Monday, April 25, 2016

Mobilização pela segurança


Pedro J. Bondaczuk


O aumento da violência e da criminalidade em todo o País despertou, com  razão, a mobilização crescente da sociedade, que não suporta mais conviver com o atual estado de coisas. Diversas pessoas e entidades civis vêm oferecendo, de variadas maneiras, inclusive pela Internet, sugestões práticas e factíveis, no afã de contribuir para a solução de tão grave problema. Muitas podem (e devem) ser aproveitadas, e postas imediatamente em execução. Outras, chegam a ser folclóricas, de tão fantasiosas, mas valem pelo engajamento dos cidadãos.

Uma das formas de prevenção à violência urbana, com a qual o governo federal manifestou plena concordância, em princípio está sendo seriamente prejudicada pelo racionamento de energia elétrica em vigor no País. É a que se refere ao reforço da iluminação pública das cidades, principalmente nos pontos mais sensíveis, onde o risco de ocorrerem delitos seja maior.

Para atingir as metas de economia de eletricidade, no entanto, a Companhia Paulista de Força e Luz desligou 11.500 lâmpadas, das principais avenidas e praças de Campinas. Felizmente, a mudança de hábitos dos campineiros e o reforço no policiamento por parte da Polícia Militar, que deslocou 20% dos funcionários do seu setor administrativo para o serviço de patrulhamento ostensivo, impediram crescimento explosivo da criminalidade no Município, que ainda assim ostenta índices intoleráveis. Entre as vítimas da violência, a mais ilustre e lamentada é, sem dúvida, o prefeito Antonio da Costa Santos, assassinado, há um mês, em uma avenida que estava "na penumbra", quando voltava, tarde da noite, da academia de ginástica do irmão.

Não há como negar, pois, que a cidade corre sérios riscos com a brusca e profunda redução da iluminação pública em suas praças e avenidas. Em uma fotografia tirada por satélite, a 830 quilômetros de altura, a região de Campinas foi a que apresentou maior redução de área iluminada do Estado: 192 quilômetros quadrados a menos do que em 2000. A pergunta, óbvia, que se impõe é: por que nós temos que fazer mais economia de eletricidade do que os outros, nos expondo a tantos e tão tremendos perigos?

O aumento do policiamento ostensivo, nos pontos mais sensíveis, consta de todas as propostas de reforço da segurança. Sugere-se, neste caso, a utilização da Guarda Municipal, mesmo com homens desarmados, para policiar locais considerados propícios à ocorrência de crimes. Propõe-se, também, o uso de câmeras de TV nesses pontos, com estrutura adequada para a tomada de providências urgentes se notada a presença de pessoas suspeitas, ou se houver ocorrência que justifique imediata intervenção policial. Trata-se de medida relativamente barata e que pode dar excelentes resultados.

Reivindica-se, também, comunicação mais freqüente entre a população e a Polícia, quer através do serviço "Disque Denúncia", quer por outros meios que eventualmente venham a ser criados. Mas que as pessoas não se limitem a comunicar às autoridades os fatos que "já ocorreram". Ajam, isso sim, em sentido preventivo, comunicando os perigos reais da cidade, para evitar que atos de violência venham a ser cometidos contra quem quer que seja. Afinal, já diziam nossos avós: "prevenir é melhor do que remediar".

Quanto ao trânsito, algumas cidades já estão reduzindo o tempo de parada dos veículos nos faróis, a partir de determinadas horas da noite. Sugere-se, inclusive, que os motoristas se acostumem a buzinar com insistência quando perceberem movimentos suspeitos em seu trajeto, para alertarem outros, que vierem atrás, para o perigo, e evitarem, dessa forma, assaltos e seqüestros-relâmpagos. Juntos, em estreita cooperação, Poder Público e sociedade podem senão acabar com a violência e a criminalidade, pelo menos reduzir bastante seus índices. Por isso, a cidade tem que se manter mobilizada, unida e atenta. Trata-se de uma guerra sem tréguas e sem quartel, tão, ou mais, importante do que aquela que os países do Primeiro Mundo, liderados pelos Estados Unidos, movem contra o terrorismo internacional.


(Artigo publicado na página 2, Opinião, do jornal Campinas Hoje, em 10 de outubro de 2001)

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