Pedro J. Bondaczuk
A amizade, entre todos os sentimentos, é um dos que mais prezo e valorizo. Talvez esteja abaixo somente do amor, se é que está e não seja uma de suas formas mais refinadas de expressão. Ao longo de mais de meio século de vida, conquistei milhares de amigos e amigas, de cuja lealdade jamais tive motivos para duvidar e que tornaram a minha jornada existencial, senão mais feliz, pelo menos não tão penosa.
Fosse citar o nome de cada um deles (ou delas), passaria horas enumerando-os (as). São tantos (as), que certamente cometeria a indelicadeza de omitir algum (ou alguma). Não que o (a) tenha em menor conta do que os (as) demais, mas em virtude da fragilidade da memória. Vou referir-me a amigos apenas no masculino para facilitar o texto. Mas a amizade independe de sexo, cor, raça, nacionalidade, língua, religião, etc.
Uns, infelizmente, já morreram. Mas permanecerão vivos na lembrança enquanto eu viver, enquanto a minha caminhada brevíssima pelo tempo não chegar ao fim, enquanto a chama frágil e misteriosa que me anima não se apagar. Outros estão distantes, em outras cidades, em outros Estados e muitos deles em outros países, principalmente nos Estados Unidos, para onde foram dispostos a tentar a "sorte grande", que não conseguiram por aqui. A maioria mantém correspondência, relatando seus sucessos e fracassos, alegrias e tristezas, projetos e frustrações. Alguns devem ser meus leitores no Planeta News, embora não tenha certeza de que sejam.
Os que não escrevem – e certamente têm lá suas razões para manter esse silêncio – não são menos apreciados ou lembrados por isso. Todos tiveram a sua importância em minha vida. E o rol deles aumenta a cada dia, totalmente ao sabor do acaso. Tais amizades não dependem de antigüidade e não são nem mais e nem menos intensas. Simplesmente existem e pronto!
Os novos, que acabei de conhecer hoje, são tão caros e preciosos quanto os de infância ou de juventude. Não há nenhum exagero quando afirmo, como diz a letra da canção popularizada por Roberto Carlos: "Eu quero ter um milhão de amigos". E quero mesmo. E me empenho nisso. E se Deus conceder-me a oportunidade de viver mais alguns anos – dez, vinte ou quem sabe até trinta – penso que chegarei lá.
A amizade, a rigor, é uma espécie de amor. Não tenho qualquer critério racional na escolha dos amigos. Deixo tudo por conta da subjetividade, da recíproca simpatia, da identidade de pensamentos e de propósitos. Deixo que aconteça. Claro que não cometo a tolice de confundir amizade, sentimento mais do que fraterno – irmão a gente nunca escolhe – com o coleguismo, que é imposto apenas pelas circunstâncias de lugar. Nem todos agem assim.
Oscar Wilde, no livro "O retrato de Dorian Gray", confessa: "Escolho meus amigos pela boa aparência, meus simples conhecidos pelo seu bom caráter e meus inimigos por sua boa inteligência. Um homem deve dar toda importância à escolha dos seus inimigos. Eu não tenho um só que seja idiota. São todos homens de certo valor intelectual e, por conseguinte, todos me apreciam".
Discordo de Wilde, embora respeite sua postura. Dos inteligentes busco aproximar-me e não alimentar antagonismos. Meus inimigos sim são todos burros. Detesto a burrice e identifico nela a fonte de todos os males do mundo. O malandro somente existe em função da existência do estúpido.
Não me refiro ao ingênuo, mas ao que não consegue entender as regras do bom relacionamento entre as pessoas e se julga o centro do universo, dotado de feroz egoísmo. Mas voltemos às amizades. Sinto uma falta enorme daqueles que já morreram. Sinto uma tristeza imensa por não poder curar os que estão doentes. Sinto uma frustração ilimitada pelos que estão separados de mim pela distância.
A esse propósito vem-me à memória o trecho de uma crônica de Vinícius de Moraes que já citei muitas vezes, mas que nunca vou me cansar de repetir. O saudoso "poetinha" faz o seguinte apelo no referido texto, comovente, emotivo, pungente a ponto de descambar para o patético, embora expressado com elegância e o enorme talento que Deus lhe deu:
"Ah, meus amigos, não vos deixeis morrer assim. Ide ver vossos clínicos, vossos analistas, vossos macumbeiros, e tomai sol, tomai vento, tomai tento, amigos meus...Amai em tempo integral, nunca sacrificando ao exercício de outros deveres este sagrado, do amor. Amai e bebei uísque. Não digo que bebais em quantidades federais, mas quatro, cinco uísques por dia nunca fizeram mal a ninguém. Amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido. Mas sobretudo não morrais, amigos meus".
Endosso plenamente e faço minhas essas palavras. Não saberia nunca expressar esta mesma preocupação com tamanha beleza e verdade. Mas sinto isso também. Sim: "não morrais, amigos meus!". Amém!!!
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