Saturday, June 08, 2013

O terrorismo e a nova era

Pedro J. Bondaczuk

A guerra civil do Sri Lanka, a antiga colônia britânica do Ceilão, além de provocar a morte de 17 mil pessoas, nesse pequeno país insular de 17 milhões de habitantes, desde 1981, redundou no assassinato de duas personalidades políticas da Ásia, ambas em atentados praticados por terroristas ligados à Frente Tigre Tamil de Libertação Nacional.

A primeira ocorrência desse tipo, que chocou o mundo pela sua brutalidade, foi a explosão que ceifou a vida do ex-primeiro-ministro indiano, Rajiv Gandhi, em plena campanha das eleições parlamentares da Índia, em maio de 1991, que ele, fatalmente, venceria. O jovem político, filho de Indira, foi estraçalhado por uma bomba, amarrada ao corpo de uma extremista, que lhe ofereceu flores (ironia macabra) antes de acionar o detonador.

No dia 1º passado, a mesma organização foi a responsável por outro ato bárbaro da mesma espécie. Só que, desta vez, o artefato explosivo, que matou o presidente da República cingalês, Ranasinghe Premadasa, estava amarrado ao corpo de um homem, que passou junto ao palanque das autoridades, no desfile do Dia do Trabalho, de bicicleta, quando então detonou o explosivo.

O político e o terrorista morreram despedaçados junto com 12 pessoas e mais de 60 espectadores da trágica cena sofreram ferimentos. Como no caso de Rajiv, o assassinato também teve como motivação a vingança.

Em 1987, no auge da guerra civil no Sri Lanka, o então primeiro-ministro da Índia atuou como mediador e, mais do que isso, como fiador de um acordo de paz entre a maioria cingalesa do país – 73% da população – e a minoria tamil – 17,5% dos habitantes, dos quais dois terços nascidos na ilha e descendentes de ilhéus dessa etnia e um terço procedente do sul indiano.

Na ocasião da assinatura do pacto, houve festas, confraternização e alívio geral. Tudo levava a crer que o pesadelo tinha terminado. Todavia, não tardou para que uma das partes – não as sabe exatamente qual – rompesse o que havia sido pactuado.

Os combates recomeçaram mais sangrentos e duros do que antes do acordo. Rajiv, na qualidade de fiador do tratado de paz, promoveu uma intervenção militar na ilha para separar as partes em conflito e fazer valer os termos do documento.

As tropas indianas entraram no Sri Lanka para apartar a discórdia, mas acabaram envolvidas diretamente nela. Os tamis nunca perdoaram a Índia por essa interferência desastrada. Quando o pacto foi assinado, o presidente cingalês era Junius Jawayardene, que tempos depois escapou, milagrosamente, de um atentado. Rajiv Gandhi não teve a mesma sorte.

E onde entra Premadasa nessa história? Ele era o primeiro-ministro na ocasião da assinatura do tratado de paz, sendo eleito presidente do Sri Lanka em 1988. Embora não fosse signatário do acordo de 1987, certamente teve participação no processo de negociação.

Como se observa, a apregoada “nova era”, predita pelo ex-presidente norte-americano George Bush, ao cabo da guerra fria que dividiu o mundo por quase meio século, não chegou à maioria do Planeta. Estão aí confrontos como os da ex-Iugoslávia, dos tamis e cingaleses, dos vários povos africanos e da ex-URSS a atestar que, a despeito do pomposo rótulo, milhões de pessoas ainda vivem mergulhadas na miséria, no fanatismo e fazendo da violência, que a nada conduz, meio para buscar transformações políticas conseguindo, apenas, semear rancores e destruição.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 10 de maio de 1993).
  

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