Agora só resta o confronto
Pedro J. Bondaczuk
Os primeiros tiros de uma
guerra imprevisível podem ser disparados a qualquer momento, no Golfo Pérsico,
depois que todos os argumentos diplomáticos e todos os tipos de pressão
econômica para forçar o presidente iraquiano Saddam Hussein a retirar suas
tropas do Kuwait até a meia-noite de ontem fracassaram.
Fica
a expectativa sobre a quem caberá a iniciativa de deflagrar os combates. Há os
que entendem que será Israel, que faria um fulminante e arrasador ataque
preventivo, como o que destruiu a Força Aérea do líder egípcio Gamal Abdel
Nasser no solo durante a “guerra dos seis dias” de 1967.
Outros
especulam que o Iraque fará a primeira jogada, dará a cartada inicial,
alvejando o território israelense com mísseis, para provocar a entrada do
Estado judeu no conflito e assim dividir a coalizão liderada pelos Estados
Unidos, fazendo com que Síria, Egito e talvez Marrocos e Paquistão passem para
o seu lado.
Todavia,
por mais que se especule, é, obviamente, impossível saber de antemão aquilo que
ainda não ocorreu. Caso os estadistas tivessem tal capacidade de previsão, ou
seja, uma visão prévia dos acontecimentos, muitas tragédias e equívocos
poderiam ser evitados.
A
história registra muitas batalhas absolutamente ganhas na véspera redundarem em
desastres aos que superestimaram suas possibilidades. Estados Unidos e Iraque,
dada a disparidade de forças, lutam por objetivos diferentes. Os
norte-americanos precisam vencer a guerra se quiserem manter a hegemonia de
maior superpotência do Planeta.
Já
aos iraquianos compete somente não perder, o que não significa ganhar. Uma
vitória de Hussein ocorreria se ele levasse as batalhas para o interior do país
mais poderoso do mundo, o que nem mesmo em fantasia certamente ele espera. Seu
empenho deverá ser o de prolongar os combates o quanto puder, mantendo o máximo
de integridade territorial que lhe for possível, para forçar um cessar-fogo
honroso, que lhe permita deter alguma parcela considerável de poder.
Todos
os analistas têm sido unânimes em dizer, e o próprio presidente George Bush
afirmou e reiterou, que os Estados Unidos buscarão fazer uma guerra-relâmpago.
A Casa Branca sabe da fragilidade da aliança que conseguiu formar. Tem ciência
da inadequação do palco das batalhas. E nunca negou que os custos para a
manutenção de um contingente de mais de
meio milhão de homens do outro lado do mundo serão exorbitantes. Que a
guerra vai custar uma fortuna aos seus cofres. Tudo isso, sem contar os fatores
políticos internos, já que parcela considerável da população norte-americana se
opõe ferozmente a mais esta aventura militar.
Se
houver vitória rápida, Bush irá garantir sua reeleição no ano que vem, que
tenderá a ser consagradora. Caso o conflito ultrapasse a um mês, será
considerado uma derrota, pela opinião pública dos Estados Unidos, e o
presidente pode encerrar sua carreira, pois não ganhará mais nenhuma votação,
nem mesmo para síndico de seu prédio.
(Artigo
escrito por mim, que por problemas técnicos deixou de ser assinado, publicado
na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 16 de janeiro de 1991).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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