Saturday, June 15, 2013

Artífices de um mundo novo

Pedro J. Bondaczuk

Os séculos XIX – notadamente sua segunda metade – e XX foram “revolucionários” no que se refere à evolução material e intelectual da humanidade. Neles se deram as grandes descobertas científicas, em praticamente todos os campos da ciência. Ademais, surgiram disciplinas novas, até então inexistentes (ou sem espaço próprio), como a Sociologia, a Etologia (estudo do comportamento animal e, consequentemente, também do homem) e a Psicanálise, entre tantas e tantas outras, que hoje estão consolidadas e que muito contribuíram (e vêm contribuindo) para o entendimento das ações, reações e motivações do único animal racional da natureza.

Pode-se dizer que os avanços e criações ocorridos nesse período de 200 anos moldaram a atual civilização, como a conhecemos. Nele foram “inventados”, por um punhado de artífices do mundo novo, praticamente todos os equipamentos que caracterizam a vida moderna: a eletricidade, o automóvel, o avião, o telégrafo sem fio, o telefone, o rádio, a televisão, o computador, o celular, o Ipad, o Ipod e vai por aí afora, incluindo equipamentos aos quais nem sempre atribuímos o devido valor, mas sem os quais nossa vida seria muito mais penosa e problemática, como o caso dos eletrodomésticos, por exemplo.

Raramente paramos para pensar na importância desses inventos, pois quando nascemos, a maioria  já estava, há tempos, implantada, em pleno uso, amplamente popularizada. Não tivemos, portanto, a experiência de viver sem eles. Reitero, houve uma revolução tecnológica e científica como nunca antes vista neste relativamente escasso período de tempo e em todos os campos de atividades: no dos transportes, nas comunicações, na Medicina, na coleta e difusão de informações e vai por aí afora, incluindo as artes, os esportes e o entretenimento. Imaginem viver em um mundo sem tudo isso! Quando somos forçados a passar, por exemplo, um único e reles dia sem energia elétrica, em decorrência de algum acidente nas linhas de transmissão ou de qualquer defeito nas linhas de distribuição, já é um deus nos acuda. Ficamos enlouquecidos! Nossa vida doméstica é virada de ponta cabeça, fica toda tumultuada e nos sentimos perdidos, aturdidos, irritados e sumamente desconfortáveis. Imaginem, porém, se ela não existisse, se não houvesse sido descoberta e aperfeiçoada! Nos sentiríamos perdidos.

O mesmo vale para os transportes (automóveis, caminhões, trens de alta velocidade, aviões etc.), que “encolheram as distâncias e tornaram possíveis viagens que há menos de 150 anos duravam semanas, quando não meses, em apenas um par de horas. Vale, também, para as comunicações, possibilitando-nos contatar, por exemplo, parentes, amigos, clientes etc. do outro lado do mundo, instantaneamente, em tempo real, pelo “milagre” da internet. E vale para praticamente todos os bens de alta, média ou baixa tecnologia, aos quais não valorizamos devidamente, por nunca termos sido privados deles.

Os críticos da atual civilização tecnológica (e, em certos aspectos, me incluo neste rol), argumentam que neste período de 200 anos, as ciências, de fato, evoluíram espantosamente (e não há como negar), mas os princípios, os valores como a ética, o direito, a moral e o comportamento da humanidade, estagnaram, se não regrediram. Entendo, porém, que uma afirmação tão genérica e vaga não passa de generalização estúpida e não verdadeira (pelo menos, não toda ela).

O homem evoluiu, sim, também nesses campos. Pode não ter evoluído o suficiente (e depende do que se entenda por “suficiência”). É provável, até, que muitos desses avanços tenham sido neutralizados pelo surgimento de novos problemas, como os da superpopulação, do desperdício de recursos escassos e não renováveis do Planeta, das continuadas e progressivas agressões ao meio ambiente, e vai por aí afora. Todavia, se fizermos uma análise sensata, ponderada, sincera e serena, concluiremos que houve evolução, também, nesses aspectos.

O mundo atual, essa civilização tecnológica que aí está, é ruim? Sem dúvida! Está muitíssimo distante da ideal, do que gostaríamos que fosse. Todavia... poderia ser muito pior, caso não ocorressem os avanços que ocorreram. Cientistas notáveis que podem (e muitos devem) ser caracterizados como gênios, contribuíram e contribuem para que nossa vida seja, pelo menos, confortável, segura e mais longa. Nossos antepassados, caso estivessem vivos, sentiriam tremenda inveja dos confortos e facilidades existentes ao nosso dispor, que nem nos damos o trabalho de valorizar e que eles sequer sonhavam em suas mais delirantes fantasias.

Entre esses magníficos pesquisadores, esses “gênios”, esses “gigantes da espécie”, que moldaram o mundo à atual feição, se inclui um sujeito polêmico, controvertido, dizem que viciado em drogas, adorado por alguns e odiado por muitos, que ousou invadir, estudar e desvendar o que temos de mais pessoal e secreto: nossa mente. Muitas das suas conclusões contribuíram, e ainda contribuem, para que entendamos (e possamos corrigir), por exemplo, atos que praticamos, mas que não julgávamos que pudéssemos praticar.

Permitiu que identificássemos, e exorcizássemos, o que costumo chamar de “nossos demônios interiores”, que são alguns instintos ruins, que convém que sejam pelo menos controlados e reorientados para a prática de ações positivas, construtivas e boas. Homem de idéias e posições consideradas exóticas, afirmou, certa ocasião: "Se o desenvolvimento da civilização é tão semelhante ao do indivíduo, e se usa os mesmos meios, não teríamos o direito de diagnosticar que muitas civilizações, ou épocas culturais – talvez até a humanidade inteira – se tornaram neuróticas sob a influência do seu esforço de civilização?"  Refiro-me ao complexo, ao controvertido, ao misto de gênio e de demente, invasor e xereta da mente humana, Sigmund Schlomo Freud. É a essa estranha figura que o convido, curioso leitor, a conhecer um pouco melhor, na sequência destas não menos polêmicas e controvertidas reflexões.


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