Da derrota à prosperidade
Pedro J. Bondaczuk
Os funerais do imperador japonês Hirohito, falecido em 7
de janeiro passado, de câncer intestinal, mais do que uma manifestação de
apreço ao velho monarca, está servindo como uma homenagem do mundo todo à pujança
e ao poderio atuais do império que comandou por tantos anos. Ou seja, os
dignitários de mais de 150 países presentes em Tóquio estão ajudando a sepultar
o passado do Japão, marcado, principalmente, por sua participação na Segunda
Guerra Mundial, de olho em seu presente.
Muitos dirigentes estão ali para
pedir dinheiro para os mais diferentes projetos. José Sarney, por exemplo,
solicitou US$ 5,9 bilhões e talvez consiga trazer US$ 1 bilhão. O representante
mexicano, por seu turno, deseja o respaldo japonês para o alívio da sua imensa
dívida externa.
O da Nicarágua, está pedindo
dinheiro para a construção de uma obra que está na cabeça de muita gente desde
o século passado, ou seja, um canal interoceânico, que substitua o do Panamá.
Os panamenhos, por seu lado, não se conformam, e através do seu presidente,
Manuel Solis Palma, esperam obter financiamento japonês para a abertura de uma
segunda via navegável, paralela à já existente, ligando os oceanos Atlântico e
Pacífico.
Raros são, portanto, os líderes
que se entrevistam com o primeiro-ministro Noboru Takeshita e que não tenham o
seu pedido no bolso. O premier ouve a todos e com a conhecida cortesia
oriental, responde amavelmente.
Uns vão deixar Tóquio levando
alguma coisa para casa. É o caso de José Sarney, que se não obteve tudo o que
pediu, também não saiu de mãos vazias. Outros ouvirão o clássico “vamos
estudar”. Mas, certamente, ninguém vai receber um seco e doloroso “não”
(palavra que o padre Antonio Vieira classificava de “terrível”).
Isso mostra a importância do Japão no mundo contemporâneo,
o que é um atestado à organização, inteligência e espírito de iniciativa (para
não dizer de sua célebre operosidade) desse povo extraordinário.
Afinal, esse país saiu arrasado
da Segunda Guerra Mundial. Foi o único a conhecer o efeito da “arma das armas”
em sua própria carne, a terribilíssima bomba atômica, e em dose dupla. No
entanto, recuperou-se, partiu para a tarefa de reconstrução virtualmente sem
ajuda e reverteu toda a situação.
De grande devedor que era, até há
cerca de duas décadas, é hoje o credor por excelência do mundo todo. De um país
humilhado pela derrota, o Japão é, atualmente, respeitado pela tecnologia que
desenvolve. Por isso, o sepultamento de Hirohito, que também foi responsável
por esse renascimento, fecha, de vez, as portas do passado. E, sobretudo,
projeta um futuro radioso para a proverbial “terra do sol nascente”.
(Artigo publicado na página 11,
Internacional, do Correio Popular, em 24 de fevereiro de 1989).
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