Consciência ecológica
Pedro J. Bondaczuk
O líder pacifista indiano, Mohandas Karamanchand
Gandhi, ensinou que "a Terra é suficiente para as necessidades básicas de
todos, mas não para a voracidade dos consumistas". Todavia, nos dias
atuais, são estes os que prevalecem, causando uma catastrófica depredação
planetária, sem sempre delatada, ou pelo menos não em sua verdadeira dimensão.
Indiferentes ao fato de que estão neste mundo apenas
de passagem, e que seu papel, a sua razão de viver, é a de preparar condições
propícias para que futuras gerações vivam melhor, certas pessoas, ou grupos, ou
governos, ou corporações, usam e abusam dos recursos de que a natureza nos
dotou.
O desarranjo climático, que vem se verificando em
várias partes do Planeta, tem sido freqüente demais para poder ser
caracterizado como episódico, eventual ou passageiro. No fim do ano passado, o
noticiário registrou os incêndios em Los Angeles.
Posteriormente, o frio castigou o hemisfério Norte
com dureza. Em janeiro passado, o fogo destruiu milhares de hectares na região
da cidade australiana de Sydney. Secas catastróficas, invernos extremamente
rigorosos, verões inusitadamente quentes e inundações desastrosas repetem-se,
aqui e ali, ano após ano, sem que se faça algo de efetivo em favor do
equilíbrio do meio ambiente.
Neste ano, as regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste do
País enfrentam uma estiagem inusitada. O Brasil, literalmente, "está em
chamas". Incêndios e mais incêndios destróem, em questão de horas, o que a
natureza levou séculos, quando não milênios, para construir.
Os compromissos assumidos na ECO-92, a conferência
mundial sobre ecologia, realizada no Rio de Janeiro em 1992, ficaram apenas no
papel. Pouca coisa, senão nenhuma, se fez para evitar o aumento do rombo na
camada de ozônio.
Os produtos responsáveis pela destruição dessa capa
protetora, continuam sendo utilizados, embora esteja mais do que comprovada sua
ação nociva sobre a atmosfera terrestre. A poluição do ar, da água e da terra
(mediante o uso de agrotóxicos), tem aumentado, ao invés de diminuir, embora
todos admitam que o perigo do temido "efeito estufa" existe e não é
pura fantasia de catastrofistas.
A ecologia tornou-se apenas um modismo, dos que
procuram notoriedade, através de espaços na imprensa. Alguns, fazem dela um
cabo eleitoral, um slogan político, uma bandeira utópica e nada mais. Ocorre
que o Planeta não pertence a ninguém. É uma espécie de nave natural, que viaja
no espaço vazio, com destino ignorado.
Seu interior é limitado e tem que ser compartilhado
por esta e por futuras gerações. Os recursos são finitos e alguns não são
renováveis. Caso a Terra seja destruída --- e está sendo --- não teremos onde
ficar. O homem desaparecerá também.
Trata-se de uma realidade tão óbvia, que seria
desnecessário mencionar o assunto. Ocorre que a maioria não se dá conta disso e
trata a natureza como se fosse algo descartável, "prêt-à-porter", que
se possa "usar e jogar fora".
Enquanto o homem não fizer do preservacionismo mais
do que mero assunto da moda e não o transformar em consciência, estaremos
todos, da presente e das vindouras gerações, em sérios, em seriíssimos apuros.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 28 de setembro de 1994).
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