Amarga vitória de Thatcher
Pedro J. Bondaczuk
O fim da greve dos mineiros
de carvão na Grã-Bretanha, decretado anteontem, após uma assembléia do
sindicato nacional da categoria, marca uma tremenda derrota do trabalhismo
britânico, em termos políticos e, por conseqüência, um triunfo da
primeira-ministra Margareth Thatcher, que aceitou o desafio para um
“braço-de-ferro” com os sindicalistas e o venceu.
Mas
o movimento, o mais longo da história (pelo menos a recente) daquele país,
deixou seqüelas indesejáveis e perigosas, rancores que foram absorvidos, mas
não esquecidos, e provocou uma profunda divisão na sociedade inglesa (ou,
antes, a colocou à mostra).
O
sindicato dos mineiros, até aqui, era o mais forte e temido na Grã-Bretanha. No
passado, num movimento semelhante, porém de mais curta duração do que o quase
um ano de greve atual (iria completar essa marca no próximo Sábado), derrubou
um outro gabinete conservador, o de Edward Heath. Esse é um dado que Thatcher,
meticulosa como costuma ser, certamente não iria esquecer. E não esqueceu.
A
primeira-ministra apostou no “realismo” dos trabalhadores, que acima de
qualquer militância política, têm que prover o sustento de suas famílias. Na
taxa de desemprego, batendo seguidos e sucessivos recordes, registrando mais de
três milhões de pessoas, aptas ao trabalho, sem ocupação atualmente E deixou que o movimento se esvaziasse por si
só, não sem antes promover divisões no seio do outrora monolítico sindicato.
Com
essa estratégia, é certo que conseguiu dobrar a espinha dos sindicalistas. Mas
não é menos verdade que criou condições para novos “rounds” no futuro, gerando
em torno de si uma aura de intolerância e de surdos rancores, nada saudáveis
numa sociedade às voltas com enormes problemas econômicos.
Foi
uma vitória da persistência, sem dúvida. Ou, quem sabe, da intransigência. Caso
se enquadre nessa última classificação, mais cedo ou mais tarde se revelará
trata-se de uma mera “Vitória de Pirro”.
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 5 de março de
1985).
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