Thursday, June 27, 2013

Passos para a paz

Pedro J. Bondaczuk

Os cinco presidentes centro-americanos, que firmaram um histórico acordo de paz para a América Central em 7 de agosto passado, na Guatemala, cumpriram, até aqui, a palavra empenhada, a despeito de análises apressadas (e algumas mal intencionadas) feitas em determinadas áreas políticas.

O pacto, denominado “Esquipulas-II”, previa que 90 dias após sua assinatura, todos os signatários deveriam mostrar progressos rumo à pacificação da região. Ou seja, o documento não previu, em absoluto, que os conflitos (alguns seculares) cessassem de repente, como em um passe de mágica. Quem disser, por outro lado, que não houve nenhuma evolução no quadro político centro-americano ou é muito mal informado, ou deseja, apenas, tumultuar o processo de pacificação.

Por essa razão, estamos de acordo com o mentor do plano, o jovem presidente da Costa Rica, Oscar Arias Sanchez, ganhador do Nobel da Paz deste ano, quando manifestou, ontem, entusiasmado, em San José, na presença de jornalistas: “Hoje, inicia-se um processo histórico. Meu espírito está cheio de otimismo. Sei que iremos adiante, apesar dos obstáculos e do ceticismo de muita gente”.

Dificuldades persistem, é óbvio, mas ninguém, em sã consciência, esperava que elas desaparecessem da noite para o dia. É verdade que Daniel Ortega bate pé firme e se recusa a negociar com guerrilha anti-sandinista da Nicarágua, preferindo dialogar diretamente com quem a formou e a sustentou todo este tempo: o governo norte-americano.

Os obstáculos não param por aí. Em El Salvador, o assassinato do presidente da Comissão dos Direitos Humanos, Herbert Anaya (possivelmente pelos ultradireitistas esquadrões da morte), fez com que os rebeldes deixassem a mesa de negociações.

Na Guatemala, o presidente Vinício Cerezo Arévalo exige que os sediciosos deponham armas para dialogar. Honduras, por seu turno, reluta em expulsar de seu território os indesejáveis “contras”, não tanto por morrer de amores por eles, mas por temer se indispor com a Casa Branca, de cuja ajuda depende por completo.

No entanto, em somente 90 dias, caminhou-se mais do que em toda uma década rumo à paz na América Central. Os sandinistas suspenderam a censura ao “La Prensa”, permitindo a reabertura do jornal, negociam com a oposição política e decretaram um cessar-fogo unilateral, em algumas áreas, além de terem permitido o retorno de sacerdotes católicos que haviam sido expulsos do país.

O governo salvadorenho sancionou uma lei de anistia e impôs uma trégua unilateral. Os guatemaltecos pelo menos já dialogaram, em vez de se limitarem a trocar tiros, como faziam recentemente. E cresce o movimento em Honduras, especialmente entre os militares, para a expulsão dos “contras” do país.

Tudo isso, ressalte-se, foi conseguido em apenas três meses! Não é de admirar, portanto, que o presidente costarriquenho não tenha perdido, ainda, o seu entusiasmo. Agora, pelo menos, fala-se de paz e não mais de guerra, na atribulada América Central. E isso já é um importante avanço para os padrões políticos dessa região.     

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 6 de novembro de 1987)


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