Thursday, June 13, 2013

Momento decisivo

Pedro J. Bondaczuk 


A União Soviética vai viver, hoje, um dia decisivo em sua história, quando um projeto de reforma econômica, o verdadeiro cerne da perestroika de Mikhail Gorbachev, vai chegar ao Soviete Supremo, encontrando resistência antecipada dos parlamentares.

É verdade que o plano é mais suave do que o original, esboçado em dezembro de 1989. Ainda assim, é muito duro, pois vai implicar em medidas sumamente impopulares, num período em que o presidente ostenta os mais baixos índices de popularidade desde que chegou à liderança nacional, em março de 1985.

Prevê, por exemplo, a dispensa de até 50 milhões de trabalhadores, uma quantidade mais do que suficiente para provocar uma convulsão social em qualquer outro país que não esteja passando pelas agudas contestações que a superpotência do Leste passa agora.

Além de tudo, vão dobrar os preços dos alimentos. Os economistas do Cremlin asseguram que todo esse contingente que será despedido não ficará entregue à própria sorte. Prometem criar frentes de trabalho que absorvam todos os que ficarem desempregados, em obras de infra-estrutura espalhadas por todo o país.

Falam, inclusive, num “ne4w deal”, citando, textualmente, o programa adotado pelo ex-presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt, que ajudou a população dos EUA a atravessar a duríssima fase da Grande Depressão e partir para uma etapa de imensa prosperidade de que goza há já 60 anos.

Quem diria que um dia nós ouviríamos soviéticos não somente elogiar, mas copiar algum modelo do seu adversário da guerra fria! Pois isto tornou-se possível graças ao realismo e à enorme coragem de um homem tido em seu país como lunático e que o Ocidente, com muita justiça, aprendeu a admirar. Claro que me refiro a Mikhail Gorbachev.

Aliás, vindo desse estadista, nada mais surpreende. Nem o falo dele estar custeando as despesas de uma delegação de empresários e economistas norte-americanos, da qual um dos membros é Jeffrey Sachs (considerado o menino prodígio da sua profissão na atualidade) e assessorada (pasmem) pelo ultraconservador Milton Friedman, para orientar os técnicos soviéticos na implantação das reformas em sua arrebentada economia.

Além do que, pessoas que, no passado, haviam caído em desgraça no Leste europeu, ou que eram freqüentadoras de cadeias, por divergirem de Moscou, agora já passaram pelos gabinetes do Cremlin,  e recebidas com respeito e cordialidade. Sinais dos tempos!

Por exemplo, Lech Walesa, Vaclav Havel e, mais recentemente, Alexander Dubcek estiveram com Gorbachev e saíram impressionados com a humanidade do presidente soviético.

A população da URSS, portanto, ou é suicida, ou ela, sim, ficou totalmente lunática por repudiar esse homem que está procurando trazer sua sociedade para a dura realidade e acabar com o “país das maravilhas” das Alices comunistas.       

(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 24 de maio de 1990).


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