Tuesday, April 19, 2016

Agora só resta o confronto



Pedro J. Bondaczuk


Os primeiros tiros de uma guerra imprevisível podem ser disparados a qualquer momento, no Golfo Pérsico, depois que todos os argumentos diplomáticos e todos os tipos de pressão econômica para forçar o presidente iraquiano Saddam Hussein a retirar suas tropas do Kuwait até a meia-noite de ontem fracassaram.

Fica a expectativa sobre a quem caberá a iniciativa de deflagrar os combates. Há os que entendem que será Israel, que faria um fulminante e arrasador ataque preventivo, como o que destruiu a Força Aérea do líder egípcio Gamal Abdel Nasser no solo durante a “guerra dos seis dias” de 1967.

Outros especulam que o Iraque fará a primeira jogada, dará a cartada inicial, alvejando o território israelense com mísseis, para provocar a entrada do Estado judeu no conflito e assim dividir a coalizão liderada pelos Estados Unidos, fazendo com que Síria, Egito e talvez Marrocos e Paquistão passem para o seu lado.

Todavia, por mais que se especule, é, obviamente, impossível saber de antemão aquilo que ainda não ocorreu. Caso os estadistas tivessem tal capacidade de previsão, ou seja, uma visão prévia dos acontecimentos, muitas tragédias e equívocos poderiam ser evitados.

A história registra muitas batalhas absolutamente ganhas na véspera redundarem em desastres aos que superestimaram suas possibilidades. Estados Unidos e Iraque, dada a disparidade de forças, lutam por objetivos diferentes. Os norte-americanos precisam vencer a guerra se quiserem manter a hegemonia de maior superpotência do Planeta.

Já aos iraquianos compete somente não perder, o que não significa ganhar. Uma vitória de Hussein ocorreria se ele levasse as batalhas para o interior do país mais poderoso do mundo, o que nem mesmo em fantasia certamente ele espera. Seu empenho deverá ser o de prolongar os combates o quanto puder, mantendo o máximo de integridade territorial que lhe for possível, para forçar um cessar-fogo honroso, que lhe permita deter alguma parcela considerável de poder.

Todos os analistas têm sido unânimes em dizer, e o próprio presidente George Bush afirmou e reiterou, que os Estados Unidos buscarão fazer uma guerra-relâmpago. A Casa Branca sabe da fragilidade da aliança que conseguiu formar. Tem ciência da inadequação do palco das batalhas. E nunca negou que os custos para a manutenção de um contingente de mais de  meio milhão de homens do outro lado do mundo serão exorbitantes. Que a guerra vai custar uma fortuna aos seus cofres. Tudo isso, sem contar os fatores políticos internos, já que parcela considerável da população norte-americana se opõe ferozmente a mais esta aventura militar.

Se houver vitória rápida, Bush irá garantir sua reeleição no ano que vem, que tenderá a ser consagradora. Caso o conflito ultrapasse a um mês, será considerado uma derrota, pela opinião pública dos Estados Unidos, e o presidente pode encerrar sua carreira, pois não ganhará mais nenhuma votação, nem mesmo para síndico de seu prédio.

(Artigo escrito por mim, que por problemas técnicos deixou de ser assinado, publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 16 de janeiro de 1991).


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk      

No comments: