O potencial e o real
Pedro J.
Bondaczuk
O Brasil é mesmo um país de contradições. Dispõe de um
potencial infinito, mas perde-se, invariavelmente, em conflitos evitáveis, em
políticas desastradas e que privilegiam minorias, em um individualismo desastroso
– aspecto que já o imperador Dom Pedro II criticava, no século passado, e que
apenas se acentuou na presente geração – e em tantos outros comportamentos
distorcidos, por isso nocivos, que inibem o crescimento econômico e, sobretudo,
o progresso social.
Dizer que se trata de um Estado pobre é, quando muito,
força de expressão. Afinal, trata-se da oitava maior economia do mundo. E
dispõe de meios materiais e humanos para galgar novas e sucessivas posições. No
entanto, ocupa, nos parâmetros sociais, um contundente 63º lugar!
Ou seja, é um pais rico, com um povo pobre. Paupérrimo, na
maioria dos casos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
revelou, esta semana, que o Produto Interno Bruto (PIB) do País cresceu 5,7% em
1994. Com esta alta, acumula, em apenas dois anos, expressivo aumento de 10%.
Nem por isso houve, porém, uma retração no assustador quadro de miséria com que
nos deparamos no dia-a-dia. O bolo da riqueza nacional cresceu, no entanto, à
maioria dos convivas não restaram sequer as migalhas.
O governo acaba de baixar novo pacote – o segundo em dois
meses – para inibir o consumo. Argumenta que o poder aquisitivo do trabalhador
aumentou com o controle da inflação e que esse ganho desembocou no comércio,
numa fúria consumista.
Resta saber de qual parte da “Belíndia” se está falando.
Certamente é o do lado Bélgica, ou seja, da minoria privilegiada que pode pagar
ágio na aquisição de automóveis e tem como comprar tudo o que vê pela frente,
mesmo que para isso fique endividada até a raiz do cabelo, tendo que fazer jogo
de cheques pré-datados.
Ocorre que a maioria dos brasileiros, a parte Índia do
País, tem que se contentar com miseráveis R$ 70,00 mensais, insuficientes para
adquiri até mesmo uma espartana cesta básica. Urge, pois, um aumento intensivo,
intensivíssimo, da produção, não só para equilibrar oferta e demanda, mas para
gerar empregos, milhões deles, de preferência – expandir a massa salarial e
ampliar o mercado às fronteiras do seu potencial.
Os brasileiros são quase 160 milhões. Quantos deles
consomem? Provavelmente, não mais do que 16 milhões. A miséria no País é grande
demais para ser varrida debaixo do tapete. Que se promova, pois, junto ao
crescimento, o resgate dessa absurda dívida social, que se eterniza.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de
fevereiro de 1995).
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