Fonte inesgotável de
proteínas
Pedro
J. Bondaczuk
A desnutrição é um dos
grandes problemas da humanidade e não é de hoje que isso acontece. A situação,
óbvio, é mais grave entre a população infantil do super povoado Terceiro Mundo,
onde a fome chega a ser epidêmica. Parcela considerável dos mais de 7 bilhões
de habitantes do Planeta tem, por uma razão ou outra, deficiências nutricionais
agudas, reduzindo, severamente, suas expectativas de vida.
Isso acontece a
despeito do mundo contar com abundância de alimentos, tanta que 50% de tudo o
que se produz anualmente são desperdiçados e, ainda assim, os silos dos países
produtores e dos do Primeiro Mundo estão sempre abarrotados, com estoques
suficientes para alimentar toda a humanidade por pelo menos uma década.
Imaginemos, porém, que os cada vez mais escassos solos férteis do Planeta, por
uma série de fatores (principalmente os climáticos, dada a progressão do
chamado “efeito estufa”) deixem de produzir. Que haja, digamos, por quatro ou
cinco anos consecutivos, calamitosas quebras de safra e que os estoques logo se
esgotem.
Emerge uma pergunta –
ainda hipotética, mas que pode (Deus que nos livre) se tornar concreta e
imediata – com a qual as autoridades internacionais deveriam se preocupar. A questão
em tela é: qual seria a alternativa para garantir os nutrientes necessários
para manter tantas pessoas vivas e saudáveis? Se você pensou em proteínas
animais de gado de corte (boi, porco ou carneiro) está enganado. A alternativa
também não seria a carne de aves e nem seus ovos. Especialistas em alimentação,
de várias partes do mundo, propõem, caso ocorra essa emergência, essa
catástrofe, sabem o quê? Que se lance mão de algo super abundante na Terra, que
não implique em despesas de produção, estocagem e transporte e que, ao mesmo
tempo, supra de nutrientes indispensáveis à saúde todas as pessoas.
Na realidade, isso já
existe. E em vários lugares (e em diversas épocas) vem sendo utilizado, posto
que por minorias. Querem saber qual é essa potencial fonte de proteínas,
praticamente inesgotável e acessível a todos? De acordo com os especialistas,
são os insetos. Isso mesmo, caro leitor. Confesso, da minha parte que, se essa
for a alternativa que me restar para sobreviver, estarei condenado. Os
entendidos na matéria garantem que raras pessoas os consomem por causa,
somente, de puro preconceito. Pois neste caso, eu o tenho.
Antes que me
questionem, explico que trago este assunto à baila não com a intenção de chocar
meu paciente leitor, mas porque constatei existir vasta literatura a propósito.
E como este espaço é dedicado a livros, não vejo nenhuma razão objetiva para
não enfocar estes também. Ademais, é como se os autores dessas publicações
estivessem com alguma premonição (tomara que não) de que algum dia (tomara que
nunca chegue) esta será a única alternativa que irá restar à humanidade para
escapar do flagelo da fome e das suas seqüelas, das quais a mais ostensiva é a
desnutrição.
Os especialistas
explicam que não se trata de consumir qualquer inseto. Muitos são transmissores
de doenças letais e, se consumidos, obviamente o “tiro sairia pela culatra”. E
nem se trata de devorá-los vivos, crus, pois não haveria (e nem haverá)
estômago que aguente isso. O Departamento de Biologia da Universidade Autônoma
do México já catalogou 2.346 espécies diferentes de insetos que podem ser
consumidas sem nenhum risco para a saúde e com imensos proveitos nutricionais.
Entre elas, estão incluídas as térmitas (cupins) muito abundantes por toda a
parte e com uma capacidade de reprodução impressionante, a ponto de se
constituírem em grave problema para os agricultores.
Todavia, esses
incômodos e prolíficos bichinhos, tidos e havidos como indesejabilíssimas
pragas, têm “um valor calorífico quatro vezes maior do que a carne”, conforme
assinalaram os pesquisadores mexicanos Julieta Ramos e Rafael Caballero. “A
alimentação reflete a situação sócio-econômica, preconceitos e tabus das
pessoas. Seu conceito varia da população urbana para a rural. A primeira, por
exemplo, tem nojo de consumir insetos. E a segunda se alimenta deles e até os
comercializa”, observou Caballero, em uma entrevista que concedeu em 22 de
abril de 1987 à agência de notícias “The Associated Press” e que localizei, dia
desses, em meus arquivos.
Aliás, a dieta dos antigos
indígenas do México, em especial dos mixtecas e zapotecas, não dispensava estas
(para eles) “deliciosas iguarias”. Por muito tempo, os habitantes dos Estados
de Guerrero, Oaxaca e Chiapas do Sul, cultivaram esse hábito. Por isso, entre
tais populações, os casos de subnutrição e desnutrição sempre foram raros, a
despeito da sua pobreza.
Ainda hoje, moradores
dessas regiões conservam o hábito de comer formigas, lagartas e gafanhotos. É
claro que não os comem assim, a seco, sem qualquer preparo. Os insetos são
preparados para serem, por exemplo, recheios de tortas de milho e com molhos de
pimenta e de limão. Muitos turistas, que à simples menção desse hábito torcem o
nariz, cheios de nojo, experimentaram com certeza (embora não o soubessem e
muitos ainda vão experimentar) essas “iguarias” e as acharam deliciosas. Ah se
soubessem do que se tratava! Alguns pesquisadores pretendem fazer com que essas
comidas, algumas com a adição de queijo gratinado, sejam levadas aos cardápios
dos bolsões de miséria da capital e de outras grandes cidades mexicanas.
Garantem que com isso os índices de subnutrição e desnutrição seriam reduzidos
praticamente a zero. Voltarei, certamente, a tocar no assunto, e com maiores
detalhes.
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