Tuesday, February 04, 2014

Amarga vitória de Thatcher


Pedro J. Bondaczuk


O fim da greve dos mineiros de carvão na Grã-Bretanha, decretado anteontem, após uma assembléia do sindicato nacional da categoria, marca uma tremenda derrota do trabalhismo britânico, em termos políticos e, por conseqüência, um triunfo da primeira-ministra Margareth Thatcher, que aceitou o desafio para um “braço-de-ferro” com os sindicalistas e o venceu.

Mas o movimento, o mais longo da história (pelo menos a recente) daquele país, deixou seqüelas indesejáveis e perigosas, rancores que foram absorvidos, mas não esquecidos, e provocou uma profunda divisão na sociedade inglesa (ou, antes, a colocou à mostra).

O sindicato dos mineiros, até aqui, era o mais forte e temido na Grã-Bretanha. No passado, num movimento semelhante, porém de mais curta duração do que o quase um ano de greve atual (iria completar essa marca no próximo Sábado), derrubou um outro gabinete conservador, o de Edward Heath. Esse é um dado que Thatcher, meticulosa como costuma ser, certamente não iria esquecer. E não esqueceu.

A primeira-ministra apostou no “realismo” dos trabalhadores, que acima de qualquer militância política, têm que prover o sustento de suas famílias. Na taxa de desemprego, batendo seguidos e sucessivos recordes, registrando mais de três milhões de pessoas, aptas ao trabalho, sem ocupação atualmente  E deixou que o movimento se esvaziasse por si só, não sem antes promover divisões no seio do outrora monolítico sindicato.

Com essa estratégia, é certo que conseguiu dobrar a espinha dos sindicalistas. Mas não é menos verdade que criou condições para novos “rounds” no futuro, gerando em torno de si uma aura de intolerância e de surdos rancores, nada saudáveis numa sociedade às voltas com enormes problemas econômicos.

Foi uma vitória da persistência, sem dúvida. Ou, quem sabe, da intransigência. Caso se enquadre nessa última classificação, mais cedo ou mais tarde se revelará trata-se de uma mera “Vitória de Pirro”.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 5 de março de 1985).


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