Dissecando a mente
humana
Pedro
J. Bondaczuk
O homem é o único ser
vivente (pelo menos neste Planeta, pois ainda não se descobriu vida inteligente
em outras partes do universo, embora a lógica indique que exista, e muita)
dotado de razão. Tem capacidade de entender (conta com a prerrogativa da
“inteligência”), pelo menos rudimentarmente, o que é, onde está e como deve
proceder para conservar a vida (própria) e se reproduzir, para assegurar a
sobrevivência de seus genes e, em última análise, da espécie. Todavia, é um
animal. Tem as mesmas características biológicas e necessidades básicas de
todos seus companheiros de criação. Precisa se alimentar, respirar, excretar,
controlar a temperatura etc. como todos demais seres viventes. A despeito da
sua peculiaridade – no caso, o fato de ser dotado de razão – tem os mesmos
instintos dos demais animais. Ou seja, instintivamente age no sentido de se
preservar e de se reproduzir, e compete, quando necessário, pelo alimento, pela
parceira sexual, pelo espaço que considera vital etc.etc.etc.
A diferença é que tem
condições de identificar, e de controlar, esses instintos. É capaz de
direcioná-los para a cooperação com outros espécimes da mesma espécie, em vez
buscar sua mera destruição quando se sentir de alguma forma ameaçado por eles.
A essa identificação, a esse controle e a esse direcionamento é que se
convencionou chamar de “civilização”. Esta, em última análise, portanto, não
deixa de ser uma repressão aos nossos instintos básicos.
Grosso modo, esse é um
resumo (pelo menos no meu entendimento de leigo) do pensamento de Sigmund Freud
a propósito da mente humana que virtualmente “dissecou” e de sua principal
diferença (no caso, vantagem) em relação aos demais animais. Fundamento essa
conclusão na seguinte declaração do ilustre e polêmico “Pai da Psicanálise”: "A
renúncia progressiva dos instintos parece ser um dos fundamentos do
desenvolvimento da civilização humana". Claro que o homem “ainda” não
renunciou a todos eles e sequer se sabe se tem capacidade de renunciá-los.
Nem mesmo se
sabe se uma renúncia tão radical é benéfica ou perigosa, o expondo a riscos de
toda a sorte e até ao da sua extinção. Para Freud, ela seria desastrosa. Ele
declarou, a propósito: “A nossa civilização é em grande parte responsável pelas
nossas desgraças. Seríamos muito mais felizes se a abandonássemos e
retornássemos às condições primitivas". Não concordo e nem discordo dessa
afirmação. Prefiro analisá-la com mais vagar antes de chegar a alguma
conclusão.
Freud concluiu,
em seus estudos, que a consciência humana subdivide-se em três níveis:
Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente. Creio que os três termos são
auto-explicativos. Esses conceitos são um tanto complexos e de difícil
entendimento. Para torná-los mais claros e ser mais didático, recorrerei,
quando julgar necessário, a informações colhidas na enciclopédia eletrônica
Wikipédia, até porque não sou especialista na matéria. Não passo de mero
curioso que engatinha pelos meandros do autoconhecimento.
O substrato
Consciente da nossa mente é o perceptível, o que identificamos como “realidade”
e que “entendemos” (até com o auxílio dos cinco sentidos), sem maiores
dificuldades. O Pré-Consciente é o que está latente no fundo da consciência. É
o que ainda está indefinido, meio que esboçado, incompleto, mas que pode
emergir à consciência com certa facilidade. Já o Inconsciente... é o que está
de fato em nós, mas que sequer sabemos que está, embora intuamos. Trata-se do
conteúdo mais profundo da mente. Está ligado diretamente aos instintos. Podemos,
eventualmente, trazê-lo à consciência, ou não. Mas existe. Está em nós. Integra
nossa mente.
Freud criou – ou
pelo menos “batizou” dessa maneira – três entidades, três níveis de
consciência, que denominou de “Id”, “Ego” e “Superego”. A propósito deles, prefiro
tratar em texto próprio, em separado, e em outro dia, dada sua importância na
concepção da Psicanálise.
Antes de
encerrar estas reflexões, ressalto, todavia, o papel que o polêmico
psicanalista atribuiu ao instinto sexual, no seu entender (e no meu) um dos
mais poderosos e irresistíveis, que determina a imensa maioria dos nossos atos
(se não todos), positivos e/ou negativos. Esse aspecto de sua teoria, aliás,
foi o que causou maior escândalo na comunidade científica, e no público em
geral, absolutamente leigo na matéria. E essa oposição era até previsível, se
considerarmos a época em que Freud realizou seus estudos. Foi a ignorância
generalizada que lhe granjeou tanta e tão ferrenha oposição. Tolice, claro.
Falta de espírito científico de seus críticos, imbuídos, certamente, de
hipócrita e falso moralismo.
Freud declarou,
por exemplo: "É quase impossível conciliar as exigências do instinto
sexual com as da civilização". Nosso impulso, nesse aspecto, não difere em
nada do dos demais animais. O que a razão nos possibilita, é dissimulá-lo, o
que as broncas feras não conseguem. Imaginem o efeito que causou, numa
sociedade dissimulada e que se apegava às aparências, em detrimento da
realidade, uma declaração como esta, feita por Freud: "Há numerosos indivíduos
civilizados que recuariam aterrados perante a ideia do assassínio ou do
incesto, mas que não desdenham satisfazer a sua cupidez, a sua agressividade,
as suas cobiças sexuais, que não hesitam em prejudicar os seus semelhantes por
meio da mentira, do engano, da calúnia, contanto que o possam fazer com
impunidade!". Não lhe parece, paciente leitor, uma declaração feita por
alguém hoje de manhã, após a leitura dos jornais diários?
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