Friday, April 08, 2016

Estado e política



Pedro J. Bondaczuk


Os maus políticos, os que fazem desse nobre exercício mera forma de ganhar dinheiro fácil (e nem sempre de forma lícita), ou de obter outros tipos de vantagens espúrias, quando não ilegais, ou de angariar apenas prestígio pessoal para incensar a própria vaidade,  ou, quem sabe, coisas muito piores, acabam fazendo com que os cidadãos percam de vista a importância e a transcendência da política em suas vidas. Nota-se enorme resistência das pessoas quando o tema vem à baila, como se fosse possível a alguém deixar de exercer tão fundamental atividade no convívio social, desde a hora em que acorda, até se recolher para dormir. A política, nobilíssima se praticada com ética e grandeza, é inerente à convivência entre os habitantes das "polis", cidades, de onde deriva seu nome. E é tema recorrente – nem poderia deixar de ser – de escritores, tanto de ficção quanto de não-ficção.

Humberto de Campos, na "Antologia da Academia Brasileira de Letras", analisa a importância dessa atividade. Ressalta: "Eu bem sei que a política, tomando-a em sua forma mais pura, o espírito público, é inseparável de todas as grandes obras: a política dos faraós reflete-se nas pirâmides tanto quanto a política ateniense do Panteon; o gênio católico da Idade Média está na 'Divina Comédia', como o gênio protestante do Protetorado está no 'Paraíso Perdido', como o gênio da França monárquica está na Literatura e no estilo dos séculos XVII e XVIII".

Mas para dar o devido valor à atividade é preciso entendê-la. Faz-se necessário estudar seus fundamentos e conceitos básicos, como o Estado e a sociedade, sem prejulgamentos e sem preconceitos,  e saber identificar suas linhas mestras. Poucos se dão esse trabalho, alegando ojeriza à política. Quem poderia (e deveria) esclarecer a população sobre o assunto, infelizmente, mais desinforma e deforma do que informa e forma. Fanatiza-se por determinada ideologia e, assim, perde a necessária objetividade, além da isenção, dedicando-se, apenas, a fazer proselitismo em vez de esclarecer quem quer que seja. A má reputação dos políticos e a deformação da política, com “P” maiúsculo, não vem de hoje. Muito pelo contrário, vem de muito tempo, de séculos, de milênios, provavelmente do princípio da própria civilização.

As opiniões de escritores sobre políticos e política não são, salvo uma ou outra exceção, nada lisonjeiras, posto que quase sempre carentes de objetividade. Não se deve generalizar, pois nem todo político é oportunista, venal ou corrupto. Todavia, generaliza-se. O bom e o mau são postos no mesmíssimo balaio, como se pensassem e agissem de forma igual. Claro que é injusto, mas é assim que as coisas funcionam. Para o escritor francês (nascido na Argélia quando esta era colônia da França), Albert Camus, por exemplo, “a política é constituída por homens sem ideais e sem grandeza”. Trata-se, como se nota,  de generalização, mas é assim que a imensa maioria das pessoas, não importa que atividade exerçam, pensa. A desonestidade dos maus, mesmo que estes sejam minoria, ofusca o idealismo e o espírito público dos bons.

Se o prestígio dos políticos é baixíssimo, quase nulo, outro conceito, diretamente ligado à organização política e social de um país gera profundas controvérsias. Refiro-me a este ente abstrato, mas que é integrado por pessoas (ou seja, por personalidades concretíssimas), chamado de “Estado”. Para uns, este deve ser soberano e acima dos indivíduos, que teriam a obrigação de servi-lo. É tratado como uma espécie de “divindade”. Outros tantos consideram-no nada mais que mal necessário e defendem que seja “mínimo”, com atuação, apenas, em alguns setores essenciais. Outros, ainda, apregoam sua extinção pura e simples, deixando por conta de cada um a forma de viver que melhor lhe aprouver, como se isso fosse possível. Antes fosse.

O pai da psicanálise, Sigmund Freud, não o via com bons olhos. Tanto que escreveu: “O Estado proíbe ao indivíduo a prática de atos infratores, não porque deseje aboli-los, mas sim porque quer monopolizá-los”. Será? O filósofo e sociólogo alemão Walter Benjamin tinha opinião ainda mais contundente. Embora admitindo sua necessidade, posto que controlado, atribuía-lhe culpa por todos os males sociais que há. Escreveu, por exemplo, em um de seus tantos ensaios: “Deus é quem nutre todos os homens, e o Estado é quem os reduz à fome”. O físico Albert Einstein, com a lucidez que o caracterizava, também opinou a propósito. Definiu, porém, no seu livro “Como vejo o mundo”, sua principal finalidade (cumprida, posto que parcialmente, por poucos, se é que algum o cumpra). Escreveu: “A maior missão do Estado é, para mim, a de proteger o indivíduo e de lhe oferecer a oportunidade de manifestar a sua personalidade criadora”. Para mim também. Pena que isso soe a mera utopia.

"O Estado ou é racional ou não é verdadeiro Estado, mas um aglomerado social, onde o contraste das forças o torna ineficaz, viola a liberdade, perturba a ordem, corrompe a Justiça e a administração. Para ser racional, urge que o Estado se estribe na lei; que a lei seja igual para todos; que a autoridade se submeta à lei, e assim cada ordem cívica e cada organismo administrativo". Essas sensatas palavras, contidas num artigo publicado em 1961 no jornal "A Gazeta", de São Paulo, de autoria de Dom Luigi Sturzo, ilustram bem a presente crise institucional que o País atravessa, envolvendo os três poderes da República. Pensem nisso.

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk




No comments: