Tuesday, April 04, 2006

Espaçonave em perigo

Pedro J. Bondaczuk


A Terra é uma espaçonave, que abriga cerca de 6 bilhões de tripulantes, seguindo rumo a um destino ignorado. O universo é dinâmico. Nada nele é estático, embora às vezes haja essa impressão para um observador desavisado ou que tenha um ângulo de visão desfavorável. Tudo é agitado, está em constante movimento. Não há astro, estrela ou corpo celeste que estejam parados. O conjunto move-se numa determinada direção, para um certo rumo, que o homem pode apenas especular, jamais saber com certeza, qual de fato é. Atualmente, a espaçonave "Terra-1" está em perigo. Acha-se superlotada, por exemplo, mas seus tripulantes continuam aumentando.
O lixo acumula-se por toda parte. Os suprimentos de água potável estão se exaurindo. Acerca dessa exaustão, a revista "Times" publicou, em 1990, (há, portanto, catorze anos), completa e detalhada matéria. Pedaços da nossa nave cósmica são queimados para a geração de energia. O calor aumenta, a fumaça sufoca e a tripulação está mais ameaçada do que nunca, embora a maioria sequer se dê conta disso.
Todavia, se destruirmos a espaçonave, não teremos outra! A vida desaparecerá simplesmente desta parte do universo. Não teremos outra Terra onde viver. Os planetas vizinhos são inóspitos. Para onde os tripulantes conduzirão esta bela astronave azul? À destruição? Ao paraíso feito pelo homem? Mas como esse animal contraditório poderá estabelecer a tão sonhada Idade de Ouro se um bilhão de pessoas passam fome, enquanto o mundo bate recordes e mais recordes de colheita e em alguns países os agricultores são até pagos para não plantar?
Por outro lado, é estranho, e, sobretudo, contraditório, que neste momento, em que a espaçonave Terra conta com cerca de 6 bilhões de tripulantes, as pessoas se sintam tão solitárias. Nunca o ser humano sentiu-se tão só quanto agora. E principalmente no meio de multidões. Os indivíduos fogem do diálogo, daquele profundo e com substância, escondidos em redomas de desconfiança e medo. Isto vai a tal ponto, que o escritor D. H. Lawrence chegou a desabafar: "Falar com o homem de hoje é tentar ter relações humanas com a letra 'x' em álgebra". E é mesmo.
Essa falta de diálogo estimula preconceitos. Favorece injustiças. Fomenta ódios que explodem no hediondo exercício de matar. De extinguir esse dom, essa chama, esse mistério, esse milagre, que é a vida. A poluição ambiental, a ameaça das armas nucleares, a violência crescente e as distorções econômicas que aumentam os contingentes de miseráveis no Planeta são, certamente, os maiores problemas que precisam ser equacionados pela humanidade neste início do terceiro milênio da Era Cristã.
Rios, mares, lagos e até reservatórios destinados a abastecer do precioso líquido as grandes cidades mundiais estão, hoje em dia, impregnados de substâncias danosas, quando não venenosas para os que as ingerem. Se fôssemos enumerar os cursos de água “assassinados” pelo homem, iríamos longe, muito longe. O irônico é que a poluição do ar, por si só nociva, afeta diretamente as águas. São os casos das famosas “chuvas ácidas”, conhecidas desde 1872, quando o britânico Robert Angus Smith as pesquisou na região industrial de Manchester, mas que só agora têm vindo à baila entre técnicos e preservacionistas.
Estudos de circulação atmosférica, realizados nos Estados Unidos, constataram que para a ocorrência desse fenômeno não é necessário que haja uma fonte poluidora de caráter industrial nas proximidades. Indústrias situadas no Nordeste brasileiro, por exemplo, desde que lancem poluentes na atmosfera, podem provocar uma precipitação ácida na Amazônia, comprometendo a qualidade do líquido da maior bacia hidrográfica do Planeta.
A acidificação afetou 2.500 lagos na Suécia, 1.750 na Noruega e 20% dos existentes no Canadá, causando grande mortandade de peixes. Para que o leitor tenha uma idéia do que a poluição representa em termos de riscos, basta dizer que, conforme relatório de técnicos da Organização das Nações Unidas, cerca de cinco milhões de toneladas de enxofre e vinte milhões de toneladas de nitrogênio são lançadas anualmente pelo homem na atmosfera terrestre.
Não é de se admirar, pois, que os casos de doenças respiratórias tenham aumentado tão drasticamente. E nem que o câncer de pele tenha evoluído de forma alarmante. O perigo, no entanto, não está especificamente nesses dois elementos químicos. Outros metais, de altíssima toxicidade, como o mercúrio, o chumbo, o cobre, o zinco e o cádmio, podem atingir as águas subterrâneas, poluindo as fontes que geram os rios, lagos e correntes usados para prover as cidades de água potável.
Por isso, é que alguns já afirmam, não sem razão, que a praga prevista no Apocalipse para o final dos tempos, em que todos os mananciais líquidos do Planeta se transformariam em sangue, já está em andamento. E como todos os castigos bíblicos, esse também é determinado pelo próprio homem, que é o que sofre diretamente as conseqüências da sua insensatez de não saber zelar por sua espaçonave cósmica: a Terra.

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