O terrorismo e a nova era
Pedro J. Bondaczuk
A guerra civil do Sri Lanka, a
antiga colônia britânica do Ceilão, além de provocar a morte de 17 mil pessoas,
nesse pequeno país insular de 17 milhões de habitantes, desde 1981, redundou no
assassinato de duas personalidades políticas da Ásia, ambas em atentados
praticados por terroristas ligados à Frente Tigre Tamil de Libertação Nacional.
A primeira ocorrência desse tipo,
que chocou o mundo pela sua brutalidade, foi a explosão que ceifou a vida do
ex-primeiro-ministro indiano, Rajiv Gandhi, em plena campanha das eleições
parlamentares da Índia, em maio de 1991, que ele, fatalmente, venceria. O jovem
político, filho de Indira, foi estraçalhado por uma bomba, amarrada ao corpo de
uma extremista, que lhe ofereceu flores (ironia macabra) antes de acionar o
detonador.
No dia 1º passado, a mesma
organização foi a responsável por outro ato bárbaro da mesma espécie. Só que,
desta vez, o artefato explosivo, que matou o presidente da República cingalês,
Ranasinghe Premadasa, estava amarrado ao corpo de um homem, que passou junto ao
palanque das autoridades, no desfile do Dia do Trabalho, de bicicleta, quando
então detonou o explosivo.
O político e o terrorista
morreram despedaçados junto com 12 pessoas e mais de 60 espectadores da trágica
cena sofreram ferimentos. Como no caso de Rajiv, o assassinato também teve como
motivação a vingança.
Em 1987, no auge da guerra civil
no Sri Lanka, o então primeiro-ministro da Índia atuou como mediador e, mais do
que isso, como fiador de um acordo de paz entre a maioria cingalesa do país –
73% da população – e a minoria tamil – 17,5% dos habitantes, dos quais dois
terços nascidos na ilha e descendentes de ilhéus dessa etnia e um terço
procedente do sul indiano.
Na ocasião da assinatura do
pacto, houve festas, confraternização e alívio geral. Tudo levava a crer que o
pesadelo tinha terminado. Todavia, não tardou para que uma das partes – não as
sabe exatamente qual – rompesse o que havia sido pactuado.
Os combates recomeçaram mais
sangrentos e duros do que antes do acordo. Rajiv, na qualidade de fiador do
tratado de paz, promoveu uma intervenção militar na ilha para separar as partes
em conflito e fazer valer os termos do documento.
As tropas indianas entraram no
Sri Lanka para apartar a discórdia, mas acabaram envolvidas diretamente nela.
Os tamis nunca perdoaram a Índia por essa interferência desastrada. Quando o
pacto foi assinado, o presidente cingalês era Junius Jawayardene, que tempos
depois escapou, milagrosamente, de um atentado. Rajiv Gandhi não teve a mesma
sorte.
E onde entra Premadasa nessa
história? Ele era o primeiro-ministro na ocasião da assinatura do tratado de
paz, sendo eleito presidente do Sri Lanka em 1988. Embora não fosse signatário
do acordo de 1987, certamente teve participação no processo de negociação.
Como se observa, a apregoada
“nova era”, predita pelo ex-presidente norte-americano George Bush, ao cabo da
guerra fria que dividiu o mundo por quase meio século, não chegou à maioria do
Planeta. Estão aí confrontos como os da ex-Iugoslávia, dos tamis e cingaleses,
dos vários povos africanos e da ex-URSS a atestar que, a despeito do pomposo
rótulo, milhões de pessoas ainda vivem mergulhadas na miséria, no fanatismo e
fazendo da violência, que a nada conduz, meio para buscar transformações
políticas conseguindo, apenas, semear rancores e destruição.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 10 de
maio de 1993).
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