Monday, April 24, 2006

Uma função para o homem


O desemprego tem se revelado o grande problema da década de 90, tanto nos países desenvolvidos, quanto no Terceiro Mundo, embora as causas do fenômeno nas nações ricas e pobres sejam diferentes. O tema é tão preocupante, que foi o principal item da pauta da reunião do Grupo dos Sete, realizada em julho de 1993, em Tóquio. Estados Unidos, Alemanha, França, Espanha, Japão etc., por razões mais ou menos parecidas, em maior ou menor grau, buscam alternativas para absorver milhões de pais de família que estão sem fonte de renda, embora possuam sistemas de proteção social bastante avançados.
No outro extremo, temos Brasil, Argentina, Venezuela, Índia e Nigéria vivendo idêntico drama. No caso dos países desenvolvidos, a alta tecnologia, que prescinde de parte considerável da mão-de-obra, é a responsável pelas altas taxas de desemprego. No Terceiro Mundo, faltam capitais para a formação de novos empreendimentos que absorvam os trabalhadores dispensados no auge da atual crise – após o término da Guerra do Golfo, o mundo entrou num período de depressão, já que, em apenas 42 dias de conflito, foram “queimados” US$ 420 bilhões nas areias do deserto – e os milhões de jovens que atingem a idade de ingressar no mercado de trabalho. A grosso modo, pode-se afirmar que a grande tarefa dos estadistas, no planejamento político, econômico e social para o fim deste milênio e os primeiros anos do próximo, é arranjar algo para as pessoas fazerem.
Tempos atrás, futuristas e futurólogos especulavam que, até o ano 2000, a tecnologia estaria tão avançada, que a maior parte da tarefa exercida pelo homem caberia às máquinas. Os indivíduos entrariam num período hedonístico, no qual seu raciocínio e seus dotes artísticos iriam adquirir grande valor. Pois bem, esta época está chegando, mas de Éden este mundo não tem absolutamente nada. Estabelece-se um enorme paradoxo. As sofisticadas engenhocas eletrônicas produzem, hoje, quase tudo, com alta qualidade e baixo custo. Todavia, os mercados consumidores encolhem-se mais e mais. Porquê? Simples! Havendo menos pessoas empregadas, a massa de salários, evidentemente, encolhe.
Não havendo dinheiro, quem vai adquirir os produtos fabricados pelas máquinas? Como o homem pode se dedicar às artes e à especulação filosófica, papel que lhe foi atribuído pelos futurólogos, se precisa estar permanentemente preocupado com a sua subsistência? Outro ponto contraditório é o antagonismo entre o aspecto econômico de uma sociedade e o lado social.
A definição clássica de economia é a de que ela é a administração da escassez. Só o que é escasso é valioso. O ouro, por exemplo, é adotado como padrão monetário mundial apenas por não ser abundante. Já o ferro, infinitamente mais útil do que esse metal, perde em “nobreza” em virtude de sua abundância. Pois bem, este aspecto impede a produção de alimentos em quantidades suficientes para alimentar toda a humanidade.
O acadêmico sueco Michael Chadwick, do Instituto de Pesquisas sobre o Meio Ambiente de Estocolmo, afirmou, em outubro de 1993, numa reunião de 57 academias de ciências de todo o mundo, ocorrida em Nova Delhi, que o Planeta tem condições de alimentar até 64 bilhões de pessoas. No entanto, tem 5,3 bilhões, dois terços dos quais passam fome. Por quê? Caso os alimentos fossem abundantes, perderiam o valor econômico. Ninguém se sentiria estimulado a produzi-los. O homem está ou não está numa armadilha criada por ele mesmo, ao basear a civilização nos atuais conceitos?

(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 83 a 85, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).

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