Célula da democracia
Pedro J.
Bondaczuk
Os
jornais de grande circulação do País andaram publicando, recentemente, anúncios
publicitários, de página inteira, conclamando os eleitores a votar em branco ou
a anular o voto nas eleições de 3 de outubro próximo. A campanha, certamente
caríssima, mas sobretudo impatriótica, suscita uma série de questões.
Como
por exemplo: quem está pagando as despesas? Qual o propósito de tamanho
investimento? A quem interessa um impasse institucional nessa altura da vida
nacional? Aos brasileiros, certamente, é que não é.
Aliás,
é bom que se frise, a má qualidade do atual Congresso pode ser atribuída, em
grande parte, ao mau uso do voto nas eleições passadas. Na oportunidade, não
houve campanha para que ele fosse jogado fora. Pelo menos não ostensiva,
pregando abertamente a omissão, como agora.
O
que ocorreu foi um protesto em massa do eleitorado, descontente com as mazelas
que então se verificavam na vida pública, que eram bem menores do que as
atuais. Uma enxurrada de votos brancos e nulos inundou as urnas e candidatos
que normalmente não seriam eleitos, por contarem com currais eleitorais
insuficientes, acabaram conquistando suas investiduras.
Na
oportunidade, nesse mesmo espaço, advertimos para as conseqüências dessa insensatez.
Previmos, não num exercício de futurologia ou lançando mão de alguma hipotética
e infalível bola de cristal, mas escudados em projeções lógicas, o que,
desgraçadamente, está acontecendo no Congresso.
Os
eleitores estariam dispostos a reincidir no erro? Caso atendam à mensagem da
campanha, irresponsável e impatriótica, estarão agindo, mais uma vez, como
inocentes úteis. Farão o jogo dos que não têm cacife para se eleger, numa
votação normal e que acabarão beneficiados, mais uma vez, por uma omissão da
cidadania.
O
escritor James Amado, em seu romando "Chamado do Mar", constata:
"O voto não é apenas um direito, mas um dever precípuo de todos os
cidadãos. Senão vejamos: é com esse pequenino pedaço de papel que depositamos
na urna que se cria e se mantém viva a própria Nação. O voto é como a célula:
pequenino, mas fundamental".
Não
se concebe que ele seja vendido ou trocado por favores. Nem que seja anulado,
não exercido ou dado aleatoriamente a quem não se conheça ou não se confie.
Errar uma vez é humano. Mas duas?! É inconcebível!!
(Artigo publicado na página 2, Opinião,
do Correio Popular, em 27 de março de 1994).
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