Sucesso de crítica e de
vendas
Pedro
J. Bondaczuk
O escritor catalão,
Carlos Ruiz Zafón, autor do romance “O jogo do anjo” (Editora Objetiva) que
acabo de ler, é, sem dúvida, um dos grandes astros literários da Espanha. Não
estou afirmando que seja “melhor” ou “pior” do que este ou aquele, porquanto
essa é uma avaliação subjetiva, que não faço e nunca farei. Objetivamente,
porém, com base exclusivamente em fatos, em cifras e em dados, posso afirmar
que o relativamente jovem romancista (tem 49 anos de idade), é sucesso
editorial, quer de crítica, quer de vendas. Não ficarei, pois, nada surpreso se
vier a conquistar o Prêmio Nobel de Literatura, ou de 2013, ou de 2014 ou nos
próximos anos, embora nunca se saiba quais são os critérios dos jurados responsáveis
por essa premiação.
Com base em informações
colhidas na enciclopédia eletrônica Wikipédia, fiquei sabendo que Zafón teve
trabalhos publicados em 45 países, traduzidos para 30 idiomas. Nesse aspecto,
superou Javier Sierra e Juan Gómez-Jurado, que até não muito eram os escritores
espanhóis mais divulgados em âmbito internacional. O primeiro publicou seus
livros em 42 países e o segundo em 41. Por favor, não interpretem essa
informação como se eu estivesse afirmando que Zafón é “melhor” do que Sierra e
Jurado. E nem que seja pior. Digamos que ele é “diferente”, ok?
Sua carreira literária,
pode-se dizer, vem sendo meteórica. Começou em 1993, com a publicação do seu
primeiro livro, “O príncipe da névoa”. No ano anterior, demitiu-se de uma
importante agência de publicidade, onde exercia a função de diretor de criação,
para dedicar-se exclusivamente à Literatura. Foi um risco, sem dúvida. A
possibilidade de produzir logo de cara uma obra que pelo menos não encalhasse
nas prateleiras das livrarias e, principalmente, que interessasse alguma
editora para publicá-la, não era das maiores. Pelo contrário. Não que lhe
faltasse talento (o que ele vem provando que tem, nestes dez anos de sucessão
de best-sellers que vem emplacando), mas poderia não ter, por exemplo, oportunidade
de publicar. Nem todo sujeito talentoso consegue provar isso logo de cara, na
primeira tentativa. Aliás, a imensa maioria não consegue.
O primeiro livro de
Zafón foi de fantasia, terror e aventura, voltado, especificamente, à faixa
adolescente. Agradou de cara. Foi sucesso imediato. Além de receber a aprovação
da crítica, conquistou o prestigioso prêmio “Edebé de Literatura Juvenil”. E a
premiação não foi, como tantas que há por aí, consistente só de um diploma,
talvez um troféu, e nada mais. Valeu-lhe a considerável quantia de três milhões
de pesetas, importância que não é para se desprezar.
No ano seguinte, o
escritor decidiu usar esse dinheiro ganho de prêmio para cumprir um sonho de
criança. Ele explicou qual era, em recente entrevista: “Quando eu era pequeno,
tinha fixação pelo cinema clássico norte-americano e pelo mundo do jazz. Dizia,
aos meus amigos: ‘Quando crescer, vou viver em Los Angeles’”. E foi o que fez
nesse ano. Mudou-se, de mala e cuia, para a Califórnia, mais especificamente, para
Hollywood, a “Meca” do cinema, onde não tardou em ser contratado como
roteirista, função que ainda exerce, e há já nove anos.
Todavia, Carlos Ruiz
Zafón não parou de produzir romances, agora (desde 2001) voltados ao público
adulto, com a publicação de “A sombra do vento”, história ambientada (a exemplo
de “O jogo do anjo”), numa Barcelona gótica, mas de uma época diferente: do
pós-guerra. Praticamente uma vez por ano, o escritor licencia-se do estúdio em
que trabalha e volta à capital da Catalunha, onde conserva seu gabinete de
trabalho, para escrever um novo livro. E, até aqui, nenhum deles, mas nenhum
mesmo, foi fracasso, nem de crítica e nem de vendas. Pelo contrário. Segue
batendo recordes sobre recordes, constituindo-se num dos grandes fenômenos editoriais
não apenas da Espanha, mas da Europa e do mundo.
Daí dedicar-lhe tanto
espaço, até para reparar minha carência de informação a seu respeito, pois
somente tomei conhecimento da sua existência após a leitura de “O jogo do
anjo”. Justo eu que me considerava tão bem informado sobre o que ocorre no
mundo literário em âmbito internacional!!! Pudera! É tanta gente nova, e boa,
que surge da noite para o dia que, não raro, mesmo contando com o recurso da
internet, acabo “comendo mosca” a respeito. Proponho-me a ser mais atento.
O estilo de Zafón –
principalmente por misturar realidade com surrealidade – lembra, posto que
remotamente, o de Jorge Luís Borges. Devo, porém, dar o devido crédito a quem
fez, pela primeira vez, essa comparação. Foi o jornal “The New York Times”, ao
comentar o romance “A sombra do vento”, que ficou 247 semanas (pouco mais de
quatro anos consecutivos) na lista dos dez livros mais vendidos na Espanha. No
mundo, suas vendas alcançaram a dez milhões de exemplares.
Alertado pelo “The New
York Times”, fui conferir se o estilo de Zafón
tinha pelo menos alguma semelhança com o de Borges. E tem. Ao ler e
analisar “O jogo do anjo”, cheguei à conclusão que sim, o que, óbvio, não o
desmerece, antes o qualifica muito mais. O pitoresco é que, embora atuando como
roteirista de cinema, o escritor catalão não concordou com a adaptação de
nenhum dos seus romances para as telas, a despeito das muitas, e tentadoras,
ofertas que recebeu. Como todo escritor, Zafón também tem lá suas manias. Por
exemplo, escreve sempre à noite, varando madrugadas de olho na tela do
computador. Da minha parte, prefiro redigir de manhã, com a mente descansada,
após boa noite de sono.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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