Passos
para a paz
Pedro J. Bondaczuk
Os cinco presidentes centro-americanos, que firmaram
um histórico acordo de paz para a América Central em 7 de agosto passado, na
Guatemala, cumpriram, até aqui, a palavra empenhada, a despeito de análises
apressadas (e algumas mal intencionadas) feitas em determinadas áreas
políticas.
O pacto, denominado “Esquipulas-II”, previa que 90
dias após sua assinatura, todos os signatários deveriam mostrar progressos rumo
à pacificação da região. Ou seja, o documento não previu, em absoluto, que os
conflitos (alguns seculares) cessassem de repente, como em um passe de mágica.
Quem disser, por outro lado, que não houve nenhuma evolução no quadro político
centro-americano ou é muito mal informado, ou deseja, apenas, tumultuar o
processo de pacificação.
Por essa razão, estamos de acordo com o mentor do
plano, o jovem presidente da Costa Rica, Oscar Arias Sanchez, ganhador do Nobel
da Paz deste ano, quando manifestou, ontem, entusiasmado, em San José, na
presença de jornalistas: “Hoje, inicia-se um processo histórico. Meu espírito
está cheio de otimismo. Sei que iremos adiante, apesar dos obstáculos e do
ceticismo de muita gente”.
Dificuldades persistem, é óbvio, mas ninguém, em sã
consciência, esperava que elas desaparecessem da noite para o dia. É verdade
que Daniel Ortega bate pé firme e se recusa a negociar com guerrilha
anti-sandinista da Nicarágua, preferindo dialogar diretamente com quem a formou
e a sustentou todo este tempo: o governo norte-americano.
Os obstáculos não param por aí. Em El Salvador, o
assassinato do presidente da Comissão dos Direitos Humanos, Herbert Anaya
(possivelmente pelos ultradireitistas esquadrões da morte), fez com que os
rebeldes deixassem a mesa de negociações.
Na Guatemala, o presidente Vinício Cerezo Arévalo
exige que os sediciosos deponham armas para dialogar. Honduras, por seu turno,
reluta em expulsar de seu território os indesejáveis “contras”, não tanto por
morrer de amores por eles, mas por temer se indispor com a Casa Branca, de cuja
ajuda depende por completo.
No entanto, em somente 90 dias, caminhou-se mais do
que em toda uma década rumo à paz na América Central. Os sandinistas
suspenderam a censura ao “La Prensa”, permitindo a reabertura do jornal,
negociam com a oposição política e decretaram um cessar-fogo unilateral, em
algumas áreas, além de terem permitido o retorno de sacerdotes católicos que
haviam sido expulsos do país.
O governo salvadorenho sancionou uma lei de anistia
e impôs uma trégua unilateral. Os guatemaltecos pelo menos já dialogaram, em
vez de se limitarem a trocar tiros, como faziam recentemente. E cresce o
movimento em Honduras, especialmente entre os militares, para a expulsão dos
“contras” do país.
Tudo isso, ressalte-se, foi conseguido em apenas
três meses! Não é de admirar, portanto, que o presidente costarriquenho não
tenha perdido, ainda, o seu entusiasmo. Agora, pelo menos, fala-se de paz e não
mais de guerra, na atribulada América Central. E isso já é um importante avanço
para os padrões políticos dessa região.
(Artigo
publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 6 de novembro de
1987)
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