Friday, May 03, 2013


Sucesso de crítica e de vendas

Pedro J. Bondaczuk

O escritor catalão, Carlos Ruiz Zafón, autor do romance “O jogo do anjo” (Editora Objetiva) que acabo de ler, é, sem dúvida, um dos grandes astros literários da Espanha. Não estou afirmando que seja “melhor” ou “pior” do que este ou aquele, porquanto essa é uma avaliação subjetiva, que não faço e nunca farei. Objetivamente, porém, com base exclusivamente em fatos, em cifras e em dados, posso afirmar que o relativamente jovem romancista (tem 49 anos de idade), é sucesso editorial, quer de crítica, quer de vendas. Não ficarei, pois, nada surpreso se vier a conquistar o Prêmio Nobel de Literatura, ou de 2013, ou de 2014 ou nos próximos anos, embora nunca se saiba quais são os critérios dos jurados responsáveis por essa premiação.

Com base em informações colhidas na enciclopédia eletrônica Wikipédia, fiquei sabendo que Zafón teve trabalhos publicados em 45 países, traduzidos para 30 idiomas. Nesse aspecto, superou Javier Sierra e Juan Gómez-Jurado, que até não muito eram os escritores espanhóis mais divulgados em âmbito internacional. O primeiro publicou seus livros em 42 países e o segundo em 41. Por favor, não interpretem essa informação como se eu estivesse afirmando que Zafón é “melhor” do que Sierra e Jurado. E nem que seja pior. Digamos que ele é “diferente”, ok?

Sua carreira literária, pode-se dizer, vem sendo meteórica. Começou em 1993, com a publicação do seu primeiro livro, “O príncipe da névoa”. No ano anterior, demitiu-se de uma importante agência de publicidade, onde exercia a função de diretor de criação, para dedicar-se exclusivamente à Literatura. Foi um risco, sem dúvida. A possibilidade de produzir logo de cara uma obra que pelo menos não encalhasse nas prateleiras das livrarias e, principalmente, que interessasse alguma editora para publicá-la, não era das maiores. Pelo contrário. Não que lhe faltasse talento (o que ele vem provando que tem, nestes dez anos de sucessão de best-sellers que vem emplacando), mas poderia não ter, por exemplo, oportunidade de publicar. Nem todo sujeito talentoso consegue provar isso logo de cara, na primeira tentativa. Aliás, a imensa maioria não consegue.

O primeiro livro de Zafón foi de fantasia, terror e aventura, voltado, especificamente, à faixa adolescente. Agradou de cara. Foi sucesso imediato. Além de receber a aprovação da crítica, conquistou o prestigioso prêmio “Edebé de Literatura Juvenil”. E a premiação não foi, como tantas que há por aí, consistente só de um diploma, talvez um troféu, e nada mais. Valeu-lhe a considerável quantia de três milhões de pesetas, importância que não é para se desprezar.

No ano seguinte, o escritor decidiu usar esse dinheiro ganho de prêmio para cumprir um sonho de criança. Ele explicou qual era, em recente entrevista: “Quando eu era pequeno, tinha fixação pelo cinema clássico norte-americano e pelo mundo do jazz. Dizia, aos meus amigos: ‘Quando crescer, vou viver em Los Angeles’”. E foi o que fez nesse ano. Mudou-se, de mala e cuia, para a Califórnia, mais especificamente, para Hollywood, a “Meca” do cinema, onde não tardou em ser contratado como roteirista, função que ainda exerce, e há já nove anos.

Todavia, Carlos Ruiz Zafón não parou de produzir romances, agora (desde 2001) voltados ao público adulto, com a publicação de “A sombra do vento”, história ambientada (a exemplo de “O jogo do anjo”), numa Barcelona gótica, mas de uma época diferente: do pós-guerra. Praticamente uma vez por ano, o escritor licencia-se do estúdio em que trabalha e volta à capital da Catalunha, onde conserva seu gabinete de trabalho, para escrever um novo livro. E, até aqui, nenhum deles, mas nenhum mesmo, foi fracasso, nem de crítica e nem de vendas. Pelo contrário. Segue batendo recordes sobre recordes, constituindo-se num dos grandes fenômenos editoriais não apenas da Espanha, mas da Europa e do mundo.

Daí dedicar-lhe tanto espaço, até para reparar minha carência de informação a seu respeito, pois somente tomei conhecimento da sua existência após a leitura de “O jogo do anjo”. Justo eu que me considerava tão bem informado sobre o que ocorre no mundo literário em âmbito internacional!!! Pudera! É tanta gente nova, e boa, que surge da noite para o dia que, não raro, mesmo contando com o recurso da internet, acabo “comendo mosca” a respeito. Proponho-me a ser mais atento.

O estilo de Zafón – principalmente por misturar realidade com surrealidade – lembra, posto que remotamente, o de Jorge Luís Borges. Devo, porém, dar o devido crédito a quem fez, pela primeira vez, essa comparação. Foi o jornal “The New York Times”, ao comentar o romance “A sombra do vento”, que ficou 247 semanas (pouco mais de quatro anos consecutivos) na lista dos dez livros mais vendidos na Espanha. No mundo, suas vendas alcançaram a dez milhões de exemplares.

Alertado pelo “The New York Times”, fui conferir se o estilo de Zafón  tinha pelo menos alguma semelhança com o de Borges. E tem. Ao ler e analisar “O jogo do anjo”, cheguei à conclusão que sim, o que, óbvio, não o desmerece, antes o qualifica muito mais. O pitoresco é que, embora atuando como roteirista de cinema, o escritor catalão não concordou com a adaptação de nenhum dos seus romances para as telas, a despeito das muitas, e tentadoras, ofertas que recebeu. Como todo escritor, Zafón também tem lá suas manias. Por exemplo, escreve sempre à noite, varando madrugadas de olho na tela do computador. Da minha parte, prefiro redigir de manhã, com a mente descansada, após boa noite de sono.

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