das quatro “apostas” feitas pelo editor. E, convenhamos, quem apostou nele, seja lá quem for,, acertou bem na mosca.


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