Pedro J. Bondaczuk
A violência urbana, embora se trate de um fenômeno mundial, é um dos maiores problemas da América Latina. Apesar de envolver pessoas de todas as idades, tanto como agressoras, quanto na qualidade de vítimas, afeta com maior intensidade os mais jovens, em especial os da faixa etária dos 15 aos 25 anos. Ou seja, os que estão na fase da vida em que o indivíduo é, ao menos teoricamente, mais produtivo.
Uma série de estudos tem sido feita a respeito para apurar as causas de tamanha fúria. Embora a violência seja inerente ao próprio homem e tenha existido em todas as épocas e entre todos os povos, através dos tempos, em termos qualitativos, atinge, nos dias de hoje, proporções absolutamente intoleráveis.
As pessoas têm sido violentas no lar, na escola, nas ruas, nos locais de diversão (estádios de futebol, casas de shows etc.), nos protestos políticos, nas guerras e vai por aí afora. A rebeldia tornou-se uma espécie de símbolo destes tempos.
O rebelde, quando direciona corretamente seu descontentamento e inquietação, é importante fator de mudanças. Combate a tirania, luta pela justiça, defende os direitos dos mais fracos e impede uma série de distorções na convivência entre os grupos humanos.
É possível ser combativo, porém, sem ser violento. Firmeza de convicção e violência estão longe de serem sinônimos. Pior é quando a pessoa (jovem ou não) assume uma rebeldia sem causa. Quando se opõe ao poder constituído e às normas sociais ou morais vigentes não porque estes estejam distorcidos ou corrompidos, mas porque existem.
Um especialista equatoriano em comportamento, Fernando Carrión, divulgou, em 1995, um estudo muito interessante a respeito do assunto, intitulado “América Latina é o continente mais perigoso para se viver”. Os dados que cita, posto que defasados (os números, hoje, são muito piores), mostra que o pesquisador não exagerou nessa afirmação.
As grandes cidades tendem a alterar o modo de agir dos que não têm uma estrutura psicológica sólida e se deixam influenciar tanto pelo próprio meio (sombrio, áspero, poluído e barulhento), quanto pelas más companhias.
Carrión demonstrou isso em números. Na ocasião, a América Latina contava com duas cidades de mais de 15 milhões de habitantes (São Paulo e Cidade do México), com 28 que tinham mais de um milhão de moradores e com 36 que passavam dos 600 mil.
O pesquisador equatoriano previu que até 2005, portanto em apenas uma década, este seria o continente com maior grau de urbanização. E não se enganou em suas previsões. Setenta e sete por cento da sua população vivem, hoje, em algum desses conglomerados urbanos, onde tudo é difícil e penoso, desde a locomoção, até o simples ato de respirar.
Ao contrário do que se apregoa por aí, o fator econômico não é a principal causa da marginalidade e conseqüente criminalidade. Claro que contribui, na medida em que impede que as pessoas menos favorecidas tenham acesso à educação e realizem seus sonhos de consumo, numa civilização absurdamente consumista.
Carrión apontou, em seu estudo, três fatores desencadeadores da violência entre os jovens situados na faixa de 15 a 25 anos. Os pesos de cada um deles podem ser diferentes. Eles podem influenciar os indivíduos isoladamente ou em conjunto. Mas estão sempre presentes e são facilmente detectáveis.
O primeiro é a influência exercida pelos meios de comunicação. Esta é uma geração que teve como babá a televisão. E o que a telinha hipnótica exibe nem sempre (ou quase nunca) é construtivo. A carga de violência e de atos, diríamos, não muito éticos, que a TV joga em nossos lares, é massacrante.
Mesmo os adultos influenciáveis, sem muito tirocínio para julgamentos, acabam se deixando contaminar por esse lixo cultural que importamos ou produzimos no próprio País. Queiram ou não, os personagens de filmes e novelas ditam comportamentos, linguagens, gostos e atitudes. Não é o veículo em si que é ruim, mas a falta de critério na escolha do que é veiculado por ele.
O segundo fator de estímulo à violência é a impunidade. Nosso aparato de Justiça (e nos referimos não especificamente ao Brasil, mas a toda a América Latina), não é dos mais eficientes. Deixa muito, muitíssimo a desejar. O jovem de classe menos favorecida, que comete algum delito, em geral é punido com rigor até excessivo. O mesmo não ocorre com adolescentes de classe média para cima.
Finalmente, o terceiro desencadeador de atos violentos, e o pior deles, é o consumo de produtos psicoativos. E não nos referimos, apenas, às drogas clássicas, como a maconha, o crack, a cocaína, a morfina, a heroína e o ópio.
A principal dessas substâncias, o álcool, poucas vezes é citada, por razões econômicas. Dá muito lucro aos que a produzem e a comercializam, que têm grande poder. Mas se trata do maior deflagrador de violência. E, o que é pior, é vendida livremente, sem nenhuma restrição.
Trata-se de uma questão que deve merecer cuidadosa reflexão por parte das pessoas que lidam com jovens: pais, professores, psicólogos, psiquiatras, delegados, promotores, juízes etc. É a única forma inteligente de se combater a violência. Ou seja, cortando o mal pela raiz.
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