Futurologia
já virou hábito
Pedro J. Bondaczuk
“O uso continuado do cachimbo torna a boca torta”,
diz o dito popular. Como em todo o início de mês, milhares de brasileiros
praticam, nestes dias, o exercício de futurologia econômica para detectar o
índice a ser atingido por uma velha e incômoda companheira, que alguns (de
forma masoquista) parecem apreciar: a inflação.
Dois grupos diferentes, os catastrofistas e os
alienados, projetam cifras antagônicas. Os primeiros, sonhando com uma
disparada inflacionária, acreditando que quanto pior for a situação, melhor
será para os seus propósitos. Os segundos, crendo em “milagres”, em soluções
mágicas, tiradas, como coelhos, da cartola.
A conjuntura, de fato, está exercendo forte pressão
inflacionária. Esta, todavia, é uma notícia muito boa de se ouvir e por vários
motivos. Um deles é o fato do governo ter adotado, como uma espécie de ponto de
honra, a derrota da inflação. Para isso, certamente, usará de todos os meios e
recursos ao seu dispor.
O secretário de Política Econômica, Antonio Kandir,
em entrevista concedida durante a semana, ratificou a vontade do Palácio do
Planalto de endurecer sua estratégia monetarista. Revelou que as torneiras da
liquidez serão fechadas mais ainda, tornando o crédito mais do que escasso.
É preciso que se tenha em mente que o presidente
Fernando Collor de Mello recém completou seu primeiro semestre no poder. Se o
seu plano fracassar agora, ele terá quase quatro anos e meio de turbulência
pela frente. Portanto, para o bem de todos nós, é indispensável que haja
cooperação geral para evitar uma catastrófica disparada inflacionária.
As autoridades manifestaram, ao longo de toda a
semana, sua disposição de dar um combate sem quartel aos que burlam as novas
regras da livre concorrência, mediante o estabelecimento de cartéis,
disfarçados sob nomes até sugestivos de entidades que, na verdade, não passam
disso.
O consumidor, todavia, precisa fazer a sua parte e
não se deixar enganar. Tem que pesquisar muito antes de comprar, por mais
dispendioso, em termos de tempo, que isso represente, para proteger o seu
próprio orçamento e punir os gananciosos e fraudadores da boa-fé pública.
Na segunda-feira, comentando o fato de no Brasil
dificilmente se repassar reduções de custos ao preço final dos produtos, o
diretor do Departamento Nacional de Proteção e Defesa Econômica, Salomão
Rottemberg, observou: “Aqui, tudo o que sobe não cai”.
Essa mentalidade precisa ser combatida com crescente
vigor, se é que se deseja um verdadeiro sistema de livre mercado. Até porque, a
opção que temos não é nada agradável. Ela foi expressa claramente por Kandir ao
afirmar: “Quanto maior for a inflação, mais intensa será a recessão”.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 6 de outubro de 1990)
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