A cidade de Campinas teve, no professor Benedito Sampaio, seu grande poeta. Seus versos cantaram e decantaram as ruas, as praças e principalmente as pessoas que aqui viviam, trabalhavam, amavam e morriam em sua época. Sua poesia, embora não se concentrasse no tema, foi uma espécie de “Paulicéia Desvairada”, a grande obra de Mário de Andrade em que o intelectual paulistano captou a alma de São Paulo. Mas são raros, raríssimos, os campineiros (ou os que o são apenas por opção, e não nascimento, como nós) que se detenham em relatar as coisas e a gente desta metrópole.
Há um poema, todavia, de Sólon Borges dos Reis, vice-prefeito da cidade de São Paulo, inserido no livro “Carrossel do tempo”, que merece citação, até por uma questão de justiça. Seu título é “Troca” e diz:
“E proponho a troca:
os Boulevards, Oxford Street e mais a Broadway,
a Kudam, a Gran Via e a Via Vêneto,
por seis quadras apenas, nada mais,
entre a Barreto Leme e a Morais Sales,
por um pedaço só da minha rua
por um pedaço só da Luzitana.
E ofereço a Concorde ou a Piazza Ezedra e a
Vendome,
Trafalgar, Times Square,
Por um largo só, como era antes,
Se voltasse,
O Largo do Mercado”.
Nós também trocaríamos (se fossem nossos) os logradouros mais conhecidos e badalados do mundo pelo Bosque dos Jequitibás, por exemplo. Ou pela Lagoa do Taquaral. Ou pelo Jardim Carlos Gomes, com seu bucólico coreto. Campinas toda é uma poesia, com aspectos líricos e outros trágicos (como o das crianças abandonadas que se marginalizam). Falta, somente, um poeta, como Benedito Sampaio, que imortalize a cidade atual em seus versos.
(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 77 e 78, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).
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