Sunday, June 23, 2013

Dissecando a mente humana

Pedro J. Bondaczuk

O homem é o único ser vivente (pelo menos neste Planeta, pois ainda não se descobriu vida inteligente em outras partes do universo, embora a lógica indique que exista, e muita) dotado de razão. Tem capacidade de entender (conta com a prerrogativa da “inteligência”), pelo menos rudimentarmente, o que é, onde está e como deve proceder para conservar a vida (própria) e se reproduzir, para assegurar a sobrevivência de seus genes e, em última análise, da espécie. Todavia, é um animal. Tem as mesmas características biológicas e necessidades básicas de todos seus companheiros de criação. Precisa se alimentar, respirar, excretar, controlar a temperatura etc. como todos demais seres viventes. A despeito da sua peculiaridade – no caso, o fato de ser dotado de razão – tem os mesmos instintos dos demais animais. Ou seja, instintivamente age no sentido de se preservar e de se reproduzir, e compete, quando necessário, pelo alimento, pela parceira sexual, pelo espaço que considera vital etc.etc.etc.

A diferença é que tem condições de identificar, e de controlar, esses instintos. É capaz de direcioná-los para a cooperação com outros espécimes da mesma espécie, em vez buscar sua mera destruição quando se sentir de alguma forma ameaçado por eles. A essa identificação, a esse controle e a esse direcionamento é que se convencionou chamar de “civilização”. Esta, em última análise, portanto, não deixa de ser uma repressão aos nossos instintos básicos.

Grosso modo, esse é um resumo (pelo menos no meu entendimento de leigo) do pensamento de Sigmund Freud a propósito da mente humana que virtualmente “dissecou” e de sua principal diferença (no caso, vantagem) em relação aos demais animais. Fundamento essa conclusão na seguinte declaração do ilustre e polêmico “Pai da Psicanálise”: "A renúncia progressiva dos instintos parece ser um dos fundamentos do desenvolvimento da civilização humana". Claro que o homem “ainda” não renunciou a todos eles e sequer se sabe se tem capacidade de renunciá-los.

Nem mesmo se sabe se uma renúncia tão radical é benéfica ou perigosa, o expondo a riscos de toda a sorte e até ao da sua extinção. Para Freud, ela seria desastrosa. Ele declarou, a propósito: “A nossa civilização é em grande parte responsável pelas nossas desgraças. Seríamos muito mais felizes se a abandonássemos e retornássemos às condições primitivas". Não concordo e nem discordo dessa afirmação. Prefiro analisá-la com mais vagar antes de chegar a alguma conclusão.

Freud concluiu, em seus estudos, que a consciência humana subdivide-se em três níveis: Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente. Creio que os três termos são auto-explicativos. Esses conceitos são um tanto complexos e de difícil entendimento. Para torná-los mais claros e ser mais didático, recorrerei, quando julgar necessário, a informações colhidas na enciclopédia eletrônica Wikipédia, até porque não sou especialista na matéria. Não passo de mero curioso que engatinha pelos meandros do autoconhecimento.

O substrato Consciente da nossa mente é o perceptível, o que identificamos como “realidade” e que “entendemos” (até com o auxílio dos cinco sentidos), sem maiores dificuldades. O Pré-Consciente é o que está latente no fundo da consciência. É o que ainda está indefinido, meio que esboçado, incompleto, mas que pode emergir à consciência com certa facilidade. Já o Inconsciente... é o que está de fato em nós, mas que sequer sabemos que está, embora intuamos. Trata-se do conteúdo mais profundo da mente. Está ligado diretamente aos instintos. Podemos, eventualmente, trazê-lo à consciência, ou não. Mas existe. Está em nós. Integra nossa mente.

Freud criou – ou pelo menos “batizou” dessa maneira – três entidades, três níveis de consciência, que denominou de “Id”, “Ego” e “Superego”. A propósito deles, prefiro tratar em texto próprio, em separado, e em outro dia, dada sua importância na concepção da Psicanálise.

Antes de encerrar estas reflexões, ressalto, todavia, o papel que o polêmico psicanalista atribuiu ao instinto sexual, no seu entender (e no meu) um dos mais poderosos e irresistíveis, que determina a imensa maioria dos nossos atos (se não todos), positivos e/ou negativos. Esse aspecto de sua teoria, aliás, foi o que causou maior escândalo na comunidade científica, e no público em geral, absolutamente leigo na matéria. E essa oposição era até previsível, se considerarmos a época em que Freud realizou seus estudos. Foi a ignorância generalizada que lhe granjeou tanta e tão ferrenha oposição. Tolice, claro. Falta de espírito científico de seus críticos, imbuídos, certamente, de hipócrita e falso moralismo.

Freud declarou, por exemplo: "É quase impossível conciliar as exigências do instinto sexual com as da civilização". Nosso impulso, nesse aspecto, não difere em nada do dos demais animais. O que a razão nos possibilita, é dissimulá-lo, o que as broncas feras não conseguem. Imaginem o efeito que causou, numa sociedade dissimulada e que se apegava às aparências, em detrimento da realidade, uma declaração como esta, feita por Freud: "Há numerosos indivíduos civilizados que recuariam aterrados perante a ideia do assassínio ou do incesto, mas que não desdenham satisfazer a sua cupidez, a sua agressividade, as suas cobiças sexuais, que não hesitam em prejudicar os seus semelhantes por meio da mentira, do engano, da calúnia, contanto que o possam fazer com impunidade!". Não lhe parece, paciente leitor, uma declaração feita por alguém hoje de manhã, após a leitura dos jornais diários?


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