Artífices de um mundo
novo
Pedro
J. Bondaczuk
Os séculos XIX –
notadamente sua segunda metade – e XX foram “revolucionários” no que se refere
à evolução material e intelectual da humanidade. Neles se deram as grandes
descobertas científicas, em praticamente todos os campos da ciência. Ademais,
surgiram disciplinas novas, até então inexistentes (ou sem espaço próprio),
como a Sociologia, a Etologia (estudo do comportamento animal e,
consequentemente, também do homem) e a Psicanálise, entre tantas e tantas
outras, que hoje estão consolidadas e que muito contribuíram (e vêm
contribuindo) para o entendimento das ações, reações e motivações do único
animal racional da natureza.
Pode-se dizer que os
avanços e criações ocorridos nesse período de 200 anos moldaram a atual
civilização, como a conhecemos. Nele foram “inventados”, por um punhado de
artífices do mundo novo, praticamente todos os equipamentos que caracterizam a
vida moderna: a eletricidade, o automóvel, o avião, o telégrafo sem fio, o
telefone, o rádio, a televisão, o computador, o celular, o Ipad, o Ipod e vai
por aí afora, incluindo equipamentos aos quais nem sempre atribuímos o devido
valor, mas sem os quais nossa vida seria muito mais penosa e problemática, como
o caso dos eletrodomésticos, por exemplo.
Raramente paramos para
pensar na importância desses inventos, pois quando nascemos, a maioria já estava, há tempos, implantada, em pleno
uso, amplamente popularizada. Não tivemos, portanto, a experiência de viver sem
eles. Reitero, houve uma revolução tecnológica e científica como nunca antes
vista neste relativamente escasso período de tempo e em todos os campos de
atividades: no dos transportes, nas comunicações, na Medicina, na coleta e
difusão de informações e vai por aí afora, incluindo as artes, os esportes e o
entretenimento. Imaginem viver em um mundo sem tudo isso! Quando somos forçados
a passar, por exemplo, um único e reles dia sem energia elétrica, em
decorrência de algum acidente nas linhas de transmissão ou de qualquer defeito
nas linhas de distribuição, já é um deus nos acuda. Ficamos enlouquecidos!
Nossa vida doméstica é virada de ponta cabeça, fica toda tumultuada e nos
sentimos perdidos, aturdidos, irritados e sumamente desconfortáveis. Imaginem,
porém, se ela não existisse, se não houvesse sido descoberta e aperfeiçoada!
Nos sentiríamos perdidos.
O mesmo vale para os
transportes (automóveis, caminhões, trens de alta velocidade, aviões etc.), que
“encolheram as distâncias e tornaram possíveis viagens que há menos de 150 anos
duravam semanas, quando não meses, em apenas um par de horas. Vale, também,
para as comunicações, possibilitando-nos contatar, por exemplo, parentes,
amigos, clientes etc. do outro lado do mundo, instantaneamente, em tempo real,
pelo “milagre” da internet. E vale para praticamente todos os bens de alta,
média ou baixa tecnologia, aos quais não valorizamos devidamente, por nunca
termos sido privados deles.
Os críticos da atual
civilização tecnológica (e, em certos aspectos, me incluo neste rol),
argumentam que neste período de 200 anos, as ciências, de fato, evoluíram
espantosamente (e não há como negar), mas os princípios, os valores como a
ética, o direito, a moral e o comportamento da humanidade, estagnaram, se não
regrediram. Entendo, porém, que uma afirmação tão genérica e vaga não passa de
generalização estúpida e não verdadeira (pelo menos, não toda ela).
O homem evoluiu, sim,
também nesses campos. Pode não ter evoluído o suficiente (e depende do que se
entenda por “suficiência”). É provável, até, que muitos desses avanços tenham
sido neutralizados pelo surgimento de novos problemas, como os da
superpopulação, do desperdício de recursos escassos e não renováveis do
Planeta, das continuadas e progressivas agressões ao meio ambiente, e vai por
aí afora. Todavia, se fizermos uma análise sensata, ponderada, sincera e
serena, concluiremos que houve evolução, também, nesses aspectos.
O mundo atual, essa
civilização tecnológica que aí está, é ruim? Sem dúvida! Está muitíssimo
distante da ideal, do que gostaríamos que fosse. Todavia... poderia ser muito
pior, caso não ocorressem os avanços que ocorreram. Cientistas notáveis que
podem (e muitos devem) ser caracterizados como gênios, contribuíram e
contribuem para que nossa vida seja, pelo menos, confortável, segura e mais
longa. Nossos antepassados, caso estivessem vivos, sentiriam tremenda inveja
dos confortos e facilidades existentes ao nosso dispor, que nem nos damos o
trabalho de valorizar e que eles sequer sonhavam em suas mais delirantes
fantasias.
Entre esses magníficos
pesquisadores, esses “gênios”, esses “gigantes da espécie”, que moldaram o
mundo à atual feição, se inclui um sujeito polêmico, controvertido, dizem que
viciado em drogas, adorado por alguns e odiado por muitos, que ousou invadir,
estudar e desvendar o que temos de mais pessoal e secreto: nossa mente. Muitas
das suas conclusões contribuíram, e ainda contribuem, para que entendamos (e
possamos corrigir), por exemplo, atos que praticamos, mas que não julgávamos
que pudéssemos praticar.
Permitiu que
identificássemos, e exorcizássemos, o que costumo chamar de “nossos demônios
interiores”, que são alguns instintos ruins, que convém que sejam pelo menos
controlados e reorientados para a prática de ações positivas, construtivas e
boas. Homem de idéias e posições consideradas exóticas, afirmou, certa ocasião:
"Se o desenvolvimento da civilização é tão semelhante ao do
indivíduo, e se usa os mesmos meios, não teríamos o direito de diagnosticar que
muitas civilizações, ou épocas culturais – talvez até a humanidade inteira – se
tornaram neuróticas sob a influência do seu esforço de civilização?" Refiro-me ao complexo, ao controvertido, ao
misto de gênio e de demente, invasor e xereta da mente humana, Sigmund Schlomo
Freud. É a essa estranha figura que o convido, curioso leitor, a conhecer um
pouco melhor, na sequência destas não menos polêmicas e controvertidas
reflexões.
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