Atração de um país é seu povo
Pedro J. Bondaczuk
O
historiador norte-americano Paul Kennedy constatou que “a maior atração
turística de um país é a qualidade de vida de seus habitantes”. Não são,
portanto, as paisagens maravilhosas, os museus com seu rico acervo cultural, os
hotéis cinco estrelas com serviço refinado e nem os costumes exóticos que
atraem visitantes.
Daí o Brasil de hoje, mergulhado numa miséria ditada
mais pelo egoísmo e pela ausência de uma visão correta de nacionalidade do que
pela falta de recursos, não ser tão atrativo quanto foi em passado ainda
recente. Os desníveis de renda dos brasileiros chocam profundamente os que têm
um mínimo de sensibilidade. E ninguém deixa seu país, numas férias, para se
aborrecer.
O que mais revolta o estrangeiro que passa por aqui
não é, como muitos acham, a violência, até porque esta é uma característica do
mundo contemporâneo. Países ricos e pobres vivem esse problema, em graus os
mais variados e por razões diversas.
O que choca é a miséria da maioria da população, num
território dotado de tantos e tamanhos recursos naturais. Temos hoje 34,2
milhões de indigentes. Vinte e oito milhões das crianças brasileiras são pobres
e crescem sem nenhuma perspectiva senão a de servir de mão de obra barata e
farta, quando na verdade precisamos é de cérebros lépidos e criativos.
Há tempos o Brasil vem sendo citado, em extensas
reportagens de televisão, em artigos e matérias de jornais, nos Estados Unidos
e na Europa, como um povo que não sabe cuidar dos seus meninos e meninas. E,
pior do que isso, como aquele que extermina menores, como se fossem mera caça.
Os que não são mortos, permanecem abandonados e ficam escolados na universidade
do crime, em que se transformaram as ruas das nossas metrópoles.
Agora, na Conferência Mundial sobre Direitos
Humanos, que se realiza em Viena, sob os auspícios das Nações Unidas, o Brasil
foi denunciado por outra perversidade contra suas crianças. Trata-se do país
latino-americano com a maior taxa de prostituição infantil.
As pessoas de mente fraca ainda não conseguiram
administrar com competência e racionalidade algo que qualquer animal irracional
domina por puro instinto: a sexualidade.
O corpo é transformado em mero objeto biológico.
Quem age assim, não se dá conta de que essa carcassa de ossos, músculos,
nervos, veias e artérias é mero meio para manter a sobrevivência do órgão
nobre, onde fica a sede da razão: o cérebro. E que a racionalidade deve ser
cultivada a todo o custo, sendo o seu cultivo o principal objetivo da existência
humana.
Em documento emitido pela Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil, datado de 7 de maio passado, durante a 31ª Assembléia Geral
da entidade realizada em Itaici, na qual foi abordada a questão da ética, há a
seguinte constatação: “A sexualidade, por ser fundamental à vida humana, quando
instrumentalizada ou absolutizada, converte-se em instrumento de alienação e
despersonalização. O prazer, quando reduzido à genitalidade, pode ser um
mecanismo para afastar as pessoas umas das outras”.
Por estas e outras, não se pode deixar de concordar
com Marcel Mauss quando este constata: “Apesar de todos os inventários e de
todas as teorias, existirão ainda para ser descobertas e contempladas muitas
luas mortas, ou pálidas, ou obscuras, no firmamento da razão”.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 23 de junho de 1993).
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