Estado e política
Pedro J. Bondaczuk
Os
maus políticos, os que fazem desse nobre exercício mera forma de ganhar
dinheiro fácil (e nem sempre de forma lícita), ou de obter outros tipos de
vantagens espúrias, quando não ilegais, ou de angariar apenas prestígio pessoal
para incensar a própria vaidade, ou,
quem sabe, coisas muito piores, acabam fazendo com que os cidadãos percam de
vista a importância e a transcendência da política em suas vidas. Nota-se
enorme resistência das pessoas quando o tema vem à baila, como se fosse
possível a alguém deixar de exercer tão fundamental atividade no convívio
social, desde a hora em que acorda, até se recolher para dormir. A política,
nobilíssima se praticada com ética e grandeza, é inerente à convivência entre
os habitantes das "polis", cidades, de onde deriva seu nome. E é tema
recorrente – nem poderia deixar de ser – de escritores, tanto de ficção quanto
de não-ficção.
Humberto
de Campos, na "Antologia da Academia Brasileira de Letras", analisa a
importância dessa atividade. Ressalta: "Eu bem sei que a política,
tomando-a em sua forma mais pura, o espírito público, é inseparável de todas as
grandes obras: a política dos faraós reflete-se nas pirâmides tanto quanto a
política ateniense do Panteon; o gênio católico da Idade Média está na 'Divina
Comédia', como o gênio protestante do Protetorado está no 'Paraíso Perdido',
como o gênio da França monárquica está na Literatura e no estilo dos séculos
XVII e XVIII".
Mas
para dar o devido valor à atividade é preciso entendê-la. Faz-se necessário
estudar seus fundamentos e conceitos básicos, como o Estado e a sociedade, sem
prejulgamentos e sem preconceitos, e
saber identificar suas linhas mestras. Poucos se dão esse trabalho, alegando
ojeriza à política. Quem poderia (e deveria) esclarecer a população sobre o
assunto, infelizmente, mais desinforma e deforma do que informa e forma.
Fanatiza-se por determinada ideologia e, assim, perde a necessária
objetividade, além da isenção, dedicando-se, apenas, a fazer proselitismo em vez
de esclarecer quem quer que seja. A má reputação dos políticos e a deformação
da política, com “P” maiúsculo, não vem de hoje. Muito pelo contrário, vem de
muito tempo, de séculos, de milênios, provavelmente do princípio da própria
civilização.
As
opiniões de escritores sobre políticos e política não são, salvo uma ou outra
exceção, nada lisonjeiras, posto que quase sempre carentes de objetividade. Não
se deve generalizar, pois nem todo político é oportunista, venal ou corrupto.
Todavia, generaliza-se. O bom e o mau são postos no mesmíssimo balaio, como se
pensassem e agissem de forma igual. Claro que é injusto, mas é assim que as
coisas funcionam. Para o escritor francês (nascido na Argélia quando esta era
colônia da França), Albert Camus, por exemplo, “a política é constituída por
homens sem ideais e sem grandeza”. Trata-se, como se nota, de generalização, mas é assim que a imensa
maioria das pessoas, não importa que atividade exerçam, pensa. A desonestidade
dos maus, mesmo que estes sejam minoria, ofusca o idealismo e o espírito
público dos bons.
Se
o prestígio dos políticos é baixíssimo, quase nulo, outro conceito, diretamente
ligado à organização política e social de um país gera profundas controvérsias.
Refiro-me a este ente abstrato, mas que é integrado por pessoas (ou seja, por
personalidades concretíssimas), chamado de “Estado”. Para uns, este deve ser
soberano e acima dos indivíduos, que teriam a obrigação de servi-lo. É tratado
como uma espécie de “divindade”. Outros tantos consideram-no nada mais que mal
necessário e defendem que seja “mínimo”, com atuação, apenas, em alguns setores
essenciais. Outros, ainda, apregoam sua extinção pura e simples, deixando por
conta de cada um a forma de viver que melhor lhe aprouver, como se isso fosse
possível. Antes fosse.
O
pai da psicanálise, Sigmund Freud, não o via com bons olhos. Tanto que
escreveu: “O Estado proíbe ao indivíduo a prática de atos infratores, não
porque deseje aboli-los, mas sim porque quer monopolizá-los”. Será? O filósofo
e sociólogo alemão Walter Benjamin tinha opinião ainda mais contundente. Embora
admitindo sua necessidade, posto que controlado, atribuía-lhe culpa por todos
os males sociais que há. Escreveu, por exemplo, em um de seus tantos ensaios:
“Deus é quem nutre todos os homens, e o Estado é quem os reduz à fome”. O
físico Albert Einstein, com a lucidez que o caracterizava, também opinou a
propósito. Definiu, porém, no seu livro “Como vejo o mundo”, sua principal
finalidade (cumprida, posto que parcialmente, por poucos, se é que algum o
cumpra). Escreveu: “A maior missão do Estado é, para mim, a de proteger o
indivíduo e de lhe oferecer a oportunidade de manifestar a sua personalidade
criadora”. Para mim também. Pena que isso soe a mera utopia.
"O
Estado ou é racional ou não é verdadeiro Estado, mas um aglomerado social, onde
o contraste das forças o torna ineficaz, viola a liberdade, perturba a ordem,
corrompe a Justiça e a administração. Para ser racional, urge que o Estado se
estribe na lei; que a lei seja igual para todos; que a autoridade se submeta à
lei, e assim cada ordem cívica e cada organismo administrativo". Essas
sensatas palavras, contidas num artigo publicado em 1961 no jornal "A
Gazeta", de São Paulo, de autoria de Dom Luigi Sturzo, ilustram bem a
presente crise institucional que o País atravessa, envolvendo os três poderes
da República. Pensem nisso.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment